segunda-feira, 23 de novembro de 2009


PROMOVER O BEM COMUM

*Helio e Selma Amorim

Essa é uma tradução mais moderna da promoção do desenvolvimento, como missão da família, expressão cunhada no tempo do desenvolvimentismo, em que a felicidade humana viria do desenvolvimento econômico das nações, com suas conquistas nos campos técnico e científico. Hoje, entendemos que o ideal sempre perseguido é a realização do bem comum, para o qual contribui, mas não basta, o desenvolvimento econômico.

As famílias cujos membros possuem uma forte sensibilidade social e são iluminados por um rico humanismo, assumem a promoção do bem comum como uma exigência de consciência de que não podem fugir. Essa sensibilidade e consequentes desafios são transmitidos pelos pais aos filhos e vice-versa. Assim, a família é um espaço muito apropriado para animar seus membros e formá-los para as tarefas orientadas para o bem comum.

Essa tomada de consciência começa pela constatação da iniquidade do modelo de sociedade em que vivemos, que marginaliza e exclui famílias dos benefícios do progresso, condenando-as a apenas vender a sua força física para a sobrevivência biológica. Frente a essa realidade visível, a família deverá desenvolver e alimentar em seus membros uma forte indignação e inconformismo. Tentarão descobrir os papéis que devem desempenhar e caminhos a trilhar para contribuir com as mudanças socioeconômicas e políticas capazes de reverter esse quadro intolerável.

Esse compromisso corresponde à essência do ser cristão. Entretanto, não é apenas dos cristãos. Também os não-cristãos, talvez mesmo mais numerosos, estão empenhados nessa missão humanizadora comum. Uns e outros estão muitas vezes dispostos a dar a vida nessa luta, às vezes desigual e perigosa. A única diferença entre os que assumem a luta é que o cristão sabe tratar-se do projeto humanizador de Deus, que ultrapassa as conquistas no campo sociopolítico para se projetar na eternidade. Prometida e já assegurada para todos, cristãos e não-cristãos comprometidos com a justiça e a humanização.

Por conhecer o significado transcendental dessa luta pelo bem comum, são maiores as responsabilidades e a confiança do cristão. Ele também sabe que as conquistas ao longo da história humana serão sempre limitadas, frente à plenitude da humanização garantida para a vida futura, no encontro ainda misterioso com Deus.

Assim, tendo aceito ser cristão, pelo dom gratuito da fé, os cristãos não podem fugir dessa responsabilidade com o bem comum. Na família, a consciência desse compromisso pode e deve ser alimentada, e não sufocada pelo medo dos riscos que envolve. Nem alienada pelos apelos ao conformismo, tão poderoso no modelo de sociedade em que vivemos.

O desafio é alimentar o profetismo do cristão. Profeta não é o que prevê o futuro mas aquele que conhece o projeto de Deus e anuncia essa boa nova, denunciando corajosamente tudo o que se opõe à sua realização na história humana.

Ora, a luta por transformações sociais para a construção de um mundo mais humano, justo, fraterno e igualitário passa necessariamente pela ação política e a educação para todos. São tarefas nobres, como líamos na Octogesimo Adveniens, para as quais as famílias são chamadas a preparar e engajar seus membros. Trata-se de ser político e educador em qualquer situação de vida familiar, social ou profissional, não sendo a sala de aula ou o partido político as únicas opções. Além do mundo da família, não faltam organizações sociais intermediárias que tornem mais fecundo o engajamento do cristão nessas práticas transformadoras.

*Membros do MFC Movimento Familiar Cristão, Diretores do INFA Instituto da Família.