quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

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O ENFRAQUECIMENTO DA AUTORIDADE DOS PAIS

Nem eu, nem você, podemos negar as vertiginosas transformações do meio sócio-cultural e da estrutura familiar. Dia a dia constatamos mudanças nas formas de relacionamento humano. Enxergamos, a olho nu, a crise de autoridade que assola o mundo e se estende para dentro da família. Ficamos perplexos, pois estamos convictos de que a autoridade é imprescindível a todo sistema bem constituído. Até mesmo Freud afirmava que os humanos necessitam imperiosamente de uma autoridade na qual possam apoiar-se.

A DESSACRALIZAÇÃO DA AUTORIDADE
É interessante revisarmos um pouco da história e assim entendermos como a autoridade foi perdendo terreno na sociedade e na família. Talvez possamos compreender melhor que muito do que havia na família do passado era autoritarismo, e que a luta contra ele em nada justifica a ausência de autoridade nos dias de hoje.

Na cultura tradicional vigorava a autoridade forte na relação do Estado com os súditos e no ambiente da família. Esta autoridade provinha de valores, costumes, normas. A perda de autoridade dos governantes, envolvidos com a corrupção e incapazes de proteção e da manutenção da paz, modificou esta situação, que sofreu um colapso. Diante da dessacralização da autoridade política, a família entrou em crise...
  
Roudinesco, em a “A família em desordem” (2003), analisa a família em três fases evolutivas: a primeira, dita “tradicional", era regida pelo poder do pai, como transposição direta do direito divino dos reis para o seio do privado, ou, dito de outra forma, o pai recebia o poder do rei, que, por sua vez, o recebia diretamente de Deus; a segunda, fase “moderna", é regida por uma lógica romântica, onde o casal se escolhe sem a interferência de seus pais, procurando uma satisfação amorosa, dividindo o poder e o direito sobre os filhos entre os pais e o Estado e/ou entre pais e mães. Finalmente, a terceira fase, "família contemporânea ou pós-moderna", onde a transmissão da autoridade vai ficando cada vez mais complexa em função das rupturas e recomposições que a família vai sofrendo.

A família “tradicional", submetida ao poder paterno, manteve-se por séculos e veio a abalar-se com a Revolução Francesa, que, ao propor um mundo laico, atingiu a até então inatacável figura de Deus Pai e seus sucedâneos, os reis. Estes são dessacralizados e destituídos, enfraquecendo conseqüentemente os pais, que eram seu equivalente no seio dos lares. Esse modelo familiar desmoronou definitivamente no final do Século XIX. E a autoridade restou fragilizada.

RESGATANDO A AUTORIDADE DOS PAIS
A autoridade de um pai, ou de uma mãe, se fundamenta num conjunto de valores por eles vividos, como por exemplo, falar a verdade, tratar o próximo com justiça, evitar excesso de bebidas alcoólicas, controlar a agressividade, dialogar, dar poder responsável aos filhos, não roubar, viver em paz com todos, ser solidário, etc. São esses valores e princípios que dão legitimidade às relações de mando e obediência. Sem eles os pais não têm “autoridade” para pedir a um filho que cumpra suas ordens.

A autoridade não é uma qualidade da pessoa, ela pertence ao reino da qualidade da relação: mantém-se, perde-se e recupera-se pelo modo de comportar-se. Para recuperar a autoridade, comece-se por melhorar, e muito, o comportamento e as relações dos próprios pais.

A autoridade é uma arma nas mãos de pais e educadores. Tanto o excesso (autoritarismo) como sua insuficiência (lassidão) constituem traumatismos afetivos cujos efeitos recaem sobre a personalidade da criança. São prejudiciais o rigor exagerado, a disciplina pétrea, as regras descabidas, mas, também o são a frouxidão, a folga, a ausência de limites e de firmeza em exigir o cumprimento da regra saudável. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema. É preciso por o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os efeitos anti-sociais, como a violência, por exemplo.

Uma das primeiras coisas que o ser humano aprende é que não pode tudo: muitas vezes na vida se sentirá frustrado e deprimido. É fundamental que desde criança viva experiências de frustração e que aprenda a tolerá-las e a administrá-las. Entretanto, reconheço que as experiências de êxito também são absolutamente necessárias.

O que os pais jamais poderão esquecer é que o afeto e a autoridade não são antagônicos, pelo contrário, são as muletas sobre as quais se apóia a personalidade vacilante do filho, da filha. Importa lembrar que o que respalda a autoridade dos pais é o tipo de vida que levam: eles não podem pedir aos filhos que façam o que eles mesmos não crêem e não cumprem.