quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DURAÇÃO DO CASAMENTO: UM DESEJO OU UM SONHO?

DURAÇÃO DO CASAMENTO: UM DESEJO OU UM SONHO?

Um dos antídotos mais naturais à nossa angústia de morte é fundar uma família e tornar-se alguém importante na sucessão das gerações. Todos os enamorados, segundo sua linguagem e sua cultura, experimentam um sentimento de eternidade e de plenitude no encontro amoroso.

O desejo de durar está ali na origem do casal, que nasce do prazer de sonhar junto, de uma vida em comum. Um casal que não sonha mais junto, que não mais constrói projetos comuns, que não investe em seu futuro conjugal, é um casal que está morrendo.

Será suficiente sonhar junto para que tudo ande bem? Infelizmente, não.

É necessário, mas não suficiente. Se o casal não acredita que sua felicidade é realizar seu sonho, então o sonho se torna ilusão; se o casal não se ajuda mutuamente com coragem e tenacidade, perseguindo a realização, o sonho aborta, vem a desilusão.

Tome como exemplo este casal modesto que vive num apartamento com seus dois filhos. Seu sonho? Uma casa com jardim. Põe todas suas economias para comprar um terreno. Ele, que é do ramo, vai construir sua casa: não há mais fins de semana, nem férias, e ele faz duplas jornadas, mas avança. Quando sua mulher lhe pede que pare um pouco, não se importando se a casa atrasar, ele não a entende e continua. Neste momento, a casa deixa de ser o sonho dos dois, passa a ser o sonho dele que o mobiliza completamente a ponto de por em perigo sua felicidade conjugal, sua família.

A vigilância e a reflexão são sempre necessárias para ajustar sonho e realidade. De sonhos loucos a sonhos mais sábios, o casal ultrapassa etapas no caminho da maturidade, vive, dura.

MAS POR QUE MUITOS CASAMENTOS NÃO DURAM?
Se o desejo de durar está inscrito na origem de todo casal, mantê-lo demanda muita energia de cada um. Ninguém pode reter à força seu companheiro ou, mais exatamente, constrangê-lo a amá-la. Pode mesmo haver casais que ainda vivem juntos, mas o casal está morto.

Vivemos uma época onde a necessidade de duração não é mais uma condição para assumir a aventura de uma vida a dois. Roussel, demógrafo da família, nos diz “O casal mudou mais em dez anos do que em um século, a coabitação se generaliza, a taxa de divórcios aumenta... Portanto, a família é mais do que nunca uma referência, mas o casal tornou-se um pacto associativo que comporta uma implícita cláusula de ruptura”.

Paradoxo: Ao mesmo tempo em que o casal permanece sendo a chave da felicidade compartilhada e um refúgio em um mundo profissional e social incerto e pouco terno, o engajamento com duração parece uma loucura.

Vive-se junto, casa-se, sem querer projetar-se para o futuro: Vamos ver se isto vai durar! No fundo de cada um está a hipótese do divórcio, da ruptura que cada qual parece não saber esconjurar. Por quê? As causas são múltiplas: Medo, dúvida de si e do outro, meio (ilusório!) de se proteger contra um acontecimento doloroso, meio de desculpabilizar-se de antemão, hábito de assegurar-se contra tudo, conseqüências de feridas anteriores que impedem o nascimento da confiança. Elas vêm da história de cada um e são também alimentadas por nosso modelo de sociedade.

UM ATO DE FÉ
A aventura do casal é antes de tudo um ato de fé. Mas que, por vezes, é difícil. Como perseverar sem acreditar que isto é possível? Com efeito, um dos lados perversos da dúvida é que ela não dinamiza os cônjuges para ultrapassarem as primeiras dificuldades, as crises normais do casal.

Certos casais vivem sua enésima experiência conjugal. Vendo que encontram os mesmos problemas, eles se interrogam e procuram compreender... e dão-se conta que seu primeiro casal poderia ter ultrapassado as dificuldades tão bem quanto o atual, se eles não tivessem sido tão rápidos em acreditar que seria impossível...

PARA TERMINAR
Lembremos que o divórcio se transforma em grande sofrimento, destrutivo de uma parte de si por cada um dos cônjuges. Com certeza, há divórcios que trazem alívio, quando a relação é dominada por elementos patológicos e mortíferos. Mas, na maior parte dos casos, a ruptura é vivida num movimento depressivo. Segundo a duração e a intensidade de sua vida conjugal, cada cônjuge deixa no outro uma parte de si; dor que se junta à perda do casal, perda de um espaço onde cada um acreditava tratar suas feridas e abrir-se em maior intimidade.

Intimamos a todos os casais, quer sejam debutantes, quer sejam mais idosos, a meditar esta reflexão de Pablo Neruda: “Eu te amo a fim de começar a te amar”, eterno começo, infinitamente insondável, do amor...
Baseado em texto de D. Balmelle, revista Alliance