segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ANIVERSARIANTE DO DIA - INÊS DE MARCO MOTA

ANGÚSTIA SOCIAL - Artigo de Suzy Maurício


ANGÚSTIA SOCIAL

Para Freud, a angústia é emoção, frente à perda e à separação, ao perigo interno ou externo, originários da sensação e do sentimento de angústia. Lacan pontua a angústia do ser humano como afeto que decorre de uma impossibilidade (específica), uma vez que somos cindidos, conflitantes e conscientes da nossa própria incompletude, carregamos em nós uma perturbação de que continuamente nos falta algo. De estarmos entrelaçados ao outro, às suas ações, à sua plenitude ilusória, e à nossa impossibilidade de ser.

A noção de finitude humana, a liberdade cerceada, a espera não atendida (frustração) dos desejos, a busca pela felicidade completa, o outro como objeto de construção dos anseios humanos e solução para os problemas cotidianos, conduz-nos ao estado de angústia, em alguns de nós, em maior grau, comprometendo nossa saúde mental.

O social, de brutalidade diária, violência desenfreada, miséria exposta, violações aos direitos humanos, limite à sua liberdade de ir e vir, risco iminente de assaltos e mortes (nas ruas, nas escolas, nos lares, etc.), corroboram para uma angústia pública, a de todos nós, e para o aumento dos nossos conflitos e faltas.

Como podemos sentir felicidade se ao redor as pessoas vivem nas ruas, sem lar, entregues ao tráfico (de entorpecentes e o humano), crianças e adolescentes violadas em seus direitos, desprotegidos pelo estado, a vagar sem família, sem um amanhã, assassinadas à luz do dia, e tantos outros crimes sem solução. A angústia é coletiva, contudo, diante de mortes coletivas, como as de Feira Grande-AL, berço da minha história.

Como sentimo-nos completos, enquanto tantos mendigam e reviram os lixões para saciar a fome? Sendo espectadores dos dramas humanos, de uma gente cuja única morada e seus bens materiais foram tragados pela enchente, amargando anos sem um teto digno para dormir e se proteger do sol e da chuva? Diante dos que padecem, à míngua, nas portas das urgências dos hospitais públicos à espera da saúde que não é para todos.

Como estarmos bem, se nossa liberdade de ir e vir está ameaçada pela insegurança pública? Seguimos em nosso lar, ansiosos, entre cercas e sensores elétricos, enclausurados em nossa ‘prisão’ particular. Olhar a rua, passear no parque, andar de bicicleta, à pé, de carro, de ônibus, tornou-se aflição e risco de vida.

Talvez a maior definição de ANGÚSTIA tenha sido dada por Aurélio, em seu dicionário: “Redução, restrição, ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia, tormento, tribulação”.

Que Deus possa nos dar a paz, a sanidade necessária para seguir em frente e diante de tantos infortúnios. Que não sejamos omissos e façamos do lamento a ação: buscar e gritar por socorro, fazer valer nossos direitos, o maior deles é o de existir dignamente.

Que hoje (e em todos os dias), na ceia natalina, possamos refletir sobre o nosso igual, abrir o coração para a fraternidade, a caridade, a fé em Deus, o perdão. Dediquemos um pouco do nosso tempo e ajudemos a quem precisa, com um pão um abraço, um olhar, dando as mãos.

Fonte: http://suzymauricio.blogsdagazetaweb.com


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