DAÍ-LHES VÓS MESMOS DE COMER!
A comunidade cristã enquanto testemunha de Cristo é chamada a ser espaço da partilha e da solidariedade. Por isso, ao conduzir a humanidade para Cristo pela eucaristia e pela prática da justiça, a Igreja deve alimentá-la em sua fome de pão e de vida. Dessa forma ela se revelará sacramento de salvação.
18º domingo do tempo comum
1ª Leitura: Leitura do Livro do Profeta Isaías 55, 1-3
Salmo: 144
2ª Leitura: Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos 8, 35.37-39
Evangelho: Mateus 14, 13-21
EVANGELHO – MATEUS 14, 13-21
Naquele tempo, quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé.
Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes.
Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: "Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!"
Jesus porém lhes disse: "Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!"
Os discípulos responderam: "Só temos aqui cinco pães e dois peixes".
Jesus disse: "Trazei-os aqui".
Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção.
Em seguida partiu os pães e os deu aos discípulos.
Os discípulos os distribuíram às multidões.
Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios.
E os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Palavra da Salvação – Glória a vós, Senhor.
HOMILIA – Dom Henrique Soares da Costa
A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
Hoje o Evangelho nos apresenta Jesus como a plenitude da compaixão de Deus no nosso meio. Multiplicando os pães, ele realiza de modo pleno aquilo que Moisés e Elias, os mesmos personagens da Transfiguração, representantes da Lei e dos Profetas, já haviam realizado: Moisés deu de comer ao povo no deserto; Elias sustentou com alimento a viúva de Sarepta durante todo o tempo da seca em Israel. Ora, Jesus é aquele que nos alimenta em plenitude, é o Messias prometido a Israel e à humanidade. Como o Bom Pastor, de que fala o Salmo, ele faz seu rebanho descansar na relva mais fresca e lhe prepara uma mesa. Seu alimento não se reduz ao pão. Primeiro nos alimenta porque sente compaixão de nós, de nossa pobreza e indigência: "Viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes". Mais do que de pão, é de amor, de ternura e compaixão que o Senhor nos alimenta! Alimenta-nos também com sua Palavra de vida eterna: vê a multidão cansada e abatida como ovelhas sem pastor e ensina-lhe, fala do Reino até o entardecer... Olhando o nosso Salvador, vemos cumprir-se nele o convite tão terno, tão comovente do Deus de Israel: "Ó vós todos que estais com sede, vinda às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, cinde comprar sem dinheiro, e alimentai-vos bem, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga!'
Que belo convite! Num mundo no qual tudo é pago, tudo gira em torno do lucro, tudo tem a preocupação do retorno econômico e do interesse (até nas seitas por aí a fora, o dízimo é a chave de entrada no céu), o Senhor se revela graciosamente! Quem dera, o mundo compreendesse esse amor apaixonado de Deus que se manifesta em Jesus! Quem dera se reconhecesse faminto e sedento! Quem dera se deixasse interpelar: "Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção e alimentai-vos bem! Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida!" Infelizmente, o nosso é um mundo cansado, mas também auto-suficiente, prepotente, que pensa poder sozinho, do seu modo se saciar e viver de verdade! Também nós, nas nossas pobrezas, tanta vez fugimos do Senhor, ao invés de correr para ele, nosso Poço, nossa Água, nosso Pão, nosso Refrigério!
Mas, nós, cristãos, sabemos que em Cristo Jesus encontra-se a vida, encontra-se o verdadeiro caminho, a verdadeira vida do mundo! É isso que São Paulo exprime com palavras comoventes: "Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!" É por essa experiência do amor tão terno e presente de Jesus na nossa vida que somos cristãos! Deixemo-nos saciar pelo Senhor e experimentaremos que "nem a morte, nem a vida, nem o presente nem o futuro, nem outra criatura qualquer, será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor!"
Caríssimos, a verdadeira Boa-Nova para o mundo atual é esta: o amor terno e próximo de Deus, manifestado em Jesus Cristo! Mas, atenção: somente poderemos ser testemunhas de tal amor se nós mesmos nos deixarmos tocar e envolver pela ternura do Cristo! Atendamos, portanto, ao seu convite de ir gratuitamente a ele, apesar de nossas pobrezas! Deixemos que ele nos alimenta e sacie de vida e de paz!
Não esqueçamos também que, sobretudo na Eucaristia essa vida, essa alimento, essa paz vêm a nós! Neste Ano Eucarístico, sintamo-nos convidados pela Igreja a recobrar nossa devoção e piedade eucarísticas. Primeiro pela participação consciente e piedosa da Santa Missa todos os domingos. Mas, também pela adoração ao Santíssimo Sacramento. Aí o Senhor Jesus nos espera para nos falar ao coração e encher-nos da sua paz. Estejamos atentos a alguns aspectos desse carinho pela presença eucarística de Cristo. Eis alguns pontos para nossa meditação: (1) como está minha participação na Missa? (2) Tenho consciência do que é a Missa? Compreendo que ela é o sacrifício de Cristo tornado presente no Altar para vida nossa e do mundo inteiro? (3) Tenho respeito pela presença de Cristo na Eucaristia? Quando entro na Igreja, dobro meu joelho ante o Santíssimo? Detenho-me em adoração ou fico conversando e disperso? (4) Tenho reservado alguns minutos durante a semana para uma visita ao Santíssimo Sacramento, para falar-lhe em espírito e verdade, como um amigo ao outro amigo?
Eis, meus caros! Procuramos vida e realização em tantas bobagens! A Vida, a Realização, é Jesus que se dá a nós no Altar e por nós espera no sacrário! Saibamos valorizar esse Dom tão grande: "Ó vós todos que estais com sede, vinda às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, cinde comprar sem dinheiro, e alimentai-vos bem, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga!' Que o Senhor nos dê a graça de aceitar seu convite! Amém
ORAÇÃO
Pai, que a vivência da comunhão e da fraternidade na fé nos leve a superação do egoísmo, para que vivendo a partilha sejamos corresponsáveis uns pelos outros. Amém!