quinta-feira, 21 de outubro de 2010





A RELAÇÃO MARITAL E PARENTAL NA PÓS-MODERNIDADE

A sociedade pós-moderna é a modernidade avançada, aquela da família do hoje e do amanhã, profundamente atingida pelas revoluções da ciência, da economia e do próprio entendimento de sociedade.

Todas as relações pessoais, destacando-se as conjugais, sofrem profundas mudanças.

Na sociedade pós-moderna, não mais se aceita uma relação de dominação; a “negociação” torna-se uma norma e tende a “democratizar” não somente as relações entre os cônjuges, mas também entre pais e filhos. A relação entre marido e mulher é hoje baseada sobre um tipo de amor que permite às pessoas decidirem livremente sobre como querem viver o dia a dia juntas, como será sua comunicação e como vão colaborar mutuamente.

Foi-se o tempo do casamento que mais parecia uma prisão de alta segurança, fechando-se uma vez por todas sobre a mulher. Atualmente, a relação entre dois adultos é opcional e igualitária. Os arranjos não mais são fixados por convenção, mas trabalhados pelo casal sem medo do olhar dos outros e até mesmo do que dizem ou deixam de dizer. Seu objetivo não é mais satisfazer a ordem social, mas satisfazer as necessidades e as aspirações pessoais.

A RELAÇÃO TORNA-SE MAIS INSTÁVEL
Se a relação marital pode ser de grande qualidade porque traduz uma intimidade profunda, também pode tornar-se mais instável, pois está continuamente sujeita a reavaliações. Se um dos membros do casal se sente enganado por uma ou outra razão, ele tende a substituir o outro por um companheiro mais compatível. Os cônjuges estão engajados num “projeto de construção de si mesmos”, de construção de sua identidade, implicando um permanente crescimento pessoal, por isso estão sujeitos a muitas avaliações e mudanças. Exigem respeito à individualidade e disso não abrem mão.
A taxa elevada de divórcios ou de separações, além de outros motivos, também pode ser um indicador da queda de um casamento que se reduzia a um projeto econômico ou de vivência do amor romântico, e caminha para um amor opcional e igualitário. Este requer democracia, igualdade e engajamento num projeto de construção de si.

A IDENTIDADE VAI SE FAZENDO E REFAZENDO...
Cada um dos companheiros está ciente de que pode fazer e refazer sua identidade. Ninguém é um produto terminado, já que há uma permanente possibilidade de melhorar e de se realizar. A identidade tem um passado e um vir a ser, e seu ponto central, a autenticidade, raramente é atingida de uma vez por todas. Tornar-se uma pessoa de modo próprio, e não somente na aparência, não é coisa fácil e nem mesmo definitiva.

Tudo aquilo que tende a impedir o crescimento da própria identidade torna-se insuportável na relação pós-moderna. Por isso, a intimidade moderna é marcada por uma igualdade não somente econômica, mas também psíquica e afetiva.  O poder desigual já não é aceito, e pode levar ao divórcio, pois a pessoa luta por livrar-se do poder abusivo do outro.

A RELAÇÃO CONJUGAL ACONTECE ENTRE DOIS “EUS” SOBERANOS
A idéia de ter uma vida para si é relativamente nova para a mulher, sobretudo para as mães que descobrem a possibilidade de cuidar do seu eu para não correr o risco de tornar-se o apêndice do outro.

As mulheres descobriram que o suporte contemporâneo da identidade, depois da industrialização, é o trabalho remunerado. Não há, pois, a possibilidade para uma identidade de funcionar num vazio social. As mulheres já não querem declarar-se dependentes e vulneráveis; elas reivindicam mais qualidades associadas tradicionalmente aos homens.

As mulheres não são mais somente esposas ou mães, mas cidadãs. Elas estão impondo progressivamente a democracia na esfera íntima como, antes delas, os homens na esfera pública. Os afazeres domésticos começam a perder, lenta, mas seguramente, seu valor simbólico mesmo entre casais clássicos. Os homens cuidam as crianças e fazem o trabalho doméstico sem sentir-se diminuídos em sua identidade masculina.

O valor da igualdade tornou-se o princípio algébrico da democracia fora e dentro de casa.

Tanto que a partir dos anos 80, o uso do termo “parentalidade” toma força, embora até hoje não se tenha clareza sobre sua conceituação. O termo traz embutido o sentido de “construção” (não se nasce pai ou mãe, a gente se torna pai ou mãe) e, segundo, traz o sentido de “indiferenciação”, isto é, o termo serve para os dois sexos; o que interessa é ser bons pais, pouco importando o sexo. Parentalidade é o processo através do qual nos tornamos pais do ponto de vista psíquico, conceito que abrange ambos os pais.

Isto é indicador da morte de papéis estereotipados e do surgimento de papéis novos, inventivos e originais para ambos os cônjuges.