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terça-feira, 2 de julho de 2013
A TRISTE PARTIDA
A TRISTE
PARTIDA
O
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sertão nordestino vive, nestes anos de 2012 e
2013, mais uma terrível seca. O drama e os sofrimentos do sertão, apesar de sabermos
de todas as manipulações políticas, marcam a história e a personalidade dos
sertanejos. É mais penoso, porém, saber que bem perto correm as águas de um
grande rio sem braços, contudo, para alcançar as populações quase ribeirinhas.
Aproveito
mais uma vez a voz e os sentimentos de um grande nordestino, para entoar um
lamento triste dos sofredores sertanejos, que têm de deixar a terra, porque a
seca chegou ao seu limite, obrigando-os a partirem. “A TRISTE PARTIDA”, de Luiz
Gonzaga, compara-se a uma ladainha, com um refrão “Meu Deus, meu Deus”, a toda
hora repetido, como expressão de um grito de socorro ou mesmo como dúvida e
pergunta. O pobre sertanejo diz não compreender porque tamanha judiação.
O
ano do sertanejo não se mede pelo calendário de mesa ou pela folhinha presa à
parede. Os meses do sertão se medem pelo clima e pela quantidade de chuva. Tudo
começa pela passagem do dia de São José, trazendo ou não as chuvas, com a
plantação do milho de São João, para ser assado diante da fogueira. A contagem dos
meses é feita pela espera da chuva que não chega. Além da fé em São José, o
sertanejo tem outras crenças, como as das pedras de sal, que também não estavam
servindo. O sol está muito vermelho, abrasador, muito além, castigando
inclementemente, secando toda a vida, esgotando também as esperanças do
sertanejo. Todos os dias refaz a experiência de olhar para a barra do dia, mas
a barra do dia continua negando-lhe dias melhores, mesmo a barra do alegre
Natal. “O resto de fé lhe foge do peito”, diz Luiz Gonzaga. Resta-lhe o último
recurso, isto é, partir apesar de toda a dor de quem sai forçadamente, já
imaginando inclusive o apelido de nortista que lhe será imposto,
impiedosamente, pelo pessoal do sul. Para isso vai vender tudo o que tem, Isto
é, o jegue e o cavalo, “inté mesmo o galo”, que um “feliz fazendeiro por pouco
dinheiro lhe compra o que tem”. O destino do pobre é viajar para São Paulo, “para
viver ou morrer”. Seu destino não se trata de um itinerário ou roteiro de
estrada, mas de uma sina, como algo recebido e herdado de modo irreversível. O
destino do pobre sertanejo é vagar e, “se o destino não for tão mesquinho”, um
dia, voltar pro mesmo cantinho. O transporte é o caminhão, chamado até hoje de “Pau
de arara”, incorporado também no imaginário nordestino dos retirantes da seca,
Vai, mas olhando sempre o rastro deixado pelo caminhão, porque não deseja
jamais esquecer o caminho da volta pra terrinha, seu cantinho.
No
caminhão que leva os retirantes, que dizer ao filho choroso de pena e saudade
do cachorro e do gato, que ficaram para trás para morrer, além dos brinquedos e
da boneca da linda menina, que ainda lembra “o seu pé de fulô” e ”o pé da
roseira”? O caminhão não leva apenas coisas quase de nada, leva vidas humanas,
tangidas de uma terra de muito sofrimento, mas boa, porque ninguém troca a sua
terrinha pelo incerto. Essa gente tem dignidade e a honra de sertanejo, que o
obriga a confessar: ”Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo, viver como
escravo no Norte e no Sul”. Terá patrão, trabalho e muitas dívidas, em São
Paulo, onde tudo é diferente, mas a vida não perde a capacidade de sonhar,
porque depende das notícias vindas das bandas do norte, que possam levá-lo de
volta ao saudoso sertão.
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