Neste 7º Domingo do Tempo Comum, somos exortados a viver a vocação à santidade e criar relações de amor com as pessoas, mas, para tanto, devemos compreender que Deus é relação, uma vez que a presença de seu Espírito Santo torna santo a cada um de seus filhos e filhas, bem como as suas comunidades cristãs. Apesar de não ser um caminho fácil de ser trilhado, a busca da santidade exige imensos sacrifícios de cada um de nós. E, para nos ajudar a superar os sacrifícios, hoje a Palavra de Deus nos convida a amar a todos, sem nenhuma discriminação, seja de cor, gênero, ideologia ou qualquer outra. É a formula para se alcançar a perfeição e procurar ser perfeito como Deus é perfeito. Como cristãos, somos convidados a fazer a diferença numa sociedade marcada pela mentira, corrupção, adultérios, divisões, impunidades, privilégios, falcatrua e maracutaias; uma sociedade marcada, sobretudo, pela injustiça, violência, vingança e por tantas outras situações de morte.
7º Domingo do Tempo Comum
1ª Leitura: Livro do Levítico 19,1-2.17-18
Salmo: 102
2ª Leitura: Livro da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios 3,16-23
Evangelho: Mateus 5,38-48
EVANGELHO - Mateus 5,38-48
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vocês ouvistes o que foi dito: "Olho por olho, dente por dente." Mas eu lhes digo: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também. Se alguém processar você para tomar a sua túnica, deixe que leve também a capa. Se um dos soldados estrangeiros forçá-lo a carregar uma carga um quilômetro, carregue-a dois quilômetros. Se alguém lhe pedir alguma coisa, dê; e, se alguém lhe pedir emprestado, empreste.
- Vocês ouviram o que foi dito: "Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos." Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que estão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu.
Palavra da Salvação – Glória a vós, Senhor.
HOMILIA PROF. DIÁCONO MIGUEL A. TEODORO
Irmãos e irmãs, neste 7º Domingo do Tempo Comum, somos exortados a viver a vocação à santidade e criar relações de amor com as pessoas, mas, para tanto, devemos compreender que Deus é relação, uma vez que a presença de seu Espírito Santo torna santo a cada um de seus filhos e filhas, bem como as suas comunidades cristãs. Na constante busca da santidade, devemos procurar superar todas as divisões. Como membros de uma comunidade somos convidados a quebrar o círculo viciosa da violência por meio do amor aos inimigos. Uma opção que devemos fazer, porém, sabemos que não é fácil. Para entendermos melhor, reflitamos um pouco sobre a Liturgia da Palavra deste Domingo
Então vejamos: no Primeiro Testamento, configurada a eleição divina de um povo, com exclusividade, decorre uma separação dos demais povos, sendo que esta eleição revestia o povo de santidade. Os eleitos são os "filhos de Abraão", e os demais povos eram tidos como inimigos. Dentro do povo eleito buscava-se a reconciliação, a paz, a harmonia, "descartando-se a vingança e o rancor entre os compatriotas" (estudem novamente a primeira leitura).
Contudo, a ocupação da "terra prometida", depois do êxodo, é precedida pela mensagem da divindade: "Se escutares fielmente a voz do meu anjo e fizeres tudo o que eu disser, então, serei inimigo dos teus inimigos e adversário dos teus adversários. O meu anjo irá adiante de ti e eu exterminarei os povos de Canaã" (Ex 23,22.23).
No entanto, no evangelho de Mateus, hoje, temos as duas últimas contraposições que mostram a novidade de Jesus em confronto com a tradição da antiga Lei. O "que foi dito" é substituído, agora, pela revelação de Jesus através de sua prática e de suas palavras. Na primeira contraposição, Jesus remove o mau espírito de vingança pela prática da bem-aventurança da mansidão. Com estas propostas Mateus busca a conversão plena de sua comunidade originária do judaísmo.
Porém, a Lei do Talião, na tradição de Israel, incitava à vingança, no caso de uma violência sofrida: "vida por vida, olho por olho, dente por dente, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe" (Ex 21,23-25). A Lei configurava, assim, uma cultura marcada por um espírito vingativo e cruel. Perpetuava-se a violência que, na tradição de Israel, é exemplar na memória perene que se faz do Êxodo, com o extermínio dos primogênitos dos egípcios oprimidos pelo faraó e no sequente extermínio dos sete povos de Canaã.
Assim, o evangelista quer nos ensinar que o preceito de Jesus de não oferecer resistência ao malvado, vem romper com o ciclo contínuo da violência. Contudo, embora não se responda à violência com violência. Nesse sentido, cabe aqui, questionar e denunciar os agentes da violência. Em uma sociedade onde a violência é praticada pela ambição, em particular por parte dos poderosos grupos de enriquecidos, cabem os movimentos sociais em defesa dos oprimidos, e o empenho no estabelecimento de estruturas sócio-econômicas mais justas.
Todavia, na última contraposição, com a novidade do amor aos inimigos, insistentemente anunciada por Jesus, é removida a antiga imagem de Deus apresentada no Primeiro Testamento como aquele que é inimigo dos inimigos do "povo eleito", e os destrói.
As concepções de povo eleito e de terra prometida fundamentavam a histórica segregação e conflito de Israel com os demais povos. Assim justificavam a sua violência: "Deus parte a cabeça dos seus inimigos e o cabeludo crânio do que anda nos seus próprios delitos" (Sl 68,21).
Mas, Jesus revela o Deus de misericórdia sem limites. O apelo de Jesus à conversão tem o sentido tanto de mudança das referências religiosas da antiga tradição de Israel como dos sentimentos pessoais. A revelação do Deus Amor abre o caminho da perfeição a todos. A compreensão de que somos todos filhos do Deus Pai e Mãe e a percepção de que seu amor é sem limites leva à fraternidade universal, à solidariedade e à partilha, vivendo-se com alegria tendo como meta a união e a Paz. Eis o grande caminho para se alcançar a santidade.
ORAÇÃO
Pai, cria em mim um coração dócil ao Espírito, modelando-o segundo o teu modo de ser, e coloca-me no caminho da verdadeira perfeição.