sexta-feira, 27 de maio de 2011

SEXTA-FEIRA, 13

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SEXTA-FEIRA, 13
O brasileiro é um povo engraçado: muito alegre, brincalhão, festeiro até demais, porém altamente supersticioso. Vive de crendices, horóscopos, cartomantes e tudo que lhe dá esperança de dias melhores.

Entre tantas coisas que lhe perturba a cabeça existe a ideia de que datas, fatos, atitudes, não podem existir em sua vida porque dão azar. Podem botá-lo para trás. Uma delas é o número 13. Tem gente que corre mesmo do número 13 e quando coincide com uma sexta-feira nem se fala. E de agosto, aí é que a coisa fica feia; o sujeito nem sequer sai de casa naquele dia. Ele fica com medo de ser atropelado, de não fazer bons negócios, enfim, de sair tudo errado. A última sexta-feira foi 13.

Eu me lembro, entretanto, que houve uma época em que o número 13 dava sorte. Lembro-me do vendedor da Loteria Federal gritando na Rua do Comércio; “olhe o 13, quem quer o 13, faça a sua fortuna hoje comprando o 13”.

No setor das crendices os portadores de presságios são também em número vultoso. A Bahia, terra do vatapá, do caruru e do dendê, está cheia delas, a começar pela figa que veio da Guiné e hoje é brasileira mesmo. Tem de todas as formas e em todas as apresentações: osso, madeira, metal, e em todos os tamanhos. Função dela: espantar maus-olhados. Poucas crianças no Brasil não usaram uma figuinha de ouro no braço ou no pescoço, como enfeite, mas também como zelo das mães com medo dos olhares invejosos.

E por aí continua. Passar por baixo de escada é outra crendice arraigada na cabeça de muita gente. Morre cedo quem faz isso, pensa ele. O sujeito contorna a rua, quase é atropelado, mas segue tranquilo porque embaixo da escada não passou.

Gato preto, tem gente que corre léguas quando vê um se aproximando. Se ele aparece de repente na porta de uma casa, na porta de um Igreja quando os noivos vão entrando ou na portaria de um hospital quando o indivíduo vai se internar, lá surge o medo de que as coisas não deem certo. 

Uivo de cachorro de madrugada ou canto de certos pássaros durante a noite prenunciam morte de alguém na família, segundo a turma supersticiosa. Medo da morte é outra coisa que atemoriza muita gente, mesmo sabendo que um dia vai acontecer com ele. Tem gente que não entra em cemitério, não gosta de ver defunto no caixão, tem medo de escuro pensando que dali saia uma alma do outro mundo.

Terão essas crendices algum fundamento? É claro que não. Nossa vida está nas mãos de Deus e só ele sabe do nosso futuro realmente. Santo Agostinho dizia: “Se tivéssemos a certeza das coisas, não precisaríamos ter fé”. Já Shakspeare comentava: “Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha a nossas vã filosofia”.