quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

ANIVERSARIANTE DO DIA - KELLY DE RONALDO

CORREIO MFC BRASIL Nº 308



Os pobres, hoje, incomodam muitos, comovem outros. Muitos se tornam indiferentes diante da dor e dos clamores dos pobres. Uns pensam que basta fazer filantropia. Outros se comprometem com a causa dos pobres e por eles doam a vida.  Como o evangelho de Lucas e o livro de Atos dos Apóstolos encaram os pobres?

OS POBRES NA OBRA DE LUCAS.
E EM NÓS?
FR. GILVANDER LUÍS MOREIRA

No evangelho de Lucas (Lc) os pobres não são espiritualizados, como o evangelho de Mateus pode sugerir à primeira vista, mas têm conotações concretas. São carentes economicamente, marginalizados e excluídos socialmente. Não têm relevância na sociedade. Os Atos dos Apóstolos (At), 2º volume da obra lucana, aprofundam mais essa radicalidade. O apóstolo Pedro, por exemplo, declara-se em absoluta pobreza, não tendo nem prata e nem ouro, mas somente a Palavra que revigora e reanima os cansados (At 3,6).

O
 contraste entre ricos e pobres transcende as dimensões socioeconômicas. A categoria pobre compreende presos, cegos, oprimidos (Lc 4,18), famintos, desolados, aborrecidos, difamados, perseguidos, marginalizados (Lc 6,20-22), coxos, leprosos, surdos e até mortos (Lc 7,22). Para a ideologia hegemônica, que é sempre a da classe dominante, pobres são a escória, os dejetos e a imundície da sociedade. São usados e não amados. A riqueza é, quase sempre, uma armadilha mortal para a pessoa humana, pois, muitas vezes, envolve a pessoa em um processo de desumanização, ao prometer estabilidade, reforçar a autossuficiência e causar muitas injustiças.

No evangelho de Lucas, as bem-aventuranças têm uma orientação social (Lc 6,20-23). Dirigem-se aos discípulos como os verdadeiramente pobres, famintos, aflitos, injustiçados e excluídos do mundo onde há organização para uma minoria e caos para a maioria. Lucas não tende a espiritualizar a condição dos seus discípulos, como à primeira vista faz Mateus nas bem-aventuranças (Mt 5,1-12). As prescrições que Mateus acrescenta — pobres em espírito, fome e sede de justiça — respeitam a condição de diversos membros da comunidade mista a quem a narração evangélica é dirigida. Em Lucas a pobreza, a fome, a aflição, o ódio e o exílio caracterizam a situação concreta e existencial dos discípulos e das discípulas de Jesus Cristo, que é quem Jesus declara feliz.

No evangelho segundo Lucas aparece nitidamente uma opção pelos pobres, contra a pobreza. Os ricos não são excluídos a priori, mas são convidados a abandonar a idolatria do capital e do poder e a tornarem-se pobres. O servo sofredor padre Alfredinho dizia: “O mundo vai virar um paraíso no dia em que os ricos desejarem passar fome”. Lucas é duro contra os ricos e a riqueza (Lc 6,24).

“Cuidem dos enfraquecidos!” (At 20,35). Eis um apelo forte do apóstolo Paulo no seu testamento espiritual, escrito por Lucas, que conservava na mente e no coração a imagem de Paulo como alguém que dava atenção especial aos empobrecidos. É provável que nas comunidades de Lucas, no fim do século I, um desejo grande de fidelidade ao passado estivesse gerando esquecimento dos empobrecidos e excluído. Estes nem sempre podem respeitar as regras da comunidade. Para Paulo, o sinal por excelência da autenticidade do ministério era o amor desinteressado e gratuito aos pobres.  Essa opção aparece de modo muito eloquente quando Paulo diz às comunidades de Antioquia que a única coisa que a Assembleia de Jerusalém fez questão de alertar foi:

“Nós só deveríamos nos lembrar dos pobres...” (Gálatas 2,10). No discurso aos presbíteros, em At 20,17-35, Lucas alerta para o cuidado com os pobres, porque provavelmente os presbíteros estavam preocupando-se menos com aqueles e agindo mais como “os falsos pastores que apascentam a si mesmos e devoram as ovelhas” (Ezequiel 34,8-10). Estariam eles gastando mais energias com os ritos do que com a promoção humana dos excluídos e com a luta por justiça?

A teologia lucana propõe uma mística evangélica que seja uma Boa Notícia para os pobres, isto é, para cegos, surdos, mudos, presos, alienados, doentes e pecadores; enfim, para marginalizados e excluídos. Lucas é muito realista, porque percebe que a Boa Notícia para os pobres é, normalmente, péssima notícia para os opressores e violentadores dos pobres. Lucas defende não toda e qualquer notícia, mas apenas aquela que traz qualidade de vida para todos e para tudo, a partir dos oprimidos.

Jesus de Nazaré, segundo Lucas, encontra-se com os pobres e com eles se compromete. Sua vida, que conhecemos também por suas posturas e ensinamentos, caracteriza-se por encontros com pessoas do seu círculo de amizade e com pessoas do mundo dos excluídos. Jesus foi sempre um inconformado com as injustiças e com os sistemas injustos, um sonhador que cultivava a utopia bonita do Reino de Deus no nosso meio.

Jesus tinha os pés no chão, mas o coração nos céus. Era um profeta, alguém sensível, capaz de captar os sussurros e os apelos de Deus por meio das entranhas dos fatos históricos. O Galileu foi uma testemunha, um mártir, que não apenas disse verdades, mas doou a vida pelas verdades que defendia.

Jesus e seu movimento, em uma postura altamente irreverente, deixam-se envolver, apaixonar-se, compadecer-se pelo povo sofrido e revelam um grande esforço de transformação. Desmistificam o que é mistificado pelo senso comum. Des-idolatram deuses e ídolos que concorrem em uma imensa gritaria tentando seduzir as pessoas para projetos escravizadores. Des-sacralizam o poder, desmascarando o poder religioso, o político e o econômico que, endeusados, promovem grandes atrocidades. Des-dualizam a forma de encarar a realidade — com Jesus, “o véu do templo se rasga” (Lc 23,45) e “ninguém deve chamar de impuro aquilo que Deus criou” (At 10,15). Não há mais separação entre puro e impuro, entre santo e pecador, entre transcendência e imanência, entre dentro e fora, entre sagrado e profano, entre céu e terra, entre humano e animal etc. Tudo e todos são banhados pela dimensão divina e transcendente da vida. Em cada um(a) de nós estão o feminino e o masculino, o bem e o mal, o sagrado e o profano.

Enfim, oxalá esta rápida retrospectiva sobre a relação de Jesus e seus discípulos/as com os pobres nos inspirem na construção de uma sociedade para além do capitalismo e para além do capital.

ECONOMIA E POLÍTICA

R
ecordes no trabalho (IBGE): desemprego médio no ano de 5,5% em 2012 é o menor em 10 anos. No final do ano ainda baixou para 4,7%. O total de ocupados atingiu a marca inédita de quase 23 milhões de pessoas com emprego formal. Renda subiu 4,1%, maior alta na década. O rendimento médio dos brasileiros foi estimado em cerca de 1.800,00 reais, crescendo 4,1% em relação a 2011. O salário mínimo aumentou 14%, a maior alta em 10 anos. (O GLOBO - 12/02/13).


UMA BOA NOTÍCIA
  
O
 Senado Federal e a Câmara dos Deputados elegeram Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves para presidir as duas casas do Congresso Nacional, num acordo de bastidores entre líderes do governo e da oposição, com voto secreto envergonhado. Dispensado o rigor da “ficha limpa”. Será somente exigida dos candidatos em 2014. Líder do mesmo partido será o deputado Eduardo Cunha, com currículo conhecido.

FRASES PARA REFLETIR
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Luís Fernando Veríssimo
Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
Miguel Esteves Cardoso
As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.
Epicuro
Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de “desinventar”.
Chico Buarque

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