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quinta-feira, 18 de abril de 2013
SAIBA TUDO SOBRE O ENA 2013, HOJE NA SEDE DO MFC
CORREIO MFC BRASIL Nº 319
VOCÊ ACREDITA EM MILAGRES?
Frei Betto
Escritor e Assessor de Movimentos Sociais
Frei Betto |
Desde o surgimento da agricultura,
quando o ser humano já não dependia da fase coletora e extrativa, tenta-se
domesticar a natureza, impor-lhe limites, desviar o seu curso, exigir que ela
siga, não suas leis intrínsecas, e sim a nossa lógica voltada ao lucro. Assim,
represamos rios, reduzimos o ímpeto das marés, quebramos a escuridão da noite,
logramos fazer voar o que é mais pesado do que ar.
A
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razão moderna desencantou o mundo. E a
primeira vítima foi o milagre que a ciência tenta expulsar do mundo e da mente
humana.
A
crença no milagre revela certa noção de Deus. Seria ele como um encanador que,
tendo cometido erros em sua obra, a todo o momento precisa correr aqui e ali
para corrigir defeitos imprevistos? Ele livra da doença os filhos preferidos e
não os preteridos? Fica atento a quem mais emite súplicas e premia a
insistência com o milagre?
A
razão moderna considera que só a ignorância enxerga milagres na ordem natural
das coisas. Milagre é quando se desconhecem as leis da natureza, assim como é
mágica o que provoca e esconde o truque. O que hoje é tido como milagre será
desvendado amanhã pela ciência, como faz o Fantástico em suas reportagens sobre
a origem ordinária de fatos extraordinários?
Há
teólogos que restringem a ação divina ao ato da Criação. Deus, ao criar, teria
dotado a natureza de leis que, como o mecanismo do relógio, funcionam sem que o
relojoeiro precise interferir. Se ocorrem imperfeições na Criação não é culpa
de Deus. Há que buscar as causas na ação humana sobre a natureza e na nossa
ignorância, que percebe como defeito o que para Deus seria mero e previsível
efeito.
As
Igrejas demonstram uma posição ambígua diante do milagre. Umas admitem a
onipotência divina, o poder de Deus em operar mudanças substanciais no rumo
natural das coisas e, ao mesmo tempo, miram com ceticismo qualquer evento que,
por seu caráter extraordinário, é tido como milagre.
As
Igrejas neopentecostais emulam a fé dos fiéis através de sucessivos milagres,
em especial os que restabelecem a saúde. Já as Igrejas históricas suspeitam da
profusão de milagres. A ponto de o Vaticano, nos processos de canonização,
nomear um "advogado do diabo” incumbido de desmoralizar fenômenos nos
quais a fé identifica origem miraculosa.
Muitos
procuram em Deus a capacidade de operar milagres. Um Deus-mágico, capaz de
tirar, de sua onipotente cartola, todo tipo de curas e bênçãos. Um Deus
disposto, a todo o momento, a contrariar e mesmo subverter as leis da natureza
que ele mesmo criou. Um Deus criado à nossa imagem e semelhança...
O
que fez Moisés, naquele mundo politeísta, para convencer o faraó de que Javé
era um Deus especial, diferente dos demais? Apresentou-lhe uma série de
milagres. E ao se convencer de que o faraó se mantinha obstinadamente apegado a
seus deuses egípcios, então recorreu às sucessivas pragas.
O
Deus-espetáculo é tão paradoxal quanto o Deus-utilitário. Enquanto no dólar
americano está impressa a inscrição "In God we trust” (Nós confiamos em Deus), os soldados nazistas traziam inscrito na
fivela do cinto: "Gott mit uns!” (Deus
está conosco).
E
o Deus de Jesus, está com quem? Onde ele fica em tudo isso? Jesus agia com
discrição, pedia aos discípulos para não fazerem alarde quanto à identidade
dele, e ao curar não atribuía o mérito a si, e sim ao fiel: "A tua fé te
salvou”.
O
verdadeiro milagre de Deus é a presença de Jesus entre nós. Presença nada
espetacular (nasce numa estrebaria e
morre assassinado na cruz) e incômoda (entra
em choque com as autoridades religiosas e políticas).
Não
era a ordem da natureza que lhe interessava mudar e sim o coração humano, para
impregná-lo de amor, compaixão e justiça.
Desconfio
da fé que necessita da muleta dos milagres para se sustentar. É a fé-bilhete de
loteria: adquiro-a na expectativa de ser sorteado. Em nada mudo minha atitude.
Fico à espera de que Deus mude a dele...
É
frequente encontrar quem tenha fé em Jesus. O raro é se deparar com quem tenha
a fé de Jesus, que o levou a se posicionar em defesa dos oprimidos e excluídos
em nome de um Deus amoroso e misericordioso.
A
vida humana é, sem dúvida, o maior de todos os milagres. Mas ele não nos causa
impacto. Não cremos nele. Tanto que somos indiferentes a tantas vidas ceifadas
precocemente pela miséria e a violência.
A FORÇA DA
ESPERANÇA
Manfredo
Araújo de Oliveira
Doutor em
Filosofia, professor da UFC e Presidente da Adital
A
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semana santa é marcada pela celebração do que
constitui o cerne da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus. O objetivo é
adentrar com outros olhos no enigma da existência humana. Isto significa que a
festa da páscoa implica descer aos porões da vida humana e captar que há
poderes presentes que ameaçam aniquilar tudo o que se almeja como bom em todos
os projetos humanos.
O
homem pós-moderno interpreta esta existência no horizonte da "perda de
sentido”: aí onde a razão moderna encontra grandes soluções a partir de seu
ideal de emancipação, a mentalidade contemporânea insiste no peso da vida
dilacerada contra todo ideal o que se mostra dolorosamente nas situações de
violência de todos os tipos: bilhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, o
massacre de crianças e adolescentes, a situação humilhante nos presídios, a
discriminação de raças, as diferentes formas de opressão das mulheres, a
intransigência cultural, a negação sistemática da diversidade, a rejeição da
alteridade, a perseguição de minorias de raça, de sexo, de etnia, de
dissidentes aos regimes, a sistemática destruição da natureza, drogados,
aidéticos e todos os negados por uma sociedade que só tem tempo para seu
consumo infinito, discriminações de todos os tipos, guerras criminosas. A
finitude e a morte não escancaram a falta de sentido de tudo? A experiência da
realidade humana se revela plena de sofrimento, de opressão, de infelicidade.
Longe de qualquer fundamento, tudo parece caminhar para o puro vazio, o nada.
Que
é, então, fé para os cristãos? Acolhida livre de que os eventos da páscoa são
sinais da chegada da efetivação do que constitui o mais profundo da esperança
humana. O grande sinal é a ressurreição: no seio da experiência da cruz irrompe
o anúncio da ressurreição como interpelação a um olhar novo sobre a vida humana
e a posturas novas capazes de transfigurar esta vida. No fundo da história está
em jogo algo fundamental: a busca de realização do ser humano. O anúncio da
ressurreição é a afirmação de que esta procura não é vã: abre-se uma
possibilidade para uma vida com sentido. Falar de ressurreição significa falar
de uma comunhão radical com Deus, que nem a morte consegue extinguir, portanto,
falar da vitória da vida.
Esta
palavra começa a ter credibilidade, quando gestos de ressurreição começam a
fazer declinar as mortes sofridas, gestos que possuem a força de ir
reconquistando a vida humana e fazendo degustar, nesta conjunção de regozijo e
dor, as marcas de vida nova, de recuperação da justiça, da ternura, do gosto de
viver e conviver.
Em
nossa sociedade começa a fazer subversão quem partilha o pão, a vida, os
ideais, quem ainda é capaz de se acercar com ternura de um doente, das
prostitutas, dos abandonados, quem é capaz de acariciar uma criança, respeitar
as mulheres, lutar por justiça! Quem sabe, tudo isto talvez seja um sinal muito
frágil, mas ele já começa a dissipar as trevas de nossas vidas.
Dostoievsky (1821-1881)
Os homens não se tornam ateus apenas, mas creem no ateísmo como em uma
religião.
Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais
simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo. Se alguém me
provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha nele, prefiro
ficar com o Cristo a ficar com a verdade.
As coisas mais insignificantes têm, às vezes, maior importância e é
geralmente por elas que a gente se perde.
Leon Tolstoi
Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira.
Cristo mostra ao homem uma perfeição impossível de ser atingida, mas à
qual ele aspira do fundo do seu coração. É mostrado ao homem um ideal, do qual
o homem poderá sempre medira a distância que o separa. A doutrina de Cristo se
parece com um homem que traz uma lanterna diante de si na ponta de uma vara,
mais ou menos longa: a luz está sempre diante dele e lhe revela a todo momento
um espaço novo que ela ilumina e que vai caminhando com ele.
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