sexta-feira, 1 de outubro de 2010







DOUTOR ME AJUDE... ATENDA MEU FILHO QUE ESTÁ USANDO DROGAS.

Valdi Craveiro Bezerra
Clínico de Adolescentes e Terapeuta de Família
e Ana Carolina Bessa Linhares
Psicóloga, Psicoterapeuta de Adolescentes, Terapeuta de Família

Quando os pais nos procuram pedindo ajuda para um filho adolescente que está vivendo uma situação de uso de drogas, eles fazem um pedido para atendermos seu filho e não se sentem incluídos nesse pedido de ajuda.

Em geral o filho não está pedindo ajuda. Na conversa com os pais, o adolescente argumenta que estes não sabem de nada, que maconha, por exemplo, faz até bem à saúde, sendo usada como remédio no tratamento do glaucoma, da aids e outros. Contra argumenta que o cigarro e a cerveja que o pai usa fazem mais mal à saúde que seu "baseado". Tem convicção de que deixará de usar drogas quando quiser, pois não é dependente.

Os pais, embora percebam e sintam a gravidade dos problemas que o uso de drogas traz para o filho e para a família, sentem-se impotentes, incompetentes, culpados, e, sobretudo ficam confusos e divididos entre o certo e errado, não sabem mais que atitudes devem tomar.

CORAGEM, NÓS VAMOS ENTRAR NESSE BARCO COM VOCÊS!
Para uma família pedir ajuda a um profissional, muita coragem é necessária. Em primeiro lugar, porque o uso de drogas é mal visto, estigmatizado, considerado falta de vergonha e de caráter, e denigre tanto o indivíduo quanto a família. Em segundo lugar, a criminalização do uso de algumas drogas faz do pedido de ajuda uma denúncia.

Quando corajosamente os pais pedem ajuda para um filho adolescente, em geral já faz algum tempo desde que alguém da família percebeu o uso. E isso é positivo, porque indica que a família já fez várias tentativas de resolução com os instrumentos que dispunha. Somente quando ela esgota seus recursos, pede ajuda aos ditos especialistas.

É assim que entendemos esse pedido da família, e comunicamos a ela que estamos muito orgulhosos da confiança que ela nos deposita. Mas não aceitamos atender seu filho, principalmente no início, porque não acreditamos na sua incompetência enquanto pais.

A FAMÍLIA TEM COMPETÊNCIA PARA RESGATAR O ADOLESCENTE
A família sempre foi vista como causa dos problemas dos filhos. Inúmeros estudiosos procuram associar o uso de drogas do filho com o alcoolismo de um dos pais, a transmissão genética familiar, a separação dos pais ou a estrutura e relação afetiva familiar. Poucos têm olhado para as contribuições positivas da família.

A experiência clínica nos conduziu a considerar a família não como um entrave ou um fator complicador que deveria ficar fora do processo, mas como o principal instrumento no processo de resgate do adolescente vivendo a situação especial de uso de drogas. Embora pareça tão desprovida de recursos, é na família que encontramos a solução para seu problema.
Responsabilizar-nos pelo tratamento do filho confirma a idéia de que os pais são incompetentes e de que somos nós, os especialistas, que iremos resolver o problema.

Acreditamos de fato que a família tem competência para resolver o problema do uso de drogas do filho. Ela só não sabe que tem. O que fazemos então é devolver essa confiança aos pais, confiando que eles fizeram o melhor que podiam até o momento e que, esgotando seus recursos, vieram nos pedir ajuda para que, junto a nós e a outras famílias, possamos formar uma rede e procurar alternativas para uma questão tão complexa e difícil para eles pais, para nós profissionais e para toda a sociedade.

O VÍNCULO ENTRE O FILHO E OS PAIS É O MAIS PODEROSO
Nenhum profissional conseguirá estabelecer um vínculo tão poderoso com este adolescente, como o vínculo entre o filho e os pais. Este vínculo é mais poderoso em operar mudanças que qualquer vínculo terapêutico ou de autoridade constituída. Este vínculo tem história, tem no mínimo, a idade do filho.

Nossa tarefa é confirmar a família como capaz e competente o que irá torná-la poderosa em promover mudanças verdadeiras em todo o sistema familiar. Para isso temos uma série de estratégias a usar.

Se essa família não for confirmada como capaz, ficará mergulhada numa crença de fracasso e de incompetência tão grande, que dificilmente terá condições de ajudar o filho, e tentará de todos os modos transferir a competência para o profissional.

Se o profissional não acreditar na família, jamais conseguirá fazer uma parceria com ela, parceria esta fundamental e vital para o sucesso dessa grande aventura, que é ajudar esse adolescente a parar com o uso de drogas.

O que propomos é investir na família, que no seu desespero se acha incompetente. É tão difícil para a família acreditar que é ela que tem os instrumentos para fazer o filho parar com o uso de drogas.

O primeiro passo desse processo é convencer a família de que vamos atendê-la e não a seu filho. Juntos, avançaremos dia a dia, passo a passo, no trabalho de recuperação de seu filho.

(resumido por Deonira La Rosa)