O NOVO HOMEM E A NOVA MULHER
Rose Marie Muraro, em livro lançado com Leonardo Boff (2002), analisa os frutos positivos da recente ida da mulher ao mercado de trabalho e da maior permanência dos homens em casa.
Só no Brasil, afirma a autora, 22,5 milhões de homens cuidam da casa, enquanto a mulher que está empregada é obrigada a sair para trabalhar. À primeira vista, este fato parece prejudicial à família e à nação, entretanto, ao lado das desvantagens que traz, podem ser citadas muitas vantagens, as quais resultarão em grande benefício para a humanidade.
Ao entrar no domínio do privado, os homens passam a fazer o trabalho da casa junto com a mulher e a dividir o cuidado das crianças. E isso, a médio prazo, pode vir a ser a origem da mudança da estrutura psíquica de meninos e meninas, que passam a desenvolver uma intimidade com pessoas dos dois sexos: o pai e a mãe.
A pesada carga de ser a depositária do amor totalizante, que recai sobre a mãe na cultura patriarcal, passa agora a ser dividida com o pai.
A divisão do cuidado com os filhos, antes só materno, iguala pai e mãe aos olhos da criança. O pai passa a ser tão amoroso quanto a mãe. Por conseqüência, desaparece a figura da mãe todo-poderosa, a única criadora do amor e da vida. Em seu lugar surge um casal capaz de acabar com o tormento da criança que percebe uma separação entre os sexos, uma cisão entre o homem e a mulher.
Em terceiro lugar, começa a desaparecer a divisão das funções: para a mãe o amor, para o pai a rigidez.
Nesse novo contexto, o menino não reprimirá mais a emoção, nem sua inteligência será tão dissociada e impessoal. Poderá conservar mais o corpo, como faz a menina, e desenvolver um superego menos rígido.
A menina, por sua vez, se indentificará com um ser inteiro, pois a relação entre pai e mãe será de iguais e não de opressor/oprimido.
A mãe fará também a figura do pai de hoje, já que estando inserida no mundo do trabalho, torna-se um modelo criativo e com a inteligência mais desenvolvida.
Enfim, num futuro talvez próximo, os homens terão perdido o medo da entrega e da mulher e as mulheres não serão, como são no patriarcado, tão dependentes do homem idealizado.
As consequências disso podem ser incalculáveis. Meninos e meninas educados assim, numa sociedade pluralista, não achariam "natural" uma sociedade em que a mulher é inferior ao homem e, portanto, não veriam como "natural" uma sociedade autoritária e desigual, pois agora "natural" seria um mundo democrático, não-competitivo e de partilha. Estaria superada a relação opressor/oprimido, fundamental para o sistema competitivo que dura há mais de oito mil anos e se iniciaria uma fase pós-patriarcal.