segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

CORREIO INFA Nº 67



QUANTA COISA EXISTE DE QUE NÃO PRECISO PARA SER FELIZ
FREI BETTO

Frei Betto

A
o viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam.

Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: “Qual dos dois modelos produz felicidade?”

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, minha aula é à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.
'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!`

Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!

Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!'

Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!'

O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.

Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, autoestima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Quando não se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, então sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno...

Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz"!
  
A CIÊNCIA E O AMOR
JORGE LA ROSA
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, DOUTOR EM PSICOLOGIA
MFC PORTO ALEGRE - RS

Jorge La Rosa
MFC/RS
O amor é sentimento complexo, objeto da ciência, além de ser estudado pela filosofia e teologia. O amor é a mensagem central na perspectiva cristã, princípio e ápice da moralidade; é a vocação suprema do ser humano, conforme ensina João na primeira carta (4,8). Jesus, o Mestre, disse que não há prova maior de amor que dar a vida pelos amigos – o que ele fez ao longo de sua jornada, e na hora derradeira.

S
ão Paulo, na primeira carta aos coríntios, capítulo 13 - em uma das mais belas páginas da Bíblia - escreve sobre o amor, características, relações com a fé e esperança, e sobre sua duração perene. Página permanentemente revisitada pelos cristãos!

Os filósofos também têm escrito sobre amor. Martin Buber, para citar apenas um, tem-nos dado lições magníficas sobre a relação Eu-Tu, o amor que permeia essa relação e sua explicitação no diálogo.

A PROCURA DO PAR
Para a ciência, homens e mulheres buscam as mesmas características em um parceiro: bondade, inteligência, bom humor e saúde, de acordo com pesquisa internacional realizada com 9.474 pessoas em 33 países (Journal of Cross-Cultural Psychology). Outra dica: procure pessoa semelhante a você, já que conforme pesquisa da Universidade de Iowa (Estados Unidos), casais com personalidades parecidas estão mais satisfeitas em seus relacionamentos.

No estudo, os pesquisadores pediram a 291 casais que respondessem a questionários e participassem de interações filmadas, observando duas variáveis: satisfação matrimonial e semelhanças entre parceiros. Os resultados evidenciaram que a semelhança, no que concerne a atitudes, é fator importantíssimo para a qualidade da relação.

SEXO
Quem tem relações sexuais com quem acabou de conhecer fica malvisto, tanto faz se se trata de homem ou mulher, conforme pesquisa realizada pela Universidade Texas Tech (Estados Unidos), publicada na revista “Personal Relationships”, que entrevistou 296 universitários de ambos os sexos que responderam a questionários sobre comportamento sexual de homens e mulheres.

Por outro lado, homens e mulheres que tiveram sua primeira relação sexual após firmar um compromisso, foram considerados mais apaixonados e companheiros, ou seja, desejáveis para namoro ou casamento. Outro estudo, publicado no mesmo periódico, mostra que homens têm 40% mais chance de se envolverem em sexo casual, e que 33% dos homens já tinham se envolvido nessa modalidade, enquanto 16% das mulheres também. Ter tido experiência de sexo casual, ou estar bêbado, aumenta as chances de que o fato volte a ocorrer.

(Aqui foram narrados resultados de pesquisas, não foi feito juízo moral sobre os comportamentos.)

DISCUSSÕES
As discussões são inevitáveis em um relacionamento, e a forma como elas ocorrem diz muito sobre a qualidade do convívio. As agressões e as acusações, de modo geral, prejudicam. É melhor abrir portas para o diálogo que escancarar as que produzem conflito e brigas que desgastam a relação e podem deixar feridas de difícil cicatrização.

Ao invés de agredir verbalmente e acusar, quando se sentir injuriado, dê chance ao outro de explicar porque agiu de determinada maneira ou fez certa afirmação – o que poderá ajudá-lo a avaliar o próprio comportamento e, se for o caso, reformular-se e pedir desculpas ou perdão: é a reconciliação. Identificar-se com o agressor, agredindo (Freud), envolver-se em bate-boca interminável, não conduz à resolução de impasses, mas leva a possíveis tempestades domésticas, com fim, às vezes, imprevisível e infeliz.

FAZER O AMOR DURAR
Um dos desafios do casamento é fazer o amor durar.

John M. Gottman, PhD, professor emérito da Universidade de Washington, depois de acompanhar casais por anos a fio, e de ter criado o Laboratório do Amor na referida Instituição, criou uma fórmula de êxito para casamentos: a taxa 5x1. Significa: para cada aspecto negativo que você encontrar no parceiro, deve encontrar cinco positivos, ou, para a memória de um fato negativo, relembrar cinco positivos. Trata-se de exercício e tarefa para quem pretende dar estabilidade ao relacionamento.

Assim, queixas sobre defeitos do parceiro e declaração de desprezo, são exemplos de comportamentos nocivos, enquanto capacidade para resolver conflitos e cultivar memórias positivas mantém a satisfação no relacionamento.

A proposta de Gottman lembra a teoria custo-benefício. Quando os custos são maiores que os benefícios, a relação tende ao rompimento; quando os benefícios são maiores, tende à estabilidade. O êxito no relacionamento depende de eu não ser um fardo para o outro e, principalmente, de lhe proporcionar muitas alegrias e satisfações. Se cada um pensar e agir assim, o relacionamento tem futuro.

O cristão pode e deve aproveitar os dados que a ciência disponibiliza, e, além disso, utilizar os meios espirituais e sacramentais para construir uma vida conjugal estável e feliz.

FRASES DE WINSTON CHURCHILL
O sucesso é ir de fracasso em fracasso
sem perder entusiasmo.
O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade.
A maior lição da vida é a de que, às vezes,
até os tolos têm razão.
Uma mentira da uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter a oportunidade de se vestir.
Estou sempre disposto a aprender, mas
nem sempre gosto que me ensinem.
  
BRASILEIRO FAZ 16,7 KM/L

B
oa notícia. Um estudo recente conduzido pela Universidade Federal do Estado de São Paulo mostrou que cada brasileiro caminha em média 1.440 km/ano. Outro estudo feito pela Associação Médica Brasileira mostrou que o brasileiro consome, em média, 86 litros de cerveja/ano. A conclusão é animadora: O BRASILEIRO FAZ 16,7 KM POR LITRO!