segunda-feira, 10 de junho de 2013

CORREIO MFC BRASIL Nº 326

   
CRÍTICA À INJUSTIÇA NO MUNDO
E A REFORMA DA IGREJA
Jung Mo Sung
Diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da
Universidade Metodista de São Paulo

São da teologia da libertação todas as pessoas que, em nome da fé cristã, se indignam com a injustiça social e se colocam ao lado das pessoas pobres? Não, porque isso seria dizer que a teologia da libertação ou cristianismo de libertação têm monopólio da opção pelos pobres. Como se todas as pessoas cristãs que optam pelos pobres fossem consciente ou inconscientemente da teologia da libertação. O que seria muita pretensão ou ignorância da história e da teologia.

Se a teologia da libertação (TL) não tem esse monopólio, a sua metodologia teológica faz diferença ou tanto faz assumir qualquer tipo de reflexão teológica desde que se faça opção pelos pobres? Isto é, qual é a relevância ou contribuição da TL hoje no momento em que a Igreja Católica tem um papa que viveu, vive e que quer exercer o seu papado em solidariedade com os pobres?
 
Jung Mo Sung
E
m primeiro lugar, é preciso lembrar que a opção pelos pobres não é a única característica da TL. Junto com essa opção vem outras rupturas com a forma anterior de fazer a teologia e uma delas é a compreensão de que os problemas de injustiça e do mal não são frutos apenas da má vontade ou má intenção dos poderosos, mas frutos também da própria dinâmica da estrutura econômica e social. Em outras palavras, não basta mudar a consciência e o coração das pessoas, mas é preciso também mudar as estruturas injustas e o próprio espírito que move essas estruturas. Para se referir a essas questões, a TL utilizou-se da expressão "pecado estrutural” – pecado que se comete ao cumprir as leis e exigências da estrutura social e econômica (Um livro importante da TL sobre essa questão hoje é "A maldição que pesa sobre a lei”, de Franz Hinkelammert) – e a noção de idolatria.

Outra característica marcante da TL foi a afirmação de que não se pode fazer a Teologia da Libertação sem a libertação da teologia (tese desenvolvida principalmente por Juan Luís Segundo), isto é, a crítica da injustiça do mundo pressupõe a crítica da teologia cristã e da própria Igreja porque essas tem sido, em muitas ocasiões, cúmplices da injustiça e do pecado. É assumir explicita e conscientemente a antiga noção de que a Igreja é santa e pecadora, que ela também precisa se converter continuamente. Em termos da teologia protestante, é a Igreja reformada sempre em reforma.

Feita essa "recordação” de alguns dos princípios da TL, voltemos à pergunta: em que sentido a Igreja Católica (aqui me refiro explicitamente a Igreja Católica, mas o raciocínio vale também para todas as igrejas cristãs) pode contribuir na luta pela vida digna de todas as pessoas e preservação do meio ambiente?

O papa Francisco denuncia
as injustiças que persistem.
Neste desafio, é claro que a pessoa e a postura do papa Francisco traz novos alentos e esperanças à Igreja Católica e também para cristãos de outras denominações e pessoas que, não sendo (mais) cristãs, ainda se simpatizam com essa tradição espiritual. Contudo, se as reflexões da TL tem algum valor, precisamos recordar que para superar as injustiças e o pecado do mundo não bastam novas consciências, novas pessoas, é preciso mudar também as estruturas sociais e econômicas, assim como as principais instituições da ordem global.

E para que a Igreja e as teologias possam contribuir nessa luta, é preciso fazer autocrítica que questione também as leis e estruturas que regem e estabelecem os limites das ações das igrejas. Só na medida em que conseguirmos, no interior da própria igreja, distinguir a lei (que implica também em estruturas institucionais) – que é necessária e boa, mas que mata (segundo o ensinamento do apóstolo Paulo), e que por isso precisam ser sempre reformadas – do Espírito que nos move a lutar pela Vida é que nossas críticas à ordem social serão percebidas como coerentes e "autênticas”. Em outras palavras, um papa humilde que se solidariza com os pobres e as vítimas das injustiças é muito significativo e importante para a Igreja e o mundo hoje, mas sem uma reforma profunda nas estruturas e leis da Igreja não poderemos criticar de modo radical as leis e estruturas do capitalismo global. Só assim podemos mostrar ao mundo que nem as leis da igreja são eternas e imutáveis, e por isso os neoliberais também não podem pretender que as leis do mercado capitalistas sejam eternas e imutáveis (idolatria do mercado).

E, é claro, a reforma da Igreja não pode se restringir à reforma da burocracia do Vaticano, mas também aos temas ainda considerados tabus, como o papel das mulheres na Igreja e a distinção ainda tão radical entre o clero e o laicato.

MAIS UM DITADOR CRUEL
NA PRISÃO
Eric Nepomuceno

Efraín Ríos Montt, o sanguinário ditador que aterrorizou a Guatemala no início dos anos oitenta, foi finalmente condenado pela Justiça de seu país, a 80 anos de prisão, por crime de genocídio e delitos contra a humanidade. Perdeu vigência, assim, a lei de anistia proclamada pelos militares na véspera de passar o poder aos civis, há dezessete anos.
 
Efraín Ríos Montt
M
ão de ferro, coração perverso, alma cruel, botas de chumbo: com esse instrumental Efraín Ríos Montt foi o sanguinário ditador de turno na Guatemala, entre março de 1982 e agosto de 1983.

Um dos feitos mais extraordinários de Ríos Montt, um cristão fundamentalista de uma dessas seitas evangélicas desmesuradas, foi ter conseguido ser especialmente cruel numa era de extrema crueldade em seu país: foram dizimados em 40 anos mais de 250 mil indígenas, que formam a imensa maioria da população e padeceram bestialidades permanentes. Não foi ele o único verdugo em décadas de sangue. Mas, vale recordar: soube se destacar pela fúria sangrenta.

Agora esse ancião de 86 anos e olhar perdido conheceu o que sempre negou a quem perseguiu e aniquilou: justiça. No final, a sentença: 80 anos de prisão, por crime de genocídio e delitos contra a humanidade.

PENSAMENTOS DE
SÃO FRANCISCO DE ASSIS
SELMA AMORIM
Composição pedras semipreciosas,
cristais, vegetais perenizados sobre acrílico.
(20x50 cm)
Apenas um raio de sol é suficiente para afastar várias sombras.
Ninguém é suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente destituído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão.
Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.
A cortesia é irmã da caridade, que apaga o ódio e fomenta o amor.
Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente você estará fazendo o impossível.

Todos os seres são iguais, pela sua origem, seus direitos naturais e divinos e seu destino final.