A quaresma é o tempo propício a um maior amadurecimento da fé em Jesus, que toca os corações por sua palavra que nos transfigura. É a palavra humilde e amorosa que nos dá forças para subirmos as montanhas de nossas vidas para fazermos a experiência da glória de e com Jesus. Neste 2º Domingo da Quaresma, a exemplo de Abraão, somos convidados a sair de nós mesmos e confiar nas promessas de Deus, pois, conforme o Apóstolo Paulo nos ensina: todos nós somos chamados à santidade. Em Mateus, porém, somos chamados a transfigurar nossa vida e transformar a realidade em que vivemos.
2º Domingo da quaresma
1ª Leitura: Livro do Gênesis 12, 1-4
Salmo: 32
2ª Leitura: Leitura da Carta de São Paulo a Timóteo 1, 8-10
Evangelho: Mateus 17, 1-9
EVANGELHO - Mateus 17, 1-9
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha. E foi transfigurado diante deles: seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro, então, tomou a palavra e lhe disse: "Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias". Ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E, da nuvem, uma voz dizia: "Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!" Ouvindo isto, os discípulos caíram com o rosto em terra e ficaram muito assustados. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: "Levantai-vos, não tenhais medo". Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Ao descerem da montanha, Jesus recomendou-lhes: "Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos".
Palavra da Salvação – Glória a vós, Senhor.
HOMILIA PROF. DIÁCONO MIGUEL A. TEODORO
Tema: Jesus - O Filho amado de Deus
O Tempo Quaresmal nos propõe condições de avaliarmos nossas ações e conduta diante da realidade em que vivemos. No cotidiano de nossas vidas temos muitos problemas e nos deparamos com inúmeras dificuldades. Porém, para superar problemas e dificuldades é preciso uma atitude radical. É preciso que nos permitamos mudar, ou seja, que nos transformemos a cada dia para melhor. Não podemos nos permitir, hoje, ser pior do que fomos ontem. Mas como eu posso mudar a mim mesmo? Aproveitemos a liturgia deste Domingo para aprendermos com Jesus.
Veja bem: a narrativa da transfiguração, nos três evangelistas sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, é apresentada logo após o anúncio de Jesus sobre os sofrimentos que o esperam em Jerusalém, seguindo-se a repreensão a Pedro que, tomado pela idéia do messias poderoso de Israel, não entende a proposta de Jesus. Estão aí envolvidos dois aspectos, ou seja: o sofrimento e a glória.
Não nos cabe aqui sugerir que o sofrimento é o preço a ser pago para atingir a glória, como em uma barganha. Não. Deus não quer o sofrimento de ninguém. Ao contrário, Ele quer vida abundante para todos os seus filhos e filhas, pois Ele é o Deus do amor, do perdão, da complacência, da justiça e da paz entre os homens de boa vontade. Mas como compreender, então, as mudanças ocorridas no Homem Jesus? Isto nós podemos identificar exatamente na narrativa que Mateus nos apresenta neste 2º Domingo da Quaresma. O que significa a transfiguração de Jesus?
A transfiguração, sobre à qual o evangelista nos fala, é a maravilhosa confirmação de que em Jesus a condição humana é gloriosa, mesmo que seja vulnerável ao sofrimento e à morte, que são passageiros. O realce da dignidade humana, na transfiguração de Jesus, é um apelo aos discípulos e a nós, pois tanto à eles quanto a nós, Jesus convidou a reconhecer a sua verdadeira identidade, colocando em evidência o crime hediondo daqueles que o planejam matar.
Importante mencionar que, esta manifestação gloriosa de Jesus se articula com a manifestação por ocasião do seu batismo por João Batista, ambas com o caráter de uma teofania, isto é, com manifestações de sinais e vozes celestiais extraordinárias.
Observem que: nas duas é feita a proclamação: "Este é meu Filho amado, em quem me comprazo", sendo que na transfiguração é feito o acréscimo: "Ouvi-o!". O Filho amado é o homem Jesus, nascido de Maria, concebido do Espírito Santo, revestido de eternidade em sua humanidade, e nele temos a revelação do reconhecimento da grandiosidade da condição humana, assumida por Deus na encarnação de seu Filho. Jesus é o Filho amado de Deus.
Entendam que, para nos fazer compreender o que vem a ser uma mudança radical de vida, o Evangelista faz uso de uma linguagem que nos conduz à veracidade dos fatos: o cenário, uma alta montanha, e a presença de Moisés e Elias correspondem a uma reapresentação da revelação de Deus. Moisés e Elias subiram à montanha, o Sinai, um para receber a Lei e o outro, para consolidar sua missão profética. Agora ambos vêm a Jesus, transfigurado, para confirmá-lo como a revelação suprema de Deus. Jesus, o simples e humilde homem de Nazaré, na realidade é participante da natureza divina. Repetimos: Jesus é o Filho amado de Deus.
Em nossa realidade, cada um de nós é portador de uma herança cultural, onde podemos identificar marcas profundas relacionadas a culto e poder. Quem de nós poderá dizer ao contrário?
Observemos o cotidiano de nossas vidas. A todos os momentos, onde quer que estejamos, somos levados a discriminar as pessoas, selecionando-as pelos critérios de boa aparência, posses, prestígio, e poder. Comumente são desprezadas as pessoas de condição humilde e destituídas de poder. Eis porque o Tempo Quaresmal nos propõe oportunidades únicas de reflexões. Que tipo de seguidores de Jesus, somos? Como tem sido nossas ações diante dos problemas que afligem milhares de pessoas? Partilho o meu dia-a-dia em casa? Dialogo com o vizinho? Minhas atitudes refletem o Deus que existem dentro de mim, ou revela as ações do maligno? Se eu não estou consonante com a Palavra transformadora de Deus que nós é revelada por Jesus, então tenho que me permitir a um processo de mudança radical. É preciso que eu me permita mudar, transformar. Em outras palavras: preciso me transfigurar.
Subvertendo muitos de nossos critérios e nossos valores, Deus se revela como aquele que se faz presente e se identifica com os perseguidos, marginalizados, oprimidos, espoliados, enganados, famintos, miseráveis, pobres e excluídos. Seres humanos nos quais se pode identificar o verdadeiro Jesus Transfigurado. Este homem Jesus, simples, frágil e vulnerável, é o Filho de Deu presente no tempo, mas já inserido na eternidade, em comunhão de amor com o Pai. A glória manifestada na transfiguração é a transparência do amor, da liberdade e da justiça com que Jesus sempre se relacionou com seus discípulos e com o povo, no dia a dia.
Como os discípulos, cada uma de nós somos chamados por Jesus participar desta glória por sua adesão ao projeto de Deus revelado em seu Filho amado. Jesus nos convida ao desapego dos atrativos e valores de um mundo seduzido pelo poder e pelo dinheiro.
Somos chamados a assumir a partilha, a solidariedade e a comunhão no amor e na misericórdia com nosso próximo, pelo que entramos em comunhão com Deus. O Deus de amor revelado por Jesus leva a uma revisão da imagem de Deus apresentada no Primeiro Testamento, como um Deus que abençoa alguns e amaldiçoa a outros, conforme podemos ver na primeira leitura. Todos, sem discriminações, somos acolhidos como filhos de Deus, em Jesus, e somos chamados a viver, com alegria, o mundo novo de fraternidade, justiça e Paz, na vida plena e revestidos de imortalidade, pela graça de Deus.
Aproveitemos este tempo e roguemos a Deus para que nos ensine a mudar de vida.
ORAÇÃO
Pai, que a transfiguração leve-me a mudar minha vida e que eu possa confessar Jesus como teu Filho amado, e a reconhecer que sou chamado a expressar o esplendor divino que trago dentro de mim. Torne-me, Pai, pela transfiguração de vosso Filho, verdadeira testemunha num mundo tão combalido pelas injustiças.