quarta-feira, 31 de outubro de 2012

AMIGO DA ONÇA - Artigo de James Magalhães de Medeiros


AMIGO DA ONÇA

E
m escrito passado, afirmei, que pelos ensinamentos divinos e da natureza somos levados a viver uma vida alegre, fundamentada no diálogo, na interação e na amizade. O próprio filósofo Aristóteles, frente a essa realidade, afirmou, em sua obra – Ética a Nicómaco: “Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens.”

Portanto, amizade é bem inalienável, pois sentimento pessoal e personalismo, essencial ao viver bem. Mesmo que fosse um desejo pessoal, o homem não suportaria viver na solidão, posto que não é da sua essência.

O grande entrave é como pescar amigo e manter amizade, na sociedade capitalista e interesseira em que vivemos. Nem mesmo Jesus acertou na escolha que fez dos doze amigos e discípulos. Na hora que mais precisou, somente um manteve-se próximo e o acompanhou até o Calvário. Os outros sumiram, um negou três vezes, outro o traiu por trinta moedas, e um terceiro duvidou.

Ao jogarmos a nossa rede sobre o mar social, na busca de amigo e amizade, várias espécies de pessoas aparecerão, naturalmente. O mais importante é fazer a catação de quem tem caráter e personalidade dos que não possui. Aí está a diferença, isto é, saber escolher ou ter a sorte de escolher bem.

Milton Nascimento, em sua Canção da América, define muito sabiamente, sobre o verdadeiro amigo, quando afirma:”Amigo é coisa para se guardar/debaixo de sete chaves/Dentro do coração...”

Se nos deparamos com o contrário, isto é, não pescar amigo ou pensar que o fez, poderemos correr o risco de escolher amigo da onça, antigo personagem da revista “O Cruzeiro”, que passou a simbolizar um amigo não muito leal, muitas vezes uma pessoa falsa ou hipócrita, sendo comum até os dias de hoje tal referência.

Para os mais jovens, o personagem amigo da onça é uma criação do cartunista Péricles de Andrade Maranhão, publicado pela primeira vez na revista “O Cruzeiro”, em 23 de outubro de 1943, através do qual satirizava, ironizava e criticava os costumes, bem como desmascarava seus interlocutores.

Comportamento parecido teve Titus Iulius Phaedrus, nascido na Trácia, e levado para Roma muito jovem, que se rebelava contra os costumes e as injustiças através de suas famosas fábulas. A diferença é que o primeiro se expressava pela charge, enquanto que o segundo por suas fábulas. 

Se você ainda não encontrou o seu verdadeiro amigo, para cultivar a amizade necessária para o seu viver, tenha paciência, pois amigo é coisa rara.