Reinaldo Gonçalves
Membro do MFC de Macapá
Coordenador do CONDIR/NO
O momento que lembramos nossos mortos nos impõe a necessidade de meditar sobre o sentido da existência. É por isso que tem um valor universal que ultrapassa os limites da religiosidade cristã. É o sentido da renascença, da ressurreição.
Um humano quando gasta seu capital energético, envelhece e morre. Segundo estudos científicos, nos próximos dez bilhões de anos o sol terá exaurido seu estoque de hidrogênio e em seguida de hélio, morrerá como estrela brilhante. Lentamente será transformada em um buraco negro. Morrerá carregando consigo muito antes, todo o sistema solar e, infelizmente, a nossa belíssima Terra. O universo é movido por estas leis, ditas entrópicas. Tudo um dia vai desaparecer.
O cristianismo nos oferece uma importante contribuição para a caminhada humana no planeta. A dialética vida-morte-ressurreição é presente em todos os momentos da nossa trajetória. A materialidade humana tem uma saudável dimensão sagrada, somos seres em constante formação, em processo continuado de humanização, somos feitos de acertos, erros, ensaios, vitórias, derrotas. A vida tem valor e nós temos que nos valorizar diante da vida! Ou seja, a vida é sopro Supremo. É o maior patrimônio que se recebe. Ela é necessariamente produção conjunta, social. Nós somos o resultado da relação com outras tantas pessoas.
Para muitos a morte é a negação da vida. O maior pecado do mundo atual é a produção em série de egoísmo e tudo que de mal é produzido.
Os tempos globais de neoliberalismo movem-se pelo individualismo e pela concorrência desenfreada do “ter” mais. A solidariedade não tem vez. Daí perguntar-se: não seria este um dos sintomas do esgotamento do atual sistema social? Seria uma crise conjuntural ou seria estrutural que prepara o desenlace final?
A palavra crise tem a dupla perspectiva de morte e vida. Crise vem de “kir” ou “krl”, que significa limpar e purificar. Daí deriva a palavra crisol, elemento químico purificador do ouro e outros metais, ou acrisolar, que quer dizer purificar e depurar.
Todo processo de purificação implica morte e renascimento. Tudo que passa pela crise permanece e tem essências que fundam um novo futuro.
Por isso tenho fé e crença, na crise, na ressurreição Pascal, na passagem da morte para a vida, na certeza da existência Divina que insiste em ser teimosa, no sentido revolucionário que tem o amor. Nas possibilidades transcendentais da humanidade de construir um mundo novo.