quinta-feira, 14 de maio de 2009






PRESSÃO ALTA PODE SER IGUAL À “FEBRE”?

Participava de um evento científico na cidade de Gramado, neste domingo que passou, e, logo depois de minha apresentação, ouvi de um estimado colega de Porto Alegre (o Eduardo Barbosa) o seguinte comentário, em tom de pergunta: “Mota (como carinhosamente sou chamado depois de perder o nome e dois sobrenomes), depois de suas colocações fico a pensar se a pressão alta não seria como a “febre”. Ou seja, quando temos hipertensão esse achado não significaria que temos uma doença inflamatória, e os números da pressão não seriam assim como uma informação semelhante a que obtemos quando lemos num termômetro que alguma infecção está nos acometendo?”.

Na viagem de volta vinha pensando dentro do avião na colocação de meu amigo. A resposta que lhe ofereci foi: “que pressão alta, ainda diagnosticada no consultório pelo aparecimento de valores acima de 14 x 9, medida pelo menos duas vezes, em duas visitas médicas, na verdade representa uma condição clínica muito mais significativa do que essa simples elevação de números. A pressão alta, de fato, representa um estado de inflamação dos vasos, e a doença pode estar presente mesmo antes dos números se alterarem”.

A questão, não totalmente resolvida, é saber se a pressão sobe primeiro e, por isso, lesa os vasos, ou se os vasos lesados por um processo de inflamação fazem a pressão subir. Do que não duvidamos é que uma coisa piora a outra, ou seja, a pressão alta lesa os vasos e os vasos lesados aumentam a pressão.

No paciente e no público leigo que nos acompanha lendo e comentando o que tenho escrito pode surgir a seguinte inquietação: e que implicação isso poderá ter para o meu tratamento?

Posso afirmar que isso resulta em duas questões cruciais. A primeira é que, se a pressão for mesmo a “febre” devemos antecipar o seu tratamento antes de ela subir? Sendo assim, devemos imaginar que o tratamento dos indivíduos denominados como pré-hipertensos pode significar ganhar tempo na proteção dos vasos.

A outra implicação é saber que tipo de remédio será mais adequado para essa situação. Temos disponíveis remédios para tratar a pressão alta (“a febre”). Temos também remédios para tratar a doença inflamatória dos vasos que pode estar provocando a “febre” (pressão alta).

O que parece ser coisa totalmente resolvida é que algumas atitudes de mudança no estilo de vida podem evitar ou mesmo postergar o aparecimento de doenças nos vasos, evitando a “febre” (pressão alta): diminuir a quantidade de sal na comida; controlar o peso; exercitar-se pelo menos cinco vezes na semana; aumentar a ingestão de frutas, verduras e legumes; cessar o tabagismo e moderar o consumo de bebida alcoólica.

Recomendações que já estamos cansados de ouvir, mas que são de difícil execução. Por isso permitimos que a “febre” apareça, anunciando a doença nos vasos.
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