sábado, 18 de fevereiro de 2012

SEREIS UMA SÓ CARNE - Parte 4 - Artigos do Prof. Felipe Aquino


O FERMENTO DO AMOR

O
 fermento que faz o outro crescer é o amor. Só o amor constrói a pessoa. Toda a vida do casal é motivada pelo amor: é ele que faz sólida e indestrutível a união dos dois, é ele que garante as características do casamento: fidelidade, fecundidade e indissolubilidade. Onde existe o amor verdadeiro não há lugar para a infidelidade, brigas e separações. O verdadeiro amor faz sólida a união do casal e gera uma unidade indissolúvel.

Infelizmente, a palavra “amor” está muito desgastada. Há hoje um falso amor sendo propagado pelos meios de comunicação, principalmente pela TV. Amor não é sentimentalismo, paixão, romance apenas, nem mesmo sexo. Amor é muito mais do que isso. Amor é doar-se a alguém para fazê-lo feliz; é renunciar aos próprios desejos e interesses para construir o outro. Mais até do que um sentimento do coração, o amor é uma decisão, tomada livre e espontaneamente. Quando os noivos sobem ao altar, eles fazem mutuamente uma declaração de amor: “Eu, fulano, te recebo, fulana, como minha esposa, e prometo ser-te fiel na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida”. Isso é muito mais do que uma romântica declaração de amor; é, sobretudo, um juramento consciente prestado ao outro, na presença de Deus e da comunidade.

O verdadeiro amor exige sacrifício. Ninguém o definiu tão bem como São Paulo no capitulo 13 da sua primeira carta aos Coríntios: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crer, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará” (1Cor 13,4-8a).

Se os casais viverem essa caridade, sinônimo de amor fecundo, serão felizes e jamais ocorrerá a separação. Quem não sabe amar de verdade, isto é, quem não perdoa, não compreende, não tem paciência com as limitações e erros do outro, não está preparado para uma vida a dois. Quem não vence o ciúme, a inveja, o próprio orgulho e vaidade, o egoísmo exigente, ainda não sabe amar e não está preparado para o casamento. Aquele que só busca os próprios interesses, que não é capaz de acreditar no outro, que vive irritado, mal-humorado e que não sabe suportar o sofrimento pelo bem do outro, ainda não está preparado para construir uma vida a dois.

Enfim, para amar o outro eu preciso aceitar morrer para mim mesmo, para o meu egoísmo exigente insaciável que é o grande destruidor dos lares. É ele que não permite que as almas e os corações se unam na alegria.

É o amor que une o casal, e a unidade será para eles o vinculo da perfeição. Em que consiste essa unidade? Se você misturar um quilo de arroz com um quilo de feijão, será capaz de separá-lo porque não houve unidade entre eles. Mas se você misturar um copo de café com um copo de leite, você não poderá mais separá-los, porque eles se uniram perfeitamente. Assim deve ser o casamento: Uma unidade perfeita. E é o amor que faz isso. Ninguém e nada poderá separar um casal assim. Essa união exige que desapareça da vida deles o “meu” e o “seu”. A primeira pessoa do singular tem que ser substituída pela primeira pessoa do plural, o “nós”, o “nosso”. Não mais se fala no meu carro, meu dinheiro, minha casa, meu, meu, meu... Não, agora, deve ser o nosso carro, o nosso dinheiro, a nossa casa, os nossos filhos, os nossos problemas, a nossa vida... Se não for assim, não é casamento, não é união é tapeação, é fingimento, é faz-de-conta que estamos casados.

Como é triste encontrarmos tantos casais que vivem mentindo um para o outro e se desrespeitando por palavras e ações. Isso também é infidelidade. Sim, porque a infidelidade não ocorre apenas no campo sexual, mas em todos os campos do relacionamento do casal onde não houver a verdade e a sinceridade.

É lamentável vermos casais que se ofendem mutuamente na frente dos outros e se desrespeitam de muitas formas. Estão desunidos, separados, mesmo que vivam na mesma casa, durma na mesma cama e coma na mesma mesa. No coração, estão separados.

Como é triste vermos casais que mentem um para o outro. A mentira destrói o casamento e a pior peste para a vida conjugal, pois ela racha as paredes do casamento, gera a desconfiança e daí o ciúme, as brigas, até a separação. Não é à toa que Jesus nos advertiu que o demônio é “pai da mentira” (Jo 8,44).

A muitos, por exemplo, que mentem para a esposa o valor do seu salário, com medo que ela gaste muito. É falta de confiança e de amor. Há esposas que “roubam” os próprios maridos. Sim, já ouvi uma mulher dizer que “rouba” dinheiro do esposo, às escondidas, porque ele não dá dinheiro para fazer as unhas, comprar roupas, etc. Ora, isso tudo é lamentável e é sintoma de um casamento profundamente irrealizado. É um faz-de-conta.

O casamento só se realiza de fato quando a vida de cada um é um livro aberto para o outro, sem segredo e mistérios. Somente o casal que vive a união do amor poderá crescer mutuamente. Por isso, é fundamental cultivar essa unidade em todos os aspectos da vida conjugal. Muitos maridos têm o péssimo costume de resolver e decidir tudo sem à participação da esposa. Às vezes, é o contrário: a mulher é que faz e decide tudo sozinha. As duas situações estão erradas. Tudo deve ser resolvido e decidido com a participação de ambos seja na compra de um carro, de um móvel ou na venda de algum bem. Tudo deve ser feito em comum, para que um não venha a culpar o outro se a decisão não foi acertada. Até nas pequenas coisas, como na compra de uma camisa para ele ou de um vestido para ela, os dois podem opinar, pois isso une o casal.

Voltemos àquela imagem com café com leite: sua união é indissolúvel. Assim deve ser o casamento. Mas para isso é preciso que cada um faça morrer o seu egoísmo.