CASAMENTO: A APRENDIZAGEM DO PRAZER
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aber criar ou recriar momentos de prazer é essencial ao ser humano. Ter prazer é o meio pelo qual o ser humano experimenta e nutre seu desejo de viver e, reciprocamente, é seu desejo de viver que lhe permite criar prazeres. Esta interação constitui a história de cada um com a vida e o prazer. Cada qual carrega consigo sua história, sua cultura familiar e religiosa, suas experiências, as quais são responsáveis por modelar nele sua capacidade de dar-se e de dar prazer. Em especial, o modo como cada um se relacionou e se relaciona com o próprio corpo atua como um inibidor ou um facilitador das experiências de prazer, já que o prazer é da ordem do sentir corporal.
A BUSCA DO PRAZER NO CASAMENTO
O meio mais natural, senão o mais fácil, de mostrar o amor, no casamento, é criar prazer juntos e permanecer enamorados. Pode um cônjuge dizer ao outro Eu te amo, mas teu prazer me é indiferente? Eu te amo, mas não tenho mais desejo de dar-te prazer? Eu te amo, mas meu prazer não depende de ti?
Quando o casal não consegue encontrar junto o prazer, ele está em perigo. Se os desprazeres ultrapassam os prazeres, podemos dizer que o motor que move o casal está com falta de combustível.
O prazer do qual estamos falando não é apenas o prazer sexual. Embora as relações sexuais sejam a fonte e a expressão privilegiadas do prazer, todos os outros prazeres podem ter a função específica de fazer explodir a conivência profunda do casal. Esses momentos de prazer, encontrados nos projetos conjuntos do casal, na realização de seus sonhos, nos momentos de lazer, na superação conjunta das dificuldades, nutrem o desejo de viver e são o combustível de que falávamos antes. Por tudo isso, fica combinado, é preciso cuidar do prazer! Quando ele lhe é dado com facilidade, aproveite! Quando o período é sombrio e as dificuldades se acumulam, procure-o com esperança e perseverança, seu casamento tem necessidade dele para viver.
E O SACRIFÍCIO TEM LUGAR NA VIDA DE UM CASAL?
Uma renúncia ao prazer, aos desejos e impulsos naturais, tem sentido quando feita para o bem, próprio ou de outrem. O parceiro muitas vezes será a motivação e a inspiração para o sacrifício, mas ele não é o seu determinante. Aquele que o faz quer obter algo melhor e mais rico, a médio e longo prazo, por isso sacrifica o que é prazer a curto prazo. Este tipo de sacrifício é obviamente desejável numa vida comum prazerosa. Mas a renúncia que lesiona a própria individualidade e fere os próprios limites é indesejável e traz conseqüências danosas para o relacionamento, porque uma das partes sente que a outra lhe deve algo e pode cobrar o que desejar sem respeitar as possibilidades do outro.
Para que um casamento seja de fato uma união verdadeira de corpos e almas, será necessário que os cônjuges tenham a liberdade de escolha reafirmada ao longo do casamento, no qual as renúncias jamais resultem em lesões à vida de cada um. O casal deve ter bem presente que sacrifícios têm sentido quando deles se extrai o bem e o crescimento da própria vida. Os sacrifícios que violentam e desrespeitam os próprios limites trazem prejuízos e lesões, em nada construtivos.
Embora seja certo que encontraremos em todo casal um número significativo de diferenças que exigem sacrifícios, para bem administrá-las, também é necessário que exista um número grande de igualdades. Não só de oposições se faz um vínculo de casal, pois, com tudo difícil e sacrificado, a vida se tornaria um inferno. Quase nada aconteceria com facilidade e prazer, um teria sempre de fazer um esforço para encontrar-se com o outro e raramente aconteceria gostarem das mesmas coisas. Enfim, a vida em comum seria composta de muitos sacrifícios, renúncias e desencontros e, nestas condições, dificilmente as diferenças poderiam ser vividas de maneira criativa.
Num relacionamento de casal é preciso que em muitos aspectos as coisas sejam prazerosas, leves e fáceis, e os cônjuges concordem sem esforço, valorizem ou gostem espontaneamente de muitas coisas em comum e que existam atividades pelas quais os dois se interessem e onde se encontrem como bons companheiros.
Como tudo o que é vivo, a relação conjugal sadia deve ter os momentos de encontro e os de confronto, nos quais as vivências das polaridades e diferenças possam trazer transformações. Se do sacrifício não resultam transformações, para que o sacrifício?
O casal que vive com prazer o companheirismo, com certeza terá mais facilidade para administrar o sofrimento quando este se fizer sentir e não puder ser evitado.