A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO
Tentando explicar a morte de Isabella, cujo pai e madrasta foram condenados por assassinato, a psiquiatra Idete Bizzi escreveu no Jornal Zero: “Se a psicanálise pode oferecer algo para a prevenção destes casos, é a proposta de encontro. Consigo e com os demais. Vínculos mais fortes e estáveis forjam adultos mais capazes de amar e respeitar a si e ao próximo e mais apto a conviver, dentro de si, com sentimentos pouco nobres, mas universais, como ciúme, raiva, ódio. O encontro honesto com nossas verdades mais profundas, incluindo o que temos de pior, fortalece sempre o que temos de melhor”.
Em tempos de corre-corre, poucos são os “encontros” que nos oportunizamos, seja conosco mesmos, seja com o próximo. E como amar, se não nos conhecemos, e não nos encontramos? Como educar se não convivemos?
A AUSÊNCIA DA MÃE E/OU DO PAI NA INFÂNCIA DO FILHO DIFICULTA A FORMAÇÃO DO VÍNCULO
Dioclecio Campos Jr. (Correio Braziliense) faz oportuno comentário em relação ao fortalecimento de vínculo mãe-filho-pai e outras pessoas do grupo social: “Algumas mudanças de costumes do mundo moderno revelaram-se inelutáveis. A maior delas se deu na maternidade, alterada pelas novas atribuições que a mulher passou a ter. A função maternal perdeu relevo, dispõe de pouco tempo. O binômio mãe-filho cedeu lugar ao bebê solitário, habitante de creches, cuidado por babás ou pela tia de todos. O aleitamento materno substituiu-se por alternativas artificiais de alimentação. Essa realidade nega direitos à mulher e à criança. Direitos cuja doutrina se fortalece à medida em que a ciência mostra o caráter essencial da relação mãe-filho nos primeiros tempos da existência da criatura.
Com efeito, o cérebro humano cresce com velocidade máxima durante os três últimos meses de gestação e nos seis primeiros de vida extra-uterina. Se não cumprir as metas desse período, não se desenvolverá normalmente. Para crescer no ritmo apropriado, requer nutrientes e estímulos. Os primeiros abundam no leite materno. Os estímulos vêm com a mãe. O contato corporal com o filho, o som afetuoso emitido a cada carícia, o odor exalado em cada afago, o sorriso de alegria, o olhar radioso, o embalo espontâneo e a cantiga que brota da alma encantada são estímulos maternos que fazem o cérebro da criança crescer, decisivas para o seu desenvolvimento mental. O aconchego resultante de uma interação sensorial tão estreita dá à criança a sensação de pertencimento, referência insubstituível para a estruturação de sua personalidade. Segundo Pedersen, psiquiatra da Universidade de Carolina do Norte, a quantidade e a qualidade dos cuidados maternos nos três primeiros anos de vida determinam a competência social do adulto, a habilidade de lidar com o estresse, a agressividade e mesmo a opção pelo uso de drogas.
Há sistemas neuroquímicos, desenvolvidos no cérebro da criança, que operam em sintonia com o afeto materno, reforçando o equilíbrio emocional ou gerando agressividade e outros comportamentos sociais. São sistemas sensíveis aos cuidados com a criança durante os primeiros anos de vida. Seus efeitos dependem do vínculo afetivo que se estabelece entre a mãe, a criança, o pai e a família como primeiro grupo social. Garantem relações estáveis ou podem ser a fonte da violência humana. Por isso, as sociedades que projetam o futuro criam redes sociais de proteção materna, preocupadas com a formação do cidadão”.
DEFICIENTES INTERAÇÕES COM PAIS E CUIDADORES NÃO SÃO OS ÚNICOS RESPONSÁVEIS PELA EXPLOSÃO DA AGRESSIVIDADE
Quando, por uma série de motivos, a vinculação afetiva (o vínculo de pertencimento) não acontece na infância é muito provável que tenhamos um adulto incapaz de vincular-se no casamento e nos grupos sociais, com facilidade para o descontrole das emoções, caminhando para a agressividade. Um tratamento adequado que promova encontros, consigo e com os outros, é caminho para formação de uma personalidade saudável. Tendo em mente que a conquista da sensação de pertença a uma família e/ou a um grupo é um processo que dura uma vida.
Outros fatores interferem: Falhas no processo de vinculação durante a infância, somadas a tendências genéticas e/ou a conflitos interpessoais e traumas da vida adulta, são fatores que facilitam a explosão da agressividade em prejuízo à vida, ou ao bem estar próprio e dos outros.