Sem pausa, corpo se desgasta e não há melhora no condicionamento físico
Respeitar a pausa indicada entre um treino e outro é tão importante quanto fazer exercícios corretamente toda semana.
Para que a ginástica possa ser realmente eficaz, o corpo precisa de um tempo de descanso, já que é nessa hora que os músculos se recuperam do desgaste sofrido com o exercício.
“Durante um treinamento não estamos ganhando ou melhorando nada. Pelo contrário, estamos gerando uma piora momentânea de nosso estado físico geral. É durante o repouso que o organismo promove adaptações para ser capaz de suportar melhor e com mais eficiência as sobrecargas que lhe foram aplicadas, ficando mais condicionado do que anteriormente”, avalia Fernando Torres, médico esportivo e coordenador do curso de Fisiologia do Exercício do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“Se não der tempo para o corpo se recuperar, o trabalho não trará resultado”, completa o professor de educação física e diretor clínico da Pelé Club, Thales Martins.
A orientação vale tanto para o treino aeróbico quanto para a musculação. Nos dois casos, o aluno deve ter uma seqüência de exercícios organizada de modo que misture dias intensos e calmos para evitar estresse do corpo e promover a recuperação. “Se a pessoa treinar cinco vezes por semana, por exemplo, dois desses dias terão que ser mais regenerativos. O profissional deve variar dentro das ferramentas de planejamento de modo que o aluno não esteja extenuado no fim da semana”, aconselha Thales.
DURANTE O TREINO
A pausa é essencial não somente entre um dia e outro, mas também durante os exercícios. “Essa é uma das variáveis mais negligenciadas durante o planejamento do treino. Os intervalos nem sempre são respeitados, principalmente em academias, onde muitas vezes a conversa ou a pressa de ir embora faz com que isso seja desprezado”, avalia Torres. O médico, no entanto, alerta para a importância desse período, que tem papel decisivo na conquista de um melhor condicionamento físico. Segundo ele, a prática é essencial para evitar futuras lesões.
LESÕES E OVERTRAINNING
O desgaste excessivo e contínuo resultará em um quadro chamado pelos especialistas de “overtraining” (treinamento em excesso, em português). “A condição é mais do que uma simples incapacidade temporária de treinar com a intensidade habitual ou de uma ligeira queda no nível de desempenho. Envolve um cansaço mais crônico e está associado também com insônia, perda de peso, depressão e irritabilidade”, alerta Torres. “A pessoa pode ficar mais ansiosa e o sistema imunológico perde resistência”, afirma Martins. As lesões também são mais freqüentes nesse quadro. Desrespeitar o período de pausa pode sobrecarregar músculos e ligamentos, causando inflamações e até rupturas.
EQUILÍBRIO É FUNDAMENTAL
O descanso exagerado também pode prejudicar o corpo, provocando um “choque” toda vez que a pessoa voltar a se exercitar. O resultado é o mesmo de quem não respeita o tempo de descanso: não há ganho muscular ou aeróbico.
Por isso, a recomendação é equilíbrio e respeito ao próprio corpo e às orientações dos profissionais especializados, que poderão indicar qual o tempo apropriado de pausa entre os treinos. O período ideal depende de cada indivíduo e da carga que está sendo utilizada.
Em geral, esse tempo está definido entre 24, 48 ou 72 horas, dependendo do treinamento. “Os intervalos variam conforme o tipo de atividade (aeróbia ou anaeróbia), a intensidade e a duração, sendo que indivíduos diferentes podem reagir também de modo diferente a uma mesma carga de exercícios”, avalia Torres.
Chris Bertelli, iG São Paulo