segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CORREIO MFC BRASIL Nº 272


O bom exemplo começa nas terras brasileiras. Povo nas ruas contra a corrupção intolerável. Trata-se de dar força ao governo para levar às últimas consequências a faxina ainda em curso. A cada momento surge um novo foco de micróbios a exterminar. A ação sanitária vai higienizando o cenário em que nos movemos e recuperando riquezas dos cofres de todos desviados para os cofres de poucos.
  
O POVO TOMA OS PALCOS DO MUNDO

Helio Amorim
MFC/RJ

Esses movimentos populares que explodem por nosso país devem inibir a sanha faminta dos grandes corruptos e amedrontar os pequenos punguistas de propinas miúdas que se inspiram nos exemplos de cima. Servirão também para ativar a consciência preguiçosa dos corruptores, que cedem a ameaças e compram cumplicidades sem aceitar a culpa da construção dessa cultura antiética.

Na outra parte do mundo, um pouco para leste do planeta, o povo gostou de descobrir o seu poder e derrubou tiranos, ocupando as praças e morrendo nas ruas pela vitória da liberdade. A luta e a morte continuam até a remoção dos opressores remanescentes, às vezes apadrinhados por interesses políticos e econômicos do oeste daquele cenário.

A surpresa recente está justamente nessas bandas ocidentais em crise econômica. As praças dos Estados Unidos e Europa estão cheias de povo esbravejando contra o sistema capitalista, perverso por natureza, baseado numa competição desumana que esmaga os mais fracos pelo desemprego e apropriação de renda, em qualquer tropeço das grandes jogadas financeiras de bancos e investidores, enriquecidos pela pura especulação dos mercados.

Nestes cassinos, circulam lucros fantásticos gerados pela esperteza nas bolsas, onde se ganham fortunas sem se produzir nada de útil para minorar as disparidades sociais do mundo, ainda castigado por fome, miséria e doenças endêmicas.

Ver multidões de europeus e norte-americanos nas ruas, com cartazes de protesto contra o modelo econômico, por lá desenvolvido e exportado, deixa surpreso até o ferrenho comunista da guerra fria, recordando as perseguições do macarthismo pelos seus mesmos protestos dos anos setenta. No comportado e sisudo Reino Unido, os protestos incluíram incêndios de prédios e veículos, um quebra-quebra de subdesenvolvidos, como aqueles lordes rotulavam os selvagens do hemisfério sul. Outros incêndios são filmados em outras terras elegantes e circulam por nossas telas espantadas.

A crise européia é evidente, agravada pela imposição de restrições e supressão de programas sociais e políticas públicas trabalhistas e previdenciárias, redução de salários e aposentadorias, demissões selvagens, taxas até então desconhecidas de desemprego, a Espanha liderando com escandalosos vinte por cento, sem perspectivas de recuperação.

Os mais pobres, que sempre são os primeiros a pagar a conta das crises, têm agora, naqueles países, a companhia de milhões de desempregados de todas as classes sociais que não conheciam a ociosidade forçada e contas bancárias zeradas. São os que nestes dias ocupam ruas e praças do mundo rico.

Ainda não se sabe o que vai resultar da crise atual sistêmica, iniciada há menos de três anos. A mobilização para socorro dos países quebrados encontra os habituais salvadores debilitados. Surge então um movimento surrealista: os países até então devedores explorados pelo FMI, agora saudáveis credores do Fundo, se propõem a ajudar os ricos enfermos. Prato feito para os comentaristas econômicos.

O que se tornou evidente é que o modelo capitalista vigente não é o cenário final e eterno para o mundo, como proclamado pelos fukuyamas de plantão dos anos recentes de prosperidade ilusória, gastança irresponsável e destrutiva de gentes e da natureza, inclusive com guerras absurdas que finalmente poderão terminar por falência econômica das potências bélicas. A paz inesperada pode surgir por quebra financeira dos belicistas. Será uma página dourada para a história.