segunda-feira, 30 de julho de 2012

CORREIO MFC BRASIL Nº 292


VATICANO II FOI PONTO DE PARTIDA
HELIO AMORIM – MFC/RJ

C
inquenta anos depois, os documentos do Concílio Vaticano II continuam sendo interpretados segundo as concepções de cada pessoa ou grupo na Igreja. O que de fato fez brotar do Concílio essa atmosfera renovadora foi o sopro de liberdade que marcou o seu anúncio. A partir da convocação de João XXIII para o aggiornamento da Igreja, o Concílio incentivou uma fantástica produção teológica que nem esperou o seu término.

A visão de si mesma, que predominava na Igreja, até então, foi redefinida. No Concílio de Trento, a Igreja havia adotado uma estrutura mais autoritária, com cada vez menos participação do povo cristão. O leigo seria sempre um possível herege, revoltado em potencial, desobediente que é preciso reprimir. A Igreja temia que as idéias democráticas que surgiam no mundo político penetrassem no seu espaço sagrado. Os textos do Concílio Vaticano II e os discursos dos papas desde então proclamam sua adesão à democracia.

Passam a ser valorizadas as Conferências Episcopais nacionais, criam-se conselhos diocesanos e paroquiais com a participação de leigos que assumem uma função essencial e própria na missão da Igreja, destacadamente na ordem temporal.

Ocorre que essas boas disposições foram a grande novidade dos anos 60-70. Na prática, nem todas estão funcionando hoje como se esperava. Mas houve avanços que se consolidaram, sem risco de retornos não acolhidos pelos leigos, atualmente mais amadurecidos do que no passado.

A partir do Concílio, a Igreja não mais se confunde com a instituição e sua estrutura hierárquica. Não a suprime, obviamente, mas não se reduz à instituição. A Igreja que ressurge renovada do Concílio Vaticano II é fundamentalmente o povo cristão. O povo que assume, como seu, o projeto de Deus para o homem e para o mundo.
Lumen Gentium adota a expressão Povo de Deus para designar a Igreja. A Gaudium et Spes trata exaustivamente da presença transformadora dessa Igreja no mundo. Esses são os dois documentos-chaves produzidos pelo Concílio Vaticano II, para a autocompreensão da Igreja e da sua missão na história humana.

No Concílio, surgiu uma eclesiologia renovada e mais evangélica, que a muitos parece ter ido além do aggiornamento pretendido por João XXIII ao convocá-lo. Todos conhecemos as reações iniciais a alguns textos conciliares e, ainda hoje, algumas de suas lúcidas indicações permanecem ignoradas por muitos clérigos, que reagem às mudanças por elas exigidas no ser, na vida e na ação da Igreja. Mas não há retorno possível depois da liberdade proclamada.

TEMPO DE TRANSPARÊNCIA

S
alários dos funcionários do executivo vão para o site. Todos os cidadãos poderão saber o que ganham. Sabemos que o funcionário público concursado, de carreira, não ficará rico com seu salário. Mas existem atalhos espertos que produzem distorções curiosas e extrapolam bastante o limite generoso fixado por lei para o topo das promoções. Certamente surgirão revelações saudáveis para que sejam corrigidas as espertezas.

Mais interessante, provavelmente, serão as descobertas no legislativo, se tiverem a coragem de estender essa transparência aos não concursados do parlamento, onde se multiplicam as trocas de “favores empregatícios” entre parlamentares para disfarçar o nepotismo.

O judiciário pode vir a aderir à transparência geral conforme já anunciam ministros do Tribunal maior. Há reações estranhas da corporação. A conferir.

Ao mesmo tempo, abrem-se os arquivos ainda protegidos dos tempos de ditadura. Mortes e torturas reveladas sem reservas, com nomes das vítimas e dos autores da barbárie. Quem foi constrangido por desrespeitos à sua integridade física ou psíquica vai poder conhecer alguns fatos de sua vida de que já nem lembrava e uma enorme quantidade de tolices registradas nos arquivos da repressão por investigadores desastrados.