“Os argumentos
bíblicos, teológicos e místicos aduzidos pela hierarquia para fazer a apologia
ou para justificar o Celibato sacerdotal obrigatório, como necessidade absoluta
para a Igreja, não resistem a uma boa análise teológica, psicológica, antropológica
ou sociológica”.
O CELIBATO
EXIGIDO
JOÃO TAVARES
ENTREVISTA A
EDISON VEIGA DE O ESTADO DE SÃO PAULO
João Tavares, padre casado |
Esse apego
secular, exasperado e exasperante ao celibato obrigatório no sacerdócio, é
muito mais de origem platônica (para Platão o corpo era um mal e a alma era sua
prisioneira, doida para se libertar dessa prisão...) e agostiniana do que
propriamente cristã (Agostinho era um neoplatônico brilhante de vida devassa na
juventude que, convertido e feito bispo de Hipona, se tornou um grande misógino).
A
|
hierarquia nunca lidou bem e serenamente com o
corpo, a erótica, a sexualidade e a afetividade. A disciplina do celibato
simplesmente é assim há séculos e continua a ser assim porque convém à
hierarquia que assim seja. Garante muito mais a economia e, sobretudo, o férreo
esquema de poder interno na hierarquia. A Igreja romana não está preparada, nem
quer começar a se preparar para um clero casado, pois isso iria destruir seu
atual esquema de poder, que é constantiniano, mundano, não cristão.
Se
ter uma família atrapalharia o ministério sacerdotal? - eu diria que
modificaria o modo atual de ser padre.
Primeiro,
o padre teria menos tempo para a pastoral. Mas aí eu pergunto: quantos padres,
realmente, dão à pastoral, todo o seu tempo? Porque tantos são professores,
psicólogos, cantores, etc.? Por que padre passeia tanto, inclusive para o
estrangeiro?
Segundo,
o padre, provavelmente, seria um homem mais humano, mais natural, mais
pé-no-chão, mais misericórdia, mais compaixão, mais partilha da
responsabilidade, menos poder centralizado em suas mãos, mais responsabilidade
e maturidade na sua sexualidade e afetividade.
E
as famílias confiariam mais nele para entregarem seus filhos aos cuidados dele.
Além
disso, tendo também de cuidar de sua família, seria bem mais relativista no
trato com casais, jovens e crianças. E bem mais entrosado com a realidade da
vida concreta, inclusiva a vida afetiva, financeira, do trabalho, etc... E bem
mais pé no chão nas suas homilias.
Nesse
ponto do sacerdote da ativa casado, do celibato opcional, vale uma comparação,
tanto com as Igrejas Ortodoxas como com as Igrejas ditas Protestantes (não
aceito a designação "evangélica" como distintiva delas em relação à
católica!) que há muito vêm resolvendo bem esses problemas. Temos bons padres
casados na Ortodoxa e bons padres e bispos casados nas Protestantes. Mas,
naturalmente, com esquemas econômicos e de poder muito mais simples e democrático
do que o esquema/estrutura católicos de poder hierárquico fechado e com total
exclusão dos leigos.
No
ano passado, por exemplo, o setor leigo na Convenção Anglicana na Inglaterra,
impediu as mulheres de ascenderem ao Episcopado. Contra a vontade do Arcebispo
de Cantuária, chefe da Igreja Anglicana e contra a maioria dos votos dos padres
e bispos. Coisa impossível numa Igreja católica com o Poder total na mão do
alto Clero. Na mesma Igreja católica, mas de rito oriental, os padres podem
casar.
E
não consta que sejam piores ou menos eficientes do que os padres
obrigatoriamente celibatários da Igreja. Há também um outro fator importante.
Se o celibato é um conselho evangélico, um carisma especial dado por Deus, ele
é um carisma pessoal. Portanto não pode ser imposto por uma lei eclesiástica
que não tem fundamentação sólida nem na Bíblia nem na Teologia.
*Reprodução
parcial de entrevista mais extensa de João Tavares, padre casado.
Editorial
AS RUAS
FALAM
O
|
s
jovens acordaram. A geração mais idosa já estava preocupada pelo silêncio
juvenil acomodado há tanto tempo. Agora, tomam conta das ruas, fazem política
espontânea razoavelmente organizada, sem lideranças espertas nem iniciativas ou
monitoramento de organismos, sindicatos ou partidos políticos.
Manifestam
sua indignação contra políticas injustas e a falta de políticas sociais e
econômicas necessárias e urgentes. O problema de difícil solução é barrar a
infiltração de vândalos, talvez manipulados por grupos excluídos das
manifestações, programadas como ruidosas, mas pacíficas. A polícia tem
dificuldade de agir por causa da mistura confusa de reivindicações legítimas da
parte maior e sadia daquela multidão, com a fúria enlouquecida da destruição de
pequenos grupos mascarados, que enfraquece a voz legítima das ruas.
Surgem
defensores dos predadores atribuindo-lhes uma ideologia que se expressa no
quebra-quebra de bancos e lojas de luxo, como símbolos de uma sociedade
capitalista desigual e injusta, mas a tese não é convincente, os rostos
cobertos confirmam a intenção do anonimato na destruição pela destruição.
Os
feridos nos confrontos e os prejuízos para os bens públicos e privados acabam
sendo atribuídos a todos, sem uma possível distinção senão pelas máscaras da
covardia. A polícia deve ter recursos e inteligência para separar o joio do
trigo, desenvolvendo estratégias adequadas sem a violência contraproducente do
cassetete que só piora o quadro.
Por
enquanto ainda não se percebe o preparo dos seus agentes para enfrentar esse
problema, que chegou para ficar e tentar dominar o movimento. Os jovens que
saíram do descanso prolongado e foram para as avenidas do país devem também
agir com inteligência e firmeza pacífica contra os que deformam a beleza de
seus movimentos aplaudidos pela população. Sigam nas ruas na luta incansável
pela justiça.
A POESIA DE
RUBEM ALVES
“Contei meus anos e descobri...
Que terei menos tempo para viver do que já tive até
agora...
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia
de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...”
“Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte...
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência... Minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana... muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade...”
“Amor é isto: a dialética entre a alegria do
encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de
novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a
própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está
preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de
graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera.
E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena
suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.”
Economia
OPINIÕES
UM ASSUNTO
QUENTE PARA DEBATER
POR LUÍS
ARTUR NOGUEIRA E HUGO CILO
Q
|
uantas
características são comuns aos economistas Antonio Delfim Netto, Luiz Carlos
Mendonça de Barros e Francisco Lafaiete de Pádua Lopes, mais conhecido como
Chico Lopes? Muitas. Além de serem veteranos na mesma profissão, os três já
ocuparam cargos importantes na área econômica federal, em épocas distintas.
Nos
últimos meses, seus discursos para plateias públicas e privadas têm cada vez
mais pontos convergentes quando tratam do atual momento econômico do Brasil. Ao
contrário do que boa parte do mercado financeiro prega, esses três economistas
não acham que o País esteja a caminho da recessão e da bancarrota. Na verdade,
esse trio de cavaleiros contra o apocalipse enxerga o copo meio cheio enquanto
outros analistas só o veem meio vazio. O noticiário econômico da semana passada
resume bem esse quadro. Contra cada indicador divulgado, havia sempre uma
saraivada de críticas. O desemprego caiu de 6,0% em junho para 5,6% em julho.
Mas os críticos ressaltaram que o índice era inferior aos 5,4% registrados no
ano passado.
Entre
vagas abertas e fechadas, a economia formal gerou um saldo positivo de 41,5
mil, em julho. Porém, o mercado reclamou que foi o pior resultado em dez anos.
A prévia da inflação oficial de agosto ficou em 0,16%, bem abaixo do 0,39% do
mesmo período do ano passado. Os pessimistas, no entanto, argumentaram que o
índice de preços mais que dobrou em relação ao 0,07% de julho. Em termos anualizados,
a economia estará crescendo perto dos 4%, mas o mau humor de plantão dirá que o
terceiro trimestre, que mal passou da sua metade, será muito pior – talvez até
recessivo...