sexta-feira, 6 de setembro de 2013

CORREIO MFC BRASIL Nº 334

   
“Os argumentos bíblicos, teológicos e místicos aduzidos pela hierarquia para fazer a apologia ou para justificar o Celibato sacerdotal obrigatório, como necessidade absoluta para a Igreja, não resistem a uma boa análise teológica, psicológica, antropológica ou sociológica”.

O CELIBATO EXIGIDO
JOÃO TAVARES
ENTREVISTA A EDISON VEIGA DE O ESTADO DE SÃO PAULO

João Tavares, padre casado
Esse apego secular, exasperado e exasperante ao celibato obrigatório no sacerdócio, é muito mais de origem platônica (para Platão o corpo era um mal e a alma era sua prisioneira, doida para se libertar dessa prisão...) e agostiniana do que propriamente cristã (Agostinho era um neoplatônico brilhante de vida devassa na juventude que, convertido e feito bispo de Hipona, se tornou um grande misógino).

A
 hierarquia nunca lidou bem e serenamente com o corpo, a erótica, a sexualidade e a afetividade. A disciplina do celibato simplesmente é assim há séculos e continua a ser assim porque convém à hierarquia que assim seja. Garante muito mais a economia e, sobretudo, o férreo esquema de poder interno na hierarquia. A Igreja romana não está preparada, nem quer começar a se preparar para um clero casado, pois isso iria destruir seu atual esquema de poder, que é constantiniano, mundano, não cristão.

Se ter uma família atrapalharia o ministério sacerdotal? - eu diria que modificaria o modo atual de ser padre.

Primeiro, o padre teria menos tempo para a pastoral. Mas aí eu pergunto: quantos padres, realmente, dão à pastoral, todo o seu tempo? Porque tantos são professores, psicólogos, cantores, etc.? Por que padre passeia tanto, inclusive para o estrangeiro?

Segundo, o padre, provavelmente, seria um homem mais humano, mais natural, mais pé-no-chão, mais misericórdia, mais compaixão, mais partilha da responsabilidade, menos poder centralizado em suas mãos, mais responsabilidade e maturidade na sua sexualidade e afetividade.

E as famílias confiariam mais nele para entregarem seus filhos aos cuidados dele.

Além disso, tendo também de cuidar de sua família, seria bem mais relativista no trato com casais, jovens e crianças. E bem mais entrosado com a realidade da vida concreta, inclusiva a vida afetiva, financeira, do trabalho, etc... E bem mais pé no chão nas suas homilias.

Nesse ponto do sacerdote da ativa casado, do celibato opcional, vale uma comparação, tanto com as Igrejas Ortodoxas como com as Igrejas ditas Protestantes (não aceito a designação "evangélica" como distintiva delas em relação à católica!) que há muito vêm resolvendo bem esses problemas. Temos bons padres casados na Ortodoxa e bons padres e bispos casados nas Protestantes. Mas, naturalmente, com esquemas econômicos e de poder muito mais simples e democrático do que o esquema/estrutura católicos de poder hierárquico fechado e com total exclusão dos leigos.

No ano passado, por exemplo, o setor leigo na Convenção Anglicana na Inglaterra, impediu as mulheres de ascenderem ao Episcopado. Contra a vontade do Arcebispo de Cantuária, chefe da Igreja Anglicana e contra a maioria dos votos dos padres e bispos. Coisa impossível numa Igreja católica com o Poder total na mão do alto Clero. Na mesma Igreja católica, mas de rito oriental, os padres podem casar.

E não consta que sejam piores ou menos eficientes do que os padres obrigatoriamente celibatários da Igreja. Há também um outro fator importante. Se o celibato é um conselho evangélico, um carisma especial dado por Deus, ele é um carisma pessoal. Portanto não pode ser imposto por uma lei eclesiástica que não tem fundamentação sólida nem na Bíblia nem na Teologia.

*Reprodução parcial de entrevista mais extensa de João Tavares, padre casado.

Editorial
AS RUAS FALAM
 
Multidão cerca o Congresso Nacional
O
s jovens acordaram. A geração mais idosa já estava preocupada pelo silêncio juvenil acomodado há tanto tempo. Agora, tomam conta das ruas, fazem política espontânea razoavelmente organizada, sem lideranças espertas nem iniciativas ou monitoramento de organismos, sindicatos ou partidos políticos.

Manifestam sua indignação contra políticas injustas e a falta de políticas sociais e econômicas necessárias e urgentes. O problema de difícil solução é barrar a infiltração de vândalos, talvez manipulados por grupos excluídos das manifestações, programadas como ruidosas, mas pacíficas. A polícia tem dificuldade de agir por causa da mistura confusa de reivindicações legítimas da parte maior e sadia daquela multidão, com a fúria enlouquecida da destruição de pequenos grupos mascarados, que enfraquece a voz legítima das ruas.

Surgem defensores dos predadores atribuindo-lhes uma ideologia que se expressa no quebra-quebra de bancos e lojas de luxo, como símbolos de uma sociedade capitalista desigual e injusta, mas a tese não é convincente, os rostos cobertos confirmam a intenção do anonimato na destruição pela destruição.

Os feridos nos confrontos e os prejuízos para os bens públicos e privados acabam sendo atribuídos a todos, sem uma possível distinção senão pelas máscaras da covardia. A polícia deve ter recursos e inteligência para separar o joio do trigo, desenvolvendo estratégias adequadas sem a violência contraproducente do cassetete que só piora o quadro.

Por enquanto ainda não se percebe o preparo dos seus agentes para enfrentar esse problema, que chegou para ficar e tentar dominar o movimento. Os jovens que saíram do descanso prolongado e foram para as avenidas do país devem também agir com inteligência e firmeza pacífica contra os que deformam a beleza de seus movimentos aplaudidos pela população. Sigam nas ruas na luta incansável pela justiça.

A POESIA DE RUBEM ALVES
   
Rubem Alves
“Contei meus anos e descobri...
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora...
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...”

“Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte...
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência... Minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana... muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade...”

“Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.”


Economia
OPINIÕES
UM ASSUNTO QUENTE PARA DEBATER
POR LUÍS ARTUR NOGUEIRA E HUGO CILO

   

Q
uantas características são comuns aos economistas Antonio Delfim Netto, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Francisco Lafaiete de Pádua Lopes, mais conhecido como Chico Lopes? Muitas. Além de serem veteranos na mesma profissão, os três já ocuparam cargos importantes na área econômica federal, em épocas distintas.

Nos últimos meses, seus discursos para plateias públicas e privadas têm cada vez mais pontos convergentes quando tratam do atual momento econômico do Brasil. Ao contrário do que boa parte do mercado financeiro prega, esses três economistas não acham que o País esteja a caminho da recessão e da bancarrota. Na verdade, esse trio de cavaleiros contra o apocalipse enxerga o copo meio cheio enquanto outros analistas só o veem meio vazio. O noticiário econômico da semana passada resume bem esse quadro. Contra cada indicador divulgado, havia sempre uma saraivada de críticas. O desemprego caiu de 6,0% em junho para 5,6% em julho. Mas os críticos ressaltaram que o índice era inferior aos 5,4% registrados no ano passado.

Entre vagas abertas e fechadas, a economia formal gerou um saldo positivo de 41,5 mil, em julho. Porém, o mercado reclamou que foi o pior resultado em dez anos. A prévia da inflação oficial de agosto ficou em 0,16%, bem abaixo do 0,39% do mesmo período do ano passado. Os pessimistas, no entanto, argumentaram que o índice de preços mais que dobrou em relação ao 0,07% de julho. Em termos anualizados, a economia estará crescendo perto dos 4%, mas o mau humor de plantão dirá que o terceiro trimestre, que mal passou da sua metade, será muito pior – talvez até recessivo...