“EU NÃO SOU AQUELE
QUE PENSAIS QUE EU SOU!”
Festa de São João Batista, o filho de Zacarias e de Isabel. É o maior de todos os profetas, porque sua missão foi preparar a vinda e indicar a presença do Verbo encarnado no meio dos homens. Exerceu a sua missão com muita honestidade e não permitiu que ninguém o endeusasse. Que seu exemplo nos estimule a cumprir a nossa missão, sem jamais pretender ser o que não somos.
NATIVIDADE DE
SÃO JOÃO BATISTA
1ª Leitura: Is 49,1-6
Salmo Responsório: 138
2ª Leitura: At 13,22-26
Evangelho: Lc 1,57-66.80
EVANGELHO
LUCAS 1,57-66.80
57Completou-se o tempo da gravidez de Isabel, e ela deu à luz um filho. 58Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela. 59No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60A mãe, porém, disse: “Não! Ele vai chamar-se João”.
61Os outros disseram: “Não existe nenhum parente teu com esse nome!” 62Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: “João é o seu nome”. E todos ficaram admirados. 64No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia espalhou-se por toda a região montanhosa da Judeia. 66E todos os que ouviam a notícia ficavam pensando: “O que virá a ser este menino?” De fato, a mão do Senhor estava com ele. 80E o menino crescia e se fortalecia em espírito. Ele vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel.
— Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Auxiliar de Aracaju-Sergipe
“SÃO JOÃO BATISTA”
Além da Virgem Maria Mãe de Deus, Nossa Senhora, de nenhum outro santo a Igreja celebra o nascimento, a não ser São João, chamado Batista, batizador. Dele, Jesus fez o maior elogio jamais feito pelo Salvador a alguém: “Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior que João, o Batista” (Mt. 11,11). Por isso, caríssimos, a hodierna solenidade!
Que lições, que meditações, que exemplos poderíamos colher nesta Festa, tendo escutado a Palavra que nos foi anunciada? Sugiro-vos três, que alimentem o coração, afervorem o desejo de colocar-se ao serviço do Senhor e nos conduzam à herança eterna.
Primeiro. A primeira leitura da Liturgia nos fez escutar a profecia de Isaías, colocando as palavras do profeta na boca de João Batista: “O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome... fez de mim uma flecha aguçada e disse-me ‘Tu és meu servo, em quem serei glorificado’” E o salmo de meditação fez eco a tão bela idéia: “Senhor, vós me sondais e conheceis. Fostes vós que me formastes as entranhas/ e no seio de minha mãe vós me tecestes./ Até o mais íntimo me conheceis;/ nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis,/ quando eu era modelado ocultamente,/ era formado nas entranhas subterrâneas!” O que aparece aqui, caríssimos em Cristo, é que viemos a este mundo não por acaso, não sem um propósito. Somos todos fruto de um sonho de Deus, fomos todos misteriosamente chamados à vida: o Senhor pensou em nós, nos chamou, nos plasmou – e aqui estamos! O nascimento que hoje celebramos, do filho de Zacarias e Isabel, foi fruto do desígnio amoroso do Pai, que pelo Filho Jesus e para o Filho Jesus, na força do Espírito Santo, plasmou João. Por isso seu nome é tão verdadeiro: “Iohanah”, em hebraico: Deus dá a graça! Ele mesmo, João, já é uma graça de Deus para seus pais e para todos os que esperavam a salvação de Israel.
Hoje, quando um mundo insensível e descrente já não reconhece que a vida é um mistério de amor, é um chamado de Deus, quantos são abortados, quantos deixados de modo indigno e imoral no frio congelamento dos laboratórios de procriação artificial: lá esquecidos, lá manipulados em inaceitáveis experiências pseudo-científicas! Nós, que ouvimos a Palavra de Deus; nós, que nos alegramos com este nascimento, nunca esqueçamos: toda vida humana é sagrada do primeiro ao último instante do nosso caminho terreno. É imoral, perverso e desumano um governo que reduz a questão do aborto a problema de “política pública”. Um dia esses senhores irão prestar contas a Deus. Será mesmo que Deus aceitará este argumento, que não passa de disfarce para matar? Que o Senhor nos ajude a defender a vida, a gritar por ela! Que o Senhor também nos dê a sabedoria para descobrir e experimentar que a nossa vida – por quanto pobre e pequena – também e preciosa! Que hoje eu me pergunte: Qual o propósito da minha existência? Já o descobri? Já me conformei a ele? Vosso sou, Senhor, de vós nasci e para vós nasci! Que quereis fazer de mim?
Segundo. Ainda que a vida nossa seja fruto do amor do Senhor, isso não significa facilidades. João deveria preparar o caminho do Messias, do Cristo de Deus. E isto iria custar-lhe: “Eu disse: ‘Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa’” O grande desafio da nossa vida de crentes é viver na presença de Deus, é ser fiel à sua santa vontade e à missão que ele nos confiou. Ser fiel à missão custou a João: a dureza do deserto, as incompreensões dos inimigos, a trama de Herodíades, a dificuldade de perceber a vontade Deus (basta recordar João perguntando a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”- Mt. 11,3) e, finalmente, o aparente abandono, o aparente absurdo do silêncio de Deus, na solidão e na morte naquele cárcere. O que manteve João fiel até o fim? A confiança no Senhor, a capacidade de deixar-se guiar por Deus, sem querer ele mesmo controlar sua vida! Grande João! Fiel João! Pobre de Deus, João! Que exemplo para nós, tanta vez tentados a fazer da vida o que bem queremos, como se nascêssemos de nós mesmos e vivêssemos para nós mesmos! “Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor! (Rm. 14,8)”
Terceiro. Certa vez São Paulo escreveu: “Nenhum de nós vive para si...” (Rm. 14,7) Desde o ventre materno, o Senhor chamou João para ser o que prepara o caminho, o que vem antes, o “pré-cursor” Toda a sua existência foi “precursar”! No terceiro evangelho isso aparece de modo comovente: anuncia-se o nascimento de João e depois o de Jesus; narra-se a natividade de João e a seguir a do Messias; apresenta-se o ministério de João e, após sua prisão, o do Salvador; finalmente, narra-se a morte de João, prenúncio da morte do nosso Senhor! Eis! Não é fácil não viver para si, não é fácil deixar que Outro seja o centro! E, no entanto, como diz a segunda leitura, “João declarou: ‘Eu não sou aquele que pensais que eu seja! Depois de mim vem Aquele, do qual nem mereço desamarrar as sandálias’”; “É necessário que ele cresça e eu diminua!” Santo profeta João Batista: sendo humilde, foi o maior dos nascidos de mulher; sendo totalmente preso à sua missão de modo fiel e constante, foi livre de verdade; sendo todo esquecido de si e lembrado de Deus, foi maduro e feliz! Por isso mesmo, seu nome foi verdadeiro e traduziu perfeitamente seu ser e sua missão: João, Iohanah: Deus dá a graça. E a graça que, para seus pais, foi João no seu nascimento, nas verdade era outra graça: a graça que Deus dá é Jesus, o Messias; graça que João anunciou com seu nascimento, com sua vida, com sua pregação e com sua morte!
Que este grande profeta, o maior do Antigo Testamento, do céu interceda por nós, nascidos do Novo Testamento e, por isso, maiores que João, o Grande Precursor! Amém.
ORAÇÃO
Ó Deus, que suscitastes são João Batista a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Amém!
UM DOMINGO SEM MISSA,
UMA SEMANA SEM DEUS!
Editado por MFC ALAGOAS