quinta-feira, 16 de julho de 2009


MINHA VIDA, MEU SUPLÍCIO
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Passo todos os dias pela ladeira da antiga rodoviária e, nesta semana, fui surpreendido por uma enorme fila que aguardava alguma coisa. Não soube logo o motivo, mas imaginei que deveria ser algo muito importante. Ao chegar à minha clínica, uma cliente comentou sobre o tamanho da fila e disse-me que precisou de polícia no local porque houve tumulto, e que esta já se prolongava até as proximidades da ladeira da Catedral.
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O motivo até que é justo. O projeto “Minha casa, minha vida” estará oferecendo às pessoas de baixa renda a possibilidade de colimar o sonho maior: ter um local para morar. Palmas para a iniciativa do governo.
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Ter uma casa está dentro do sonho de todos, ricos e pobres. A dimensão e o luxo da habitação é que diferencia a intensidade do sonho. Acredito mesmo que ter um local para morar completa a estabilidade de uma família. Viver de aluguel significa não ter onde morar. Caso o programa permita que, com o mesmo valor do aluguel, o seu proprietário consiga pagar algo que será incorporado ao seu patrimônio é algo deveras estimulante, e até justifica o sacrifício de se enfrentar uma quilométrica fila.
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Semana passada falei sobre o espetáculo de organização que foi (ou ainda está sendo, porque permanece insepulto) as exéquias do astro maior da música pop. Havia apenas dezessete mil ingressos disponíveis (parece que para Alagoas são 10.000 casas). Sem nenhuma fila, cerca de um milhão e meio de pessoas se inscreveram (quase a população de Alagoas). Não houve nenhum tumulto, e tampouco, depois de ser anunciado o resultado, nenhuma reclamação.
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Fiquei imaginando: “por que será necessário tanto sacrifício para uma simples inscrição na tentativa de ser um dos habilitados a comprar uma casa?”. Recentemente o governo do Estado organizou um censo de todos os servidores, utilizando para esta finalidade a via internética (claro que facilitando vários pontos para a população não usuária) e um agendamento telefônico (fui atendido até antes do horário previsto, e sem nenhum tumulto).
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O mais simples ainda, para evitar que pessoas tivessem que acampar nos arredores do local de inscrição, sujeitos às intempéries do tempo e da violência, seria a utilização dos Correios. A inscrição poderia ser feita por esta via, e o resultado dos contemplados divulgados pelos meios de comunicação e também por esta mesma via (recebendo uma carta confirmatória).
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A sensação que fica é que não houve interesse em se fazer isso de forma discreta. O importante é que o fato chame a atenção de que o governo está trabalhando. Respeito com as pessoas, nenhum. O que de fato conseguiram foi transformar o início do programa “Minha casa, minha vida” no que já é a vida das pessoas: “Minha vida, meu suplício”. Espero pelo menos respeito às regras, e que não transformem esse programa em mais um engodo eleitoral, já que estamos em final de mandato e casas não se constroem na mesma velocidade que se despertam sonhos.
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