Além de desenvolver continuamente sua consciência crítica e conscientizar outras pessoas menos conscientes, além de ser uma presença profética na sociedade e preparar-se permanentemente para melhor exercer seu profetismo, o cristão é convidado a praticar a solidariedade, especialmente com os mais carentes de apoio.
AS PRÁTICAS DA SOLIDARIEDADE
Helio e Selma Amorim*
A começar pelas variadas práticas assistenciais dirigidas aos que estão submetidos pela miséria, fome, doença, invalidez, ignorância, desemprego, conflitos psicológicos, angústia e desespero. São multidões pedindo socorro, esperando a solidariedade de quem lhes possa dar alguma ajuda. Basta olhar ao redor para enxergar essa multidão. O cristão se sente pequeno e impotente diante desse quadro. Pensa em fazer algo, mas se sente intimidado com o tamanho do desafio.
Por outro lado, as práticas assistenciais têm sido desvalorizadas, rotuladas muitas vezes de "assistencialismo" inútil, já que as causas desses problemas e carências são estruturais. Ganhou prestígio a frase conhecida: "em vez de dar o peixe, ensinar a pescar". Parece uma afirmação razoável mas não é. Porque há urgências a atender. A quem está morrendo de fome é preciso dar correndo o alimento de que precisa. Quem está doente precisa já de tratamento e remédios. É dar mesmo o peixe. Mais tarde, saciada a fome, curada a doença, vencido o problema urgente, sim, é hora de dar o anzol e ensinar a pescar. São passos sequenciais para levar pessoas a passarem de condições desumanas para condições humanas de vida, passos, portanto, para a humanização.
A partir das práticas assistenciais, chega-se à urgência das ações de promoção humana, que correspondem ao dar o anzol e ensinar a pescar. Trata-se de ajudar as pessoas a desenvolverem suas aptidões, de modo a se tornarem autônomas ou menos dependentes. São as tarefas próprias da educação, da capacitação para o trabalho, da busca do emprego, de incentivo à autovalorização e à participação em sindicatos, da tomada de consciência dos seus direitos e de conquista da cidadania. São também as muitas formas de apoio psicológico para a superação de vícios perigosos, de problemas profundos de relacionamento, de angústia e desespero, que produzem sofrimento e desumanização,
Recuperada a autoconfiança e a autoestima, as pessoas podem assumir por si mesmas o seu processo de humanização. Já podem pescar.
Até aqui manejamos o velho ditado do peixe e do anzol para recuperar o valor das ações assistenciais. Com efeito, a quem está morrendo de fome, vamos correndo dar o peixe. Mais adiante, aplacada a fome, é possível que consiga aprender a pescar. Mesmo assim, ainda vai precisar receber o primeiro anzol. Só depois começam as práticas de promoção humana, para que tendo aprendido a pescar, não permaneça para sempre dependente de ações assistenciais.
Mas não basta. Falta garantir-lhe o direito de comer o peixe que pescou. Porque não é isto o que estamos vendo nesse modelo injusto de sociedade excludente e opressora. A maioria absoluta dos que trabalham não consegue usufruir do produto do seu trabalho. Produz alimentos mas passa fome. Produz bens que nunca poderá possuir. Constroi boas casas mas mora em barracos miseráveis. Os donos das máquinas e das fábricas, das fazendas e usinas, aqueles que investem seu capital na produção possuirão tudo o que braços e mentes produzirão. Aos trabalhadores pagarão salários insuficientes para comprar as coisas que produzem. Quer dizer, aquele que pesca não tem o direito de comer o peixe que pescou.
Então podemos reformular o ditado famoso: “a quem tem fome, dar o peixe, antes que morra; logo que possível, vencida a fome, dar-lhe o anzol e ensinar-lhe a pescar, para que não fique para sempre dependente do seu peixe; em seguida, juntar-se a ele na luta pelo direito de comer o peixe que pescou”.
Para isso serve a política. Paulo VI, na "Octogesima Adveniens" afirma que a ação política, ao lado das tarefas da educação, é uma das mais nobres maneiras de o cristão atuar no mundo, para transformá-lo. Muitos documentos posteriores da Igreja o reafirmam. No entanto, ainda são poucos os cristãos que aceitam esse desafio. Em geral, ficam de fora, apenas criticando aqueles que assumiram a política, com todos os riscos que essa opção implica.
Ora, a humanização supõe estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas humanizadoras. Se não o são, serão contrárias ao projeto de Deus e devem ser substituídas por outras. A política, em suas variadas expressões, é o instrumento próprio para perseguir-se esse objetivo. É espaço a ser ocupado pelos cristãos, como opção de fé.
*Membros do Movimento Familiar Cristão. Extraído de “Descomplicando a fé”, Paulus Editora.
AS PRÁTICAS DA SOLIDARIEDADE
Helio e Selma Amorim*
A começar pelas variadas práticas assistenciais dirigidas aos que estão submetidos pela miséria, fome, doença, invalidez, ignorância, desemprego, conflitos psicológicos, angústia e desespero. São multidões pedindo socorro, esperando a solidariedade de quem lhes possa dar alguma ajuda. Basta olhar ao redor para enxergar essa multidão. O cristão se sente pequeno e impotente diante desse quadro. Pensa em fazer algo, mas se sente intimidado com o tamanho do desafio.
Por outro lado, as práticas assistenciais têm sido desvalorizadas, rotuladas muitas vezes de "assistencialismo" inútil, já que as causas desses problemas e carências são estruturais. Ganhou prestígio a frase conhecida: "em vez de dar o peixe, ensinar a pescar". Parece uma afirmação razoável mas não é. Porque há urgências a atender. A quem está morrendo de fome é preciso dar correndo o alimento de que precisa. Quem está doente precisa já de tratamento e remédios. É dar mesmo o peixe. Mais tarde, saciada a fome, curada a doença, vencido o problema urgente, sim, é hora de dar o anzol e ensinar a pescar. São passos sequenciais para levar pessoas a passarem de condições desumanas para condições humanas de vida, passos, portanto, para a humanização.
A partir das práticas assistenciais, chega-se à urgência das ações de promoção humana, que correspondem ao dar o anzol e ensinar a pescar. Trata-se de ajudar as pessoas a desenvolverem suas aptidões, de modo a se tornarem autônomas ou menos dependentes. São as tarefas próprias da educação, da capacitação para o trabalho, da busca do emprego, de incentivo à autovalorização e à participação em sindicatos, da tomada de consciência dos seus direitos e de conquista da cidadania. São também as muitas formas de apoio psicológico para a superação de vícios perigosos, de problemas profundos de relacionamento, de angústia e desespero, que produzem sofrimento e desumanização,
Recuperada a autoconfiança e a autoestima, as pessoas podem assumir por si mesmas o seu processo de humanização. Já podem pescar.
Até aqui manejamos o velho ditado do peixe e do anzol para recuperar o valor das ações assistenciais. Com efeito, a quem está morrendo de fome, vamos correndo dar o peixe. Mais adiante, aplacada a fome, é possível que consiga aprender a pescar. Mesmo assim, ainda vai precisar receber o primeiro anzol. Só depois começam as práticas de promoção humana, para que tendo aprendido a pescar, não permaneça para sempre dependente de ações assistenciais.
Mas não basta. Falta garantir-lhe o direito de comer o peixe que pescou. Porque não é isto o que estamos vendo nesse modelo injusto de sociedade excludente e opressora. A maioria absoluta dos que trabalham não consegue usufruir do produto do seu trabalho. Produz alimentos mas passa fome. Produz bens que nunca poderá possuir. Constroi boas casas mas mora em barracos miseráveis. Os donos das máquinas e das fábricas, das fazendas e usinas, aqueles que investem seu capital na produção possuirão tudo o que braços e mentes produzirão. Aos trabalhadores pagarão salários insuficientes para comprar as coisas que produzem. Quer dizer, aquele que pesca não tem o direito de comer o peixe que pescou.
Então podemos reformular o ditado famoso: “a quem tem fome, dar o peixe, antes que morra; logo que possível, vencida a fome, dar-lhe o anzol e ensinar-lhe a pescar, para que não fique para sempre dependente do seu peixe; em seguida, juntar-se a ele na luta pelo direito de comer o peixe que pescou”.
Para isso serve a política. Paulo VI, na "Octogesima Adveniens" afirma que a ação política, ao lado das tarefas da educação, é uma das mais nobres maneiras de o cristão atuar no mundo, para transformá-lo. Muitos documentos posteriores da Igreja o reafirmam. No entanto, ainda são poucos os cristãos que aceitam esse desafio. Em geral, ficam de fora, apenas criticando aqueles que assumiram a política, com todos os riscos que essa opção implica.
Ora, a humanização supõe estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas humanizadoras. Se não o são, serão contrárias ao projeto de Deus e devem ser substituídas por outras. A política, em suas variadas expressões, é o instrumento próprio para perseguir-se esse objetivo. É espaço a ser ocupado pelos cristãos, como opção de fé.
*Membros do Movimento Familiar Cristão. Extraído de “Descomplicando a fé”, Paulus Editora.
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