quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

NÃO GRITE COM AS CRIANÇAS!


Não grite com as crianças!

Levantar a voz é a melhor forma de não nos fazermos ouvir. É a expressão espalhafatosa de um sentimento de impotência. 

Flavia Mazelin Salvi
Do livro: Tristesse, Peur, Colère. Agir sur ses Émotions. Edições Odile Jacob

“Eu odeio gritos, mas não consigo deixar de dá-los. Tenho a sensação de que as crianças só me obedecem quando sentem que já perdi a paciência.” Como muitas outras mulheres, Ana está submetida a uma mecânica dos gritos à qual obedece, como se o cenário nunca mudasse.

Quando é ultrapassado o limiar da tolerância, surgem os gritos para expulsar uma tensão interior que se tornou insuportável. Como se chega a esse ponto? Os gritos, alimentados pela ira, por um sentimento de injustiça ou de impotência, dão a impressão de controlar uma situação ou uma relação que é sentida como uma ameaça. “Na base, o grito é um comportamento de proteção. É por isso que não é preciso diabolizar sistematicamente os gritos, mas antes conservá-los como recurso excepcional. Quando se tornam uma forma de comunicação habitual, então é o momento de nos interrogarmos sobre o seu significado”, afirma a fisiatra Stephanie H.

Nunca se grita sem razão
Os gritos são uma má resposta a uma boa questão. Grita-se para que os outros nos ouçam ou nos respeitem, ou para extravasar uma agressividade acumulada. E fica-se tão viciado nos gritos que não se reconhece mais a sua função.

Teresa tem 45 anos e duas crianças em idade de “testarem a minha capacidade de manter a calma. Quando a minha filha de quatro anos mede forças comigo, perco as estribeiras e entro numa espiral de gritos da qual saio sempre com um enorme sentimento de culpa e de vergonha de mim mesma. Eu sou a adulta, sou eu que devo dar o exemplo. Mas estou trabalhando intensamente para parar com este padrão. E o que descobri é que a minha família vive agora muito melhor. Decidi que era tempo de mudar quando, um dia, a minha filha que tem sete anos, no meio de uma cena de gritos, me disse, muito calma: ‘Mãe, já chega. Não grites mais que eu não gosto ’”.

“O pequeno grito irá tornar-se grande”, constata a terapeuta Jeanne Simon. “O crescendo é inevitável.” Não existe uma forma razoável de gritar... porque o grito é a expressão de um sentimento de impotência. Muitos são os pais que, apesar de adorarem os filhos, acabam por perder toda a possibilidade de comunicação com eles por causa de anos de gritos e de discussões. Para sair desta espiral, terão de fazer uma pequena sessão de introspecção: “O que é que acontece… se eu não gritar? O fato de gritar será medo de perder a autoridade? De ser dominada ou esquecida? Ou serão os gritos uma manobra de fuga face a uma dificuldade que não ouso enfrentar”?

Para renunciar aos gritos, é também necessário tomar consciência de que eles são perniciosos. “Enquanto não sentir que os gritos são um mau trato, que você está a infligir a si própria, continuará a acreditar que deles se podem tirar benefícios”, sublinha Stéphanie.

Ora, essa agressividade é um verdadeiro veneno: Faz subir a pressão arterial, perturba as funções digestivas e provoca problemas de concentração e de sono… A ira se paga muito cara. Quem está sempre a gritar com uma criança ou com um familiar sabe que, de uma maneira geral, essa forma de comunicar conduz a um impasse. Perante os gritos, o outro se fecha, responde com agressividade, ou foge.

Não existem fórmulas mágicas para calar os gritos
Métodos do tipo “Juro que não vou gritar mais!” estão condenados ao fracasso. Porque sufocar uma emoção não faz com que ela desapareça. Há que adotar o caminho inverso. É preciso debruçar-se sobre o sofrimento ou a confusão que estão por detrás de uma fúria. Terminados os gritos, pode-se analisar as emoções que os provocam, em vez do desprezo e do sentimento de culpa. Os gritos têm então boas chances de desaparecer.

 “Estava consciente de que o meu comportamento era inadequado à minha função parental, mas não conseguia agir de outra maneira”, confessa Luísa, de 43 anos, mãe de uma menina de oito. “Perante o sofrimento da minha filha e também do meu, decidi pedir ajuda a uma psicóloga. O meu comportamento tinha uma história com várias décadas e os meus gritos faziam-me lembrar outros que tinha ouvido na minha infância. Eu repetia o padrão, repetia um modelo educativo que tinha ‘herdado’. Não foi fácil parar, mas impus-me metas diárias: hoje não grito, amanhã também não. Compreender por que agia daquela forma ajudou-me na minha busca da paz familiar.”

 Uma outra sugestão é fazer uma pausa assim que sentir que se está a dois passos de perder a calma. E para evitar a inevitável escalada, o melhor é usar o que nos resta de sangue-frio para acabar com a discussão. “Quando os gritos fazem parte de um modo de ‘comunicação’ habitual, perdem sempre a sua força de discussão e são muito mais entendidos como uma confissão de fraqueza do que de força”.

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