Na reflexão deste 4º Domingo da Quaresma, enfatiza-se que Deus não age segundo critérios humanos. Com certeza, em face das influências mundanas, estamos esquecendo que Deus vê, sobretudo, coração dos homens, não as aparências. Enfoca-se, ainda, o sacramento do Batismo, através do qual nos tornamos criaturas novas e, exatamente por isso, devemos agir com bondade e sabedoria, justiça e verdade. Nesse sentido, o evangelho nos mostra que o encontro com Jesus, que é Luz da humanidade, transforma nossa vida de trevas em vida iluminada. Assim, como cristãos, filhos e filhas de Deus rumo à Páscoa que está próxima, somos convidados, neste 4º Domingo, a deixar atitudes de tristeza e desânimo e assumir a alegria e o otimismo, pois Jesus cura a nossa cegueira e ilumina as trevas que nos aliena frente a realidade em que vivemos.
4º Domingo da quaresma
1ª Leitura: Primeiro Livro de Samuel 16, 1. 6-7.10-13
Salmo: 22
2ª Leitura: Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios 5, 8-14
Evangelho: João 9,1-41 ou 1.6-9.13-17.34-38
EVANGELHO
Naquele tempo, ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos lhe perguntaram: "Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?" Jesus respondeu: "Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. É preciso que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo". Dito isso, cuspiu no chão, fez lama com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego. Disse-lhe então: "Vai lavrar-te na piscina de Siloé"... O cego foi, lavou-se e voltou enxergando... Então levaram aos fariseus aquele que tinha sido cego. Ora, foi num dia de sábado que Jesus tinha feito lodo, e abrira os olhos do cego... Alguns dos fariseus disseram então: "Este homem não vem de Deus, pois não observa o sábado"; outros, no entanto, diziam: "Como pode um pecador fazer tais sinais?"... Os judeus não acreditaram que ele tivesse sido cego e que tivesse começado a ver, até que chamassem os pais dele. Perguntaram-lhes: "Este é o vosso filho que dizeis ter nascido cego? Como é que ele está enxergando agora? 0s seus pais responderam: "...Perguntai a ele; é maior de idade e pode falar sobre si mesmo". Seus pais disseram isso porque tinham medo dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Cristo... Os judeus, outra vez, chamaram o que tinha sido cego e disseram-lhe: "Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é um pecador". Ele respondeu: "Se é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo... Se esse homem não fosse de Deus, não conseguiria fazer nada". Eles responderam-lhe: "Tu nasceste todo no pecado e nos queres dar lição?". E o expulsaram. Jesus ficou sabendo que o tinham expulsado. Quando o encontrou, perguntou-lhe: Tu crês no Filho do homem?". Ele respondeu: "Quem é, Senhor, para que eu creia nele?". Jesus disse: "Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo". Ele ex¬clamou: "Eu creio, Senhor!"... Então, Jesus disse: "Eu vim a este mundo para um julgamento, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se, tornem cegos". Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e lhe disseram: "Porventura também nós somos cegos?" Jesus respondeu-lhes: "Se fôsseis cegos não teríeis culpa; mas como dizeis: 'Nós vemos', o vosso pecado permanece".
Palavra da Salvação – Glória a vós, Senhor.
HOMILIA PROF. DIÁCONO MIGUEL A. TEODORO
Tema: Jesus é a luz que ilumina as trevas de nossas vidas
Vivemos numa realidade que, a cada dia que passa nos escraviza sempre mais. Influenciados pela ótica neoliberal, nos dias de hoje, o capitalismo não deixa de ser uma ideologia e uma prática marcante na vida de quem quer que seja. A bem da verdade, os ideais do lucro e do ter são os fatores que nos movem e nos fazem sentir segurança apenas numa excelente posição social, cujo suporte é um salário que nos garanta no dia a dia de nossas vidas.
Essa falsa segurança nos torna, na maioria das vezes, cegos e nos fazem agir como se Deus não existisse, ou como se é Ele que deve amoldar-se segundo nossas intenções e nossos conceitos. Fazemos com que Deus venha a ser e a se comportar conforme a nossa vontade, ou seja, em outras palavras, Deus é o que queremos. Mas não é bem assim, pois Deus não é cego como nós somos cegos. Nossa limitada visão e compreensão das coisas de Deus fazem de nós predadores de nós mesmos.
Através dos noticiários, escritos e falados registra-se, no cotidiano como estamos longe das coisas de Deus e como estamos nos tornando cegos em face das realidades de nossas vidas. E, o pior, é quando desejamos seguí-Lo intensamente, principalmente depois que Ele realiza maravilhas em nossas vidas.
Frente a sociedade coercitiva que nos cerca, nos tornamos “persona nom grata”, ou seja, nossa presença incomoda e tira a paz e o sossego daqueles que, anteriormente, conviviam conosco. É assim que acontece com todos os cristãos que querem ser fiéis a Deus. Infelizmente, esse grupo de cristãos representa apenas uma minoria sem muita expressão que, quando se pronunciam, tornam-se elementos perseguidos por aqueles que detêm o poder; tornam-se vítimas de um sistema que engana e mente, assola e oprime.
Eles são seres humanos, vitimas de um sistema que se alimenta na arvore do pecado, cujo tronco e galhos geram os frutos da corrupção, da mentira, da insensatez, da desonestidade, das notas frias e das empresas fantasmas, das orgias, dos gastos desnecessários e dos superfaturamentos e, consequentemente, as riquezas ilícitas adquiridas com a geração da morte de centenas e milhares de pessoas que mendigam seus mínimos direitos. Mas o pior mesmo é que somos regidos por leis que tornam impunes os detentores de broches que os qualificam como representantes das “coisas públicas” e “do povo”.
Assim também era no tempo de Jesus e, é por isso que o evangelista João vem nos apresentar, neste 4º Domingo da Quaresma, as principais características de suas longas narrativas, conforme vimos no domingo anterior – com a samaritana – e, hoje, nesta belíssima narrativa onde o grande protagonista é o cego de nascença. É isso que Jesus faz conosco: Ele nós abre os olhos e nos faz enxergar a luz, a sua luz, e, em outras palavras, Ele diz: vá testemunhar o que Eu te fiz e torne-se protagonista de sua própria história, transformando a realidade na qual você está vivendo.
É claro que esta longa narrativa de João é sobrecarregada de simbolismo e se desenvolve a partir de cenas impregnadas de realismo e suspense. No entanto, a mensagem central do diálogo de hoje é a acolhida à revelação de Jesus, enfatizada pelo contraste entre o "ver" e o "cego". No texto encontramos 14 vezes a palavra "cego" e 18 referências ao "ver".
Em dado momento podemos perceber que os fariseus continuam cegos e expulsam da sinagoga aquele que vê. Aqueles que na Lei de Israel acham que vêm tudo, na realidade, como cegos, não vêm a novidade da luz de Jesus. Por três vezes há uma referência à expulsão da sinagoga: os pais do cego curado "tinham medo dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Cristo"; o cego finalmente é expulso da sinagoga; e Jesus fica sabendo que o expulsam.
Diante dos fatos pode-se registrar, aqui, uma alusão do evangelista ao fato de os cristãos originários do judaísmo, os quais até então freqüentavam as sinagogas, terem sido expulsos das mesmas pelos chefes fariseus, cerca do ano 80. Isto porque estes fariseus pretendiam rigidamente reencontrar sua identidade judaica através da estrita observância da sua Lei, uma vez que, com a destruição do templo de Jerusalém no ano 70 pelos romanos, esta identidade ficara abalada.
Notemos, ainda, que o texto da primeira leitura, surgido no ambiente das elites do palácio real e do Templo de Jerusalém, exalta a figura de Davi, "de belos olhos e aparência formosa", com o "Espírito do Senhor". Contudo Jesus, com a proclamação de sua Boa Nova, denunciou e rejeitou o centralismo de poder político e religioso no Templo de Jerusalém e a sua opressão, que tem raízes na tradição da realeza davídica. Denunciou também a hipocrisia das aparências que ocultam ambição de poder e dominação. Em Jesus manifesta-se a luz da bondade da justiça e da verdade, que revela os segredos ocultos.
Nesse sentido, nesta 4ª semana da Quaresma que, hoje, iniciamos, o evangelho nos mostra que o encontro com Jesus, que é Luz da humanidade, transforma nossa vida de trevas em vida iluminada, pois Jesus cura a nossa cegueira e ilumina as trevas que nos aliena frente a realidade em que vivemos.
ORAÇÃO
Pai, abre meus olhos para que eu reconheça Jesus como teu Messias Salvador. Livra-me da cegueira provocada por falsos raciocínios, mesmo com roupagem religiosa. Pai, mesmo que minha presença venha a incomodar, torna-me um cristão mais autêntico e menos hipócrita e permita, sob a égide de sua luz, que meu testemunho seja sincero e verdadeiro.
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