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“A MATERNIDADE DE MARIA!”
Hoje damos nosso primeiro passo neste novo Ano. Somos guiados pela mão de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Que Ela nos conduza pelos caminhos de seu Filho bendito, na construção da Paz e da Fraternidade Universal. Com a proteção dessa Mãe querida, que todos tenhamos um abençoado Ano Novo, em que possamos viver, conviver e amar, assim como somos amados por Deus.
SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS
1ª Leitura: Nm 6,22-27
Salmo Responsorial: 66
2ª Leitura: Gl 4,4-7
Evangelho: Lc 2,16-21
EVANGELHO
LUCAS 2, 16-21
Naquele tempo, 16os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura.
17Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. 18E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam.
19Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração.
20Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito.
21Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido.
— Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA
Dom Henrique Soares da Costa
HOJE É A OITAVA DO NATAL
Nesta eucaristia, é necessário que tenhamos em vista alguns aspectos importantes.
No Oriente, era costume, no dia seguinte ao parto, cumprimentar uma mulher que houvesse dado à luz. Por isso, nossos irmãos orientais, desde o século IV, no dia seguinte ao Natal, celebram a festa da congratulação da Mãe de Deus – uma homenagem Àquela que deu à luz o Salvador. No Ocidente, a congratulação da Virgem é hoje, oito dias após o santo Natal. A Igreja, com os pastores, vai ao encontro do Menino e o encontra com sua Mãe; e proclama que este Menino é o Deus verdadeiro. Ele não é somente a criancinha frágil; mas o Deus forte, feito pequeno por nós! Por isso, o povo de Deus saúda, hoje, a Virgem, com o título antiqüíssimo de Mãe de Deus, isto é, Mãe de Deus Filho! “Bendita sejais, Virgem Maria! Trouxestes no ventre quem fez o universo! Vós destes à luz a quem vos criou e permaneceis Virgem para sempre!” Este Menino, o Deus verdadeiro, fez-se realmente um de nós, nascido realmente de uma Virgem. Ele não é a mãe de Deus Pai - isto seria uma blasfêmia! Também não é mãe do Espírito Santo - isto seria loucura! Não se pode tampouco dizer que ela é mãe da natureza divina - isto seria heresia! O que a Igreja crê, professa, testemunha e ensina com todo acerto e toda piedade é que a sempre Virgem Maria é Mãe santíssima do Deus Filho feito homem! Tudo quanto o Filho é na sua humanidade, ele o recebeu de Maria! O Filho não somente nasceu através de Maria, mas de Maria!
Mais ainda: os orientais gostam de invocar Jesus exclamando: Deus nascido da Virgem, salvai-nos! Estejamos atentos! Não somente Deus concebido de Maria, a Virgem, mas também Deus nascido de modo inefável, miraculoso, misterioso, da Virgem: Deus nascido da Virgem! Admirada com um nascimento assim, tão divino, tão único, a Igreja exclama: “Como a sarça, que Moisés viu arder sem se consumir, assim intacta é a vossa admirável virgindade. Virgem Maria, Mãe de Deus, por nós intercedei”. Deste modo, a Solenidade de hoje nos recorda não somente que a Virgem é verdadeiramente Mãe de Deus, mas que ela é sempre virgem: antes, durante e depois do parto! O Cristo nosso Deus não somente foi concebido da Virgem Maria, mas o Credo diz que ele nasceu da Virgem Maria! Nasceu sem destruir a virgindade da Mãe! Para o nosso mundo atual, que supervaloriza o sexo e faz com que os jovens tenham até mesmo vergonha de admitir que são virgens, proclamar a virgindade perpétua de Maria, recorda-nos que a castidade é uma preciosa e cara virtude cristã e a virgindade deve ser vista por nós como um valor e um ideal a ser buscado! Em Maria, a Virgem, o permanecer na virgindade exprime que ela sempre foi toda de Deus, absolutamente de Deus, em corpo e alma, em todo o seu ser, de modo constante e absoluto!
Não é por acaso que, segundo o Evangelho de Mateus, os magos encontraram o Menino com Maria, sua Mãe (cf. 2,11). É assim que Aquele que nos nasceu é sempre encontrado, pois o Deus que de nada necessita, contou com o “sim” da Virgem e dela, como de uma terra nova e virgem, gerou segundo a natureza humana o seu Filho para nossa salvação. É este mistério que a Igreja hoje celebra: este Menino é o Deus verdadeiro e sua Mãe faz parte do plano da salvação, pois “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma Mulher... a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei”. Na nossa salvação, esteve, está e estará sempre presente a Mulher, a Virgem Maria. Alegremo-nos, portanto, com a Virgem Maria e, com toda Igreja, digamos: “Virgem Santa e Imaculada, eu não sei com que louvores poderei engrandecer-vos! Pois Aquele a quem os céus não puderam abranger, repousou em vosso seio. Sois bendita entre as mulheres e bendito é o fruto que nasceu do vosso ventre!”
Há um segundo aspecto deste hoje. O primeiro do ano e dia da confraternização universal, início do ano civil. A pedido do papa Paulo VI, a ONU transformou esta data em dia festivo para todas as nações. É dia da paz, dia da confraternização entre os povos, nações, culturas... Ora, nós cristãos sabemos que a paz não é uma idéia, um sonho, um desejo; a paz é uma pessoa. São Leão Magno dizia, no século V: “O Natal do Senhor é o Natal da Paz. Cristo é a nossa paz!” Não foi a respeito dele que o profeta afirmou: “Ele será chamado Admirável, Deus, Príncipe da Paz, Pai do mundo novo”? (Is. 9,2-6) Não foi ele mesmo quem disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos sou; não vo-la dou como o mundo a dá?” (Jo 14,27). Que tenhamos cada vez mais sólida esta convicção: a paz que almejamos, a paz tão sonhada, a paz para o mundo e para a nossa vida, somente no Cristo poderá ser encontrada de modo definitivo e pleno! Nele, nem as tristezas, nem as desilusões, nem as angústias, nem as provações, poderão nos fazer perder a paz! Cristo, nossa Paz!
Finalmente, hoje, também, é dia da circuncisão do Menino. Como descendente de Abraão, ele foi circuncidado, passando a fazer parte do Povo da antiga Aliança, e recebeu o nome de Jesus, isto é, Deus salva! Que nome belo, que nome eloqüente, que nome bendito a nos encher de certa esperança para os dias de 2004 que chegou! Jesus, nome acima de todo nome, único nome no qual podemos encontrar salvação no céu e na terra. Jesus, doce lembrança do nosso coração, doce alívio nas dores, forte certeza nos momentos difíceis. Jesus, amigo certo de todas as horas, única certeza e apoio de nossa existência! Por isso mesmo, a primeira leitura da Missa de hoje, faz-nos ouvir a bênção de Aarão, que, por três vezes, invoca o nome do Senhor sobre o povo! Para os cristãos, o Senhor é Jesus, e não há outro! Pois é neste nome bendito que todos e cada um queremos iniciar o novo ano civil: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a paz!”
Hoje é a oitava do Natal. É um antiqüíssimo costume da Igreja de Roma, voltar seu coração e sua mente, neste dia, para Aquela de quem nasceu o Salvador do mundo. O Evangelho de são Mateus afirma que os magos, ao entrarem onde estava a Sagrada Família, “viram o Menino com Maria, sua Mãe e, prostrando-se, o homenagearam” (2,11). Trata-se da homenagem solene e ritual prestada aos reis orientais. E, no Oriente, a Mãe do rei, chamada gebirah, exercia um papel importantíssimo. Pois, eis aqui, na cena do Evangelho, o Rei dos judeus, o Rei-Messias, o Rei que é Deus, e sua Rainha-Mãe, sua gebirah, a Virgem Maria! Agradecida pelo seu “sim” ao plano de Deus, a Igreja chama-a, desde os primórdios da fé cristã, de “Mãe de Deus”, isto é, “Mãe de Deus-Filho feito homem”! Com isto, nós confessamos que o Menino nascido da Virgem é Deus verdadeiro e perfeito, uma Pessoa divina com a natureza divina completa e uma verdadeira natureza humana. Ele, Filho do eterno Pai, fez-se realmente, como homem, filho de Maria Virgem, sem deixar de ser Deus! Na Virgem Santíssima, que trouxe em seu seio a segunda Pessoa da Trindade Santa, o divino e o humano se encontraram para sempre, os céus e a terra se abraçaram para nunca mais se deixarem!
Ao recordar a Maternidade Divina de Nossa Senhora, a Igreja recorda também as condições maravilhosas dessa maternidade: ela aconteceu de modo virginal! Com efeito, a Mãe do Senhor concebeu virginalmente, virginalmente deu à luz e virgem permaneceu para sempre! A Virgem não somente concebeu, mas também virginalmente deu à luz um filho – eis a profecia de Isaías (cf. 7,14). A Igreja canta esse mistério com palavras admiráveis: “Na sarça que Moisés via arder sem se consumir, admiramos o sinal da vossa incomparável virgindade, ó Mãe de Deus!” e ainda, pensando na porta selada, pela qual somente o Senhor passaria, como profetizou Ezequiel (cf. 44,2), a Igreja exclama: “A porta eterna do Templo eternamente fechado feliz e pronta se abre somente ao Rei esperado!”. Aqui silencia a imaginação humana, pois que pertence ao segredo de Deus o modo como, Virgem, Nossa Senhora concebeu e ainda como, virginalmente, deu à luz! Uma coisa é certa: sua virgindade perpétua quer nos mostrar o quanto esse Menino todo vindo de Deus é um novo começo, um novo início para toda a criação e toda a humanidade! Além do mais, revela o quanto Maria Virgem foi integralmente de Deus, de corpo e alma. Num mundo que endeusa o sexo e exalta de modo abusivo a sensualidade, a Santíssima Virgem nos aponta outros valores e revela a beleza da virgindade e da castidade como expressão do ser humano vivendo livre, debaixo do senhorio de Cristo, no seu corpo, no seu afeto e na sua alma! Quanto mais alguém vive totalmente para o Senhor, mais fecundo se torna em sua vida e mais traz Jesus ao mundo, como testemunha do Reino dos céus. Por isso a saudação que a Igreja hoje dirige à Virgem Maria: “Salve, ó Santa Mãe de Deus, vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos!”
Hoje também, oitavo dia do nascimento do Fruto do ventre da Virgem, a Igreja recorda a circuncisão do Menino. Ele, circuncidado, passou a fazer parte do Povo de Israel. Assim, cumpriu-se a promessa que Deus fizera a Abraão, nosso Pai. Da sua descendência o Senhor fizera surgir um Salvador para todas as nações: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu filho, nascido de uma Mulher, nascido sob a Lei!”. Circuncidado, o Menino recebeu o nome de Jesus, que significa “o Senhor salva”. Seu nome revela sua identidade, sua missão e a causa da nossa alegria! Ele é a salvação que Deus nos concede, ele é a nossa Paz, pois nos reconcilia com Deus e nos abre as portas dos céus. Por isso mesmo, os cristãos hoje, juntamente com toda a humanidade, celebram o Dia da Paz. Para nós, essa Paz tem um nome, tem um rosto, tem um sorriso. Podemos encontrar tudo isso naquele que veio de Maria, a Virgem! Somente abrindo-se para ele, o mundo encontrará a verdadeira paz!
Confiemos, pois, os dias do novo Ano civil que está começando, a este Menino, o Príncipe da Paz. Que o seu nome repouse sobre nós, como uma bênção! Certamente, neste ano choraremos e sorriremos, venceremos e fracassaremos, cairemos e nos ergueremos... Não importa! Importa, sim, que estejamos com o Senhor, ele, que estará sempre conosco. Ele foi apelidado – não esqueçamos – de Emanuel, Deus-conosco! Que este ano seja, como se colocavam nos antigos documentos, “Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo!”
Estamos iniciando o ano novo profundamente feridos e perplexos com a tragédia da Ásia. Escapa-nos o porquê de tanta dor, sofrimento e morte. Mas, teimamos em acreditar que há um Deus no céu, que, em Cristo, esse Deus fez-se presente como amor, como companhia, como ternura e consolo para toda a humanidade. Cremos que, neste Menino que nasceu e cresceu e chorou e sofreu e morreu, Deus faz-se, para sempre, solidário conosco. Queremos recordar cada morto e cada sobrevivente dessa tragédia; queremos recordar aqueles montes de cadáveres em decomposição, sem tempo para uma sepultura digna; queremos dizer que tudo isso é muito triste, é absurdamente incompreensível! Mas, queremos também colocar tudo isso nas mãos desse Menininho; também ele pobre, também ele perseguido, também ele sem abrigo, também ele sofredor até a morte de cruz, até o silêncio da sepultura, para dar sentido às nossas dores e vencer a nossa morte. Nesse Menino crucificado, a dor humana não se explica, mas encontra consolo; nesse Emanuel, nós sabemos que Deus está conosco, mesmo quando parece se calar ante uma tragédia como a que estamos assistindo!
Coloquemos, pois, os dias de nossa vida nas mãos do Salvador. E, como penhor de que nossas preces serão ouvidas, supliquemos à Mãe de Deus toda Santa: “À vossa proteção recorremos, ó Santa Mãe de Deus! Protegei os pobres, ajudai os fracos, consolai os tristes, rogai pela Igreja, protegei o clero, ajudai-nos todos, sede nossa salvação! Santa Maria, sois a Mãe dos homens, sois a Mãe do Cristo que nos fez irmãos! Rogai pela Igreja, pela humanidade e fazei que, enfim, tenhamos paz e salvação!”
ORAÇÃO
Ó Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o autor da vida. Amém!
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