sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CORREIO MFC BRASIL Nº 295



COMEMORAR OS 50 ANOS DO CONCÍLIO
Pedro A. Ribeiro de Oliveira - Sociólogo

O verbo "comemorar” significa "juntar-se a outras pessoas para fazer a memória” e traz implícito o sentimento de alegria que perpassa esse encontro. E disso se trata: trazer para o tempo atual aquele grande evento de meio século atrás. Habitualmente se identificam os concílios pelo local – e não pela época – de sua realização. Mas no caso desta comemoração é muito mais importante datar o evento do que sua localização na cidade-estado do Vaticano. Neste breve artigo quero destacar seu caráter de mudança de época.

O
s anos de 1945 a 1973 ficaram conhecidos como "anos dourados”, porque entre o término da guerra e a primeira crise do petróleo o desenvolvimento das forças produtivas provocou profundas transformações sociais, culturais e políticas em todas as partes do mundo. É nesse contexto que se inscreve a grande reunião do episcopado católico, a pedido dos Papas João XXIII e Paulo VI, para "colocar em dia” a Igreja Católica nesse mundo que iniciava seu processo de globalização.

Por mais que a "tradição dos Pios” (1) ainda fosse hegemônica entre o clero encastelado nas cúrias eclesiásticas, já era evidente seu anacronismo diante do mundo moderno prestes a entrar na revolução cultural que eclode em 1968.

As pesquisas sócio-religiosas apenas confirmavam o que qualquer pessoa atenta aos fatos podia observar: a crescente desafeição dos fiéis pelas normas e doutrinas em vigor na Igreja católica romana. Foi o abalo institucional provocado pelo caráter ecumênico do concílio que permitiu seu diálogo com a modernidade.

O concílio foi ecumênico não só por reunir bispos de todo o mundo – inclusive estadunidenses incapazes de se expressarem em latim – quanto por seu espírito de abertura a outras Igrejas cristãs. A velha cúria romana, que se via e era vista como indispensável ao Papado – e, por conseguinte, à unidade da Igreja universal – de repente se vê ultrapassada pela colegialidade episcopal. A aliança estratégica formada pelos "padres conciliares” em sintonia com o papa derruba a fortaleza da cúria romana e faz avanços notáveis no campo teológico, bíblico, litúrgico e sociopolítico. Foi como um arado que desmancha os restos da antiga plantação ao preparar o terreno para nova semeadura. E assim, passados apenas três anos, novos campos estavam semeados e já começavam a frutificar.

As Igrejas da América Latina e Caribe receberam os frutos do Concílio ecumênico não somente para saboreá-los, mas também para deles tirarem novas sementes a serem plantadas em seus campos. Eram tempos difíceis, marcados por ditaduras militares, violações de direitos humanos, resistência armada e, principalmente, o esmagamento dos direitos dos pobres. A assembléia episcopal de Medellín, em 1968, traça as diretrizes pastorais que adaptarão aquelas sementes aos solos de Nossa América. Em pouco tempo elas desabrocham num novo modo de ser Igreja(2) que engloba as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais sociais e as Conferências episcopais; a teologia que lhe serve de fundamento será conhecida por sua proposta de Libertação face às estruturas opressoras em vigor em nossas sociedades; enfim, a explicitação da opção preferencial pelos pobres – presente já na própria convocação do Concílio – vem completar o quadro estrutural desse catolicismo recomposto desde suas fontes neotestamentárias rejuvenescidas pelo Concílio de 1962-65.

Quando tudo indicava que a Igreja católica, renovada desde dentro, partiria em missão no mundo conturbado pela "guerra fria” para proclamar a boa nova da Paz com Justiça, ocorre o inesperado retorno da antiga aliança entre o Papa e a Cúria Romana, enfraquecendo-se a colegialidade episcopal universal e o ecumenismo. Com efeito, apesar de afirmarem sua adesão à teologia consagrada pelo Concílio, os dois últimos papas governaram a Igreja como se lhes bastasse o apoio das congregações romanas. Nesse contexto, as Igrejas particulares que seguem levando em frente às propostas do Concílio se vêem marginalizadas por Roma, como se não fossem, também elas, concretizações legítimas da mesma Igreja católica.

É, portanto, muito oportuno – e muito bom! – promover encontros e reuniões onde se torne presente, ao fazer-se a memória, o evento do Concílio Ecumênico de 1962-65.

Notas:
(1) Uso a expressão de J. B. Libanio para referir-se ao catolicismo em vigor desde Pio VI até Pio XII (1775-1958).
(2) Essa expressão foi usada no documento nº 25 da CNBB sobre as CEBs (1982, 5). Sua recepção nas próprias comunidades foi tão boa que se tornou como que o seu lema até os dias de hoje.

UMA ADVERTÊNCIA SÉRIA: OS RISCOS DA CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA

Com pedido de desculpas ao autor e ao jornal pela reprodução deste artigo sem permissão formal. Trata-se de advertência oportuna, na linha deste Correio. Agradecemos ao autor e ao jornal.

É LUXO SÓ
Luiz Fernando Veríssimo - (O GLOBO – 16/09/2012 – pág. 19)

V
á entender. Em meio à crise financeira que assola o mundo, o único comércio que cresce e prospera é o de artigos de luxo. As grandes grifes nunca venderam tanto, publicações caras dirigidas a um público com sobra de dinheiro se multiplicam e tem cada vez mais gente comprando jatinhos executivos para combinar com seus iates.

A compulsão do consumo conspícuo é tamanha que criou um problema inédito: como inventar coisas que se destaquem, pela exclusividade, num mercado em que o luxo se banaliza rapidamente e em que os donos de Mercedes último tipo são obrigados a andar com um adesivo que diz: “Meu outro carro é um Lamborghini”?

O uísque Johnny Walker é um exemplo desta busca incessante pelo cada vez mais exclusivo. Na sua forma original e acessível tinha o rótulo vermelho. Depois lançaram o Johnny Walker rótulo preto, mais caro e supostamente melhor.

Depois veio o rótulo azul, ainda mais caro e melhor que o preto. Depois o rótulo verde, uma depuração do azul. E agora existe o Johnny Walker rótulo ouro, feito para pouquíssimos – mas dizem que vendendo bem.

Outro problema trazido pelo luxo banalizado é o que dar para o homem que tem tudo. Pode-se imaginar a angústia da mulher do homem que tem tudo à procura de um presente para lhe dar de aniversário. Um Porsche? Ele já tem dois. Um helicóptero? Muito barulhento. E então ela descobre uma solução. Uma coisa pequenina, mas que certamente nenhum dos amigos dele tem. Um cortador de pelinho de nariz feito de prata, que ela pede para ser personalizado com as iniciais dele.

Dizem que a sugestão de Maria Antonieta para que os pobres comessem brioches se faltasse pão apressou a Revolução Francesa. Não se pode imaginar que a notícia da existência de um cortador de pelinho do nariz prateado vá provocar uma reação popular parecida. Mas quem sabe se o cortador do pelinho prateado não seja o limite?

DIFICULDADES DOS PAIS NA TRANSMISSÃO DA FÉ

A frustração dos pais cristãos acontece porque o que se transmite como se fora a fé, além da inadequação da linguagem, nada mais é que um conjunto de obrigações e prescrições sobre algumas práticas religiosas e comportamentos morais. Passa-se, com frequência uma visão deformada do Deus da Bíblia, Deus severo e vigilante, que toma conta dos nossos atos e nos castigará por nossas faltas.

Mas também benevolente, que premiará a obediência aos pais (funcionando muito convenientemente como auxiliar dos pais na educação dos filhos...).  Ou um Deus provedor, quebra-galhos, que resolverá magicamente todos os nossos problemas.
A essência da fé cristã, então, por esse despreparo dos pais, não é revelada aos filhos. Trata-se de compreender que essa essência quase sempre obscurecida é o assumir, pelo batismo e sua confirmação, a responsabilidade de empenhar-se na edificação do Reino de Deus, na história humana. Isto se faz através das práticas concretas de promoção da justiça e do amor, da solidariedade e da partilha, do respeito absoluto à dignidade da pessoa humana, da superação de toda exclusão e discriminação social. E através da construção de uma sociedade fraterna e igualitária que prefigure, aqui e agora, a vida eterna prometida: "Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu”.

(De “Descomplicando a fé” (Paulus Editora)
  
FRASES DE APARÍCIO TORELLI,
O BARÃO DE ITARARÉ

Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

Quando pobre come frango, um dos dois está doente.

Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

Banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

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