Dom Alberto Taveira Corrêa |
Leve
consigo Maria para caminhar seguro
Dom
Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo
de Belém – PA
U
|
ma
pessoa do porte do Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, bate à porta do coração de
milhões de pessoas, beija crianças, toma chimarrão no meio da multidão, tem em
sua história diálogos com homens e mulheres de convicções diferentes, manda uma
mensagem aos muçulmanos pelo final do Ramadã, abrindo portas para uma
convivência respeitosa e construtiva; conversa sem rodeios com jornalistas que
lhe fazem perguntas aparentemente incômodas, sem ceder em seu compromisso com a
verdade e em sua fidelidade à Igreja. É o mesmo Papa que chama por telefone um
fiel que perdeu um irmão num assalto, na Itália, ou visita de surpresa os
operários do Vaticano em seus postos de trabalho!
Com
santo orgulho, podemos dizer que o Espírito Santo tomou a palavra para os
cristãos oferecerem ao nosso tempo o que existe de melhor! Trata-se de um sinal
de valores dos quais a humanidade vinha sentindo saudades. Volta à moda a
ternura e a bondade, caminhos inigualáveis para a mudança profunda. Não é
difícil entender que Deus escolhe o que parece insignificante, gestos simples
do cotidiano, para tocar no mais íntimo das pessoas.
Ao
lado de muitos gestos que revelam as opções pastorais nas quais deseja envolver
a Igreja inteira e têm edificado o mundo, o Papa Francisco tem testemunhado sua
profundidade espiritual como bom jesuíta. Chama também atenção sua profunda
devoção mariana, expressa em manifestações de religiosidade que tocam no
coração de nosso povo. Apenas eleito Papa, seu primeiro ato público foi a
visita à Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para entregar seu pontificado
a Nossa Senhora, onde voltou após a Jornada Mundial da Juventude. O Brasil
inteiro se viu ali representado quando depositou sobre o Altar nada menos do
que uma bola de futebol e uma camiseta da Jornada! No Brasil, quis visitar o
Santuário Nacional de Aparecida, confiando à proteção de Nossa Senhora os dias
que se seguiram na histórica viagem ao nosso país. No último dia da Jornada,
quando lhe entreguei uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré, era como uma
criança que ganhava um presente, perguntando-me singelamente: "É para
mim?". E beijou a imagem. As alturas do pontificado são pontes que se
constroem com a simplicidade de gestos e palavras que não precisam de
explicações!
Mais
do que as múltiplas formas com que a arte tem retratado a Virgem Maria ou os
tantos títulos com que a devoção popular a venera, sua missão há de ser
reconhecida pelo lugar que lhe foi reservado na história da salvação. O papel
de Maria na Igreja é inseparável de sua união com Cristo, que se manifesta
desde a hora da concepção virginal de Cristo até Sua Morte, Ressurreição e
Ascensão ao Céu. Maria percorreu sua peregrinação de fé, manteve fielmente sua
união com o Filho até a cruz, onde esteve de pé, sofreu intensamente junto com
Ele e associou-se ao Seu sacrifício. E foi dada pelo próprio Jesus, aos pés da
cruz, como mãe ao discípulo com estas palavras: "Mulher, eis aí teu
filho" (Jo 19,26-27). Após a Ascensão de seu Filho, Maria acompanhou com
suas orações a Igreja nascente, pedindo e acolhendo o dom do Espírito, que, na
Anunciação, a tinha coberto com sua sombra (Cf. Catecismo da Igreja Católica
964-965).
Maria
é Mãe da Comunidade que constitui o Corpo místico de Cristo e acompanha os seus
primeiros passos. Ao aceitar essa missão, anima a vida da Igreja com a sua
presença, grande sinal oferecido a todas as gerações de cristãos. Essa
solidariedade vem de sua pertença à comunidade dos remidos. Com efeito, ela
teve necessidade de ser remida, pois está associada a todos os homens
necessitados de salvação (Lumen Gentium 53). O privilégio da Imaculada
Conceição preservou-a da mancha do pecado, em previsão dos méritos de Cristo.
Como membro da Igreja, Maria põe ao serviço dos irmãos a sua santidade pessoal,
fruto da graça de Deus e da sua fiel colaboração. A Imaculada Conceição é para
todos os cristãos apoio na luta contra o pecado e perene encorajamento a
viverem como remidos por Cristo, santificados pelo Espírito e filhos do Pai
(Cf. João II, Audiência geral do dia 30 de julho).
Verdadeira
joia do ensinamento da Igreja a respeito da Virgem Maria, um Sermão do
Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella, no Século XII, aproxima de
forma admirável a Igreja, Nossa Senhora e cada fiel: "Nas Escrituras
divinamente inspiradas, o que se atribui de modo geral à Igreja, virgem e mãe,
aplica-se particularmente a Maria. E o que se atribui especialmente a Maria,
virgem e mãe, pode-se com razão aplicar de modo geral à Igreja, virgem e mãe...
Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus,
mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda. É a própria Sabedoria de
Deus, o Verbo do Pai, que aponta ao mesmo tempo para a Igreja em sentido
universal, Maria num sentido especial e cada alma fiel em particular... No
tabernáculo do seio de Maria, o Cristo habitou durante nove meses; no
tabernáculo da fé da Igreja, habitará até o fim do mundo; e no amor da alma
fiel, habitará pelos séculos dos séculos". Não é possível separar Igreja,
Maria e os homens e mulheres de fé!
Entende-se
assim porque cada discípulo verdadeiro de Cristo levará consigo Maria entre
aquilo que lhe pertence de mais precioso, para caminhar seguro, certo de que a
mãe bendita entre todas as mulheres já chegou à realização de todas as
esperanças. Profeticamente, a própria Virgem Maria anunciou que todas as
gerações a chamariam bem-aventurada (Lc 1,48). E ela é honrada com um culto
especial pela Igreja. Este culto de veneração é essencialmente diferente do
culto de adoração que se presta ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo.
Ele se expressa nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus, na Oração
Mariana, no Santo Rosário, resumo de todo o Evangelho (Cf. Catecismo da Igreja
Católica 971), e em tantas outras e importantes formas que o Espírito Santo
suscita por toda parte.
A
partir da segunda quinzena de agosto, o olhar de fé dos paraenses se volta para
o Círio de Nazaré, nossa grande Festa Mariana. Sem a presença de Maria,
falta-nos a água que nos sacia! (Cf. Nm 20,1) Com ela, já sairemos jubilosos
pelas ruas, percorrendo as casas e peregrinando pelos corações, sabedores de
que o melhor da festa é esperar por ela e prepará-la. As pessoas que
coordenarão as peregrinações levem a Palavra de Deus a todos. Nenhum ambiente
se feche para as visitas da Imagem Peregrina. Celebrem-se Círios nas mais
variadas instituições da Sociedade. Ganhem espaço os cartazes do Círio, saiam a
público berlindas, cordas, flores e procissões. Nossos sentimentos e gestos de
devoção foram reforçados e estimulados pelo Papa Francisco, ninguém menos do
que o Papa!
Ao
celebrar com a Igreja, neste final de semana, a Assunção de Nossa Senhora,
renove-se em nós a esperança, na certeza de que a última palavra da história da
humanidade pertence e pertencerá a Deus. Nenhum problema ou crise, ou mesmo os
pecados pessoais ou sociais de quem quer que seja, poderão vencer aquele que é
primeiro e o último, princípio e fim, Nosso Senhor Jesus Cristo.
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