Dom Alberto Taveira Corrêa |
"Fecunda há de ser a vida humana nesta terra"
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém – PA
D
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eus
disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para
que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos
os animais selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”. Deus criou o
ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou.
E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a
terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os
animais que se movem pelo chão”. Deus disse: “Eis que vos dou, sobre toda a
terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu
fruto com sua semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da
terra, a todas as aves do céu e a todos os animais que se movem pelo chão, eu
lhes dou todos os vegetais para alimento”... E Deus viu tudo quanto havia
feito, e era muito bom (Gn 1, 26-30).
Fecunda
há de ser a vida humana nesta terra, fecunda, esperamos, seja a própria terra,
portadora de vida e de alegria. Grávidas de realização e felicidade sejam todas
as nossas atitudes e nossos gestos.
E
por que muitas vezes nossos atos carecem da desejada fecundidade, com a qual
esperávamos frutos e consequências para o nosso bem e o bem dos outros? A esterilidade
de palavras e ações nos assusta e, ao mesmo tempo, nos provoca. Parece que não
aprendemos com a própria terra, cujo húmus é matéria orgânica depositada no
solo, resultante de decomposição de animais e plantas com a consequente
liberação de nutrientes. Só pelo caminho da humildade se desencadeia o processo
para a multiplicação de frutos na vida humana, tanto que a corrida desleal
entre as pessoas ou grupos, quando se atropelam mutuamente, suscita a terrível
sensação de tristeza e falta de sentido, infelizmente comum entre nós.
Quando
nos deparamos com a Sagrada Escritura, não é difícil perceber que ela pretende
nos persuadir do bem da humildade e nos afastar do mal do orgulho. Jesus
pronunciou estas palavras: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque
escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos
pequeninos" (Mt 11,25). Ele próprio não se apegou ao ser igual a Deus, mas
despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser
humano. Humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz! Por
isso, Deus O exaltou acima de tudo e Lhe deu o Nome, que está acima de todo
nome, para que, ao Nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo
da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor (Cf. Fl 2, 6-11).
E São Paulo introduz este belíssimo hino com palavras fortes: "Haja entre
vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus" (Fl 2,5).
Na
Parábola do Fariseu e do Publicano, o Senhor nos abre a compreensão dos frutos
da humildade e da simplicidade de vida, expressos nada menos do que na vida e
na oração de um pecador público, traidor de seus irmãos. No entanto, justamente
pelo caminho do reconhecimento da própria fraqueza é que nasce a experiência da
felicidade experimentada (Cf. Lc 18, 9-14). A virtude da humildade se expressa
na verdade do confronto entre o ser humano, com suas fragilidades e limites,
colocado diante do próprio Deus, que não o esmaga nem o destrói, mas o eleva. A
iniciativa do amor vem de Deus, que dá o primeiro passo, ao criar-nos e enviar
Seu Filho para nossa salvação. Deus não exige primeiro, mas se entrega e assim
provoca a resposta.
Diante
de Deus, a sinceridade da oração suscitará, em primeiro lugar, a gratidão e o
reconhecimento pelas Suas obras. Olhar ao nosso redor para perceber que
recebemos muito mais do que merecemos ou pedimos. Depois, ao confrontar-se com
Deus, cada pessoa descobrirá a distância entre o que recebeu e o que
efetivamente correspondeu! O publicano da parábola evangélica "ficou à distância
e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo:
Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!" (Lc 18, 13).
Mas
a humildade não para no reconhecimento das limitações. Quem se reconhece
pequeno diante de Deus dá logo o salto para a gratidão! "A minha alma
engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele
olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me
chamarão feliz" (Lc 1,47-48). O humilde é agradecido, livre, não cultiva
traumas ou complexos, mas se eleva pela capacidade de louvar e agradecer!
Diante
do próximo, a humildade é capaz de admirar, sem ciúme ou inveja, o bem que
existe no outro. Antes, é capaz de superar a percepção de seus erros e limites,
aprende a defender e ajudar as pessoas a crescerem. Vale a recomendação da
Carta aos Hebreus: "Estejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar
ao amor fraterno e às boas obras. Não abandonemos as nossas assembleias, como
alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente – tanto mais que
vedes o dia aproximar-se" (Hb 10, 24-25). Chega-se inclusive a gestos
verdadeiramente fecundos: "Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com
humildade, cada um considere os outros como superiores a si e não cuide somente
do que é seu, mas também do que é dos outros" (Fl 2, 3-14).
A
prática da humildade pede que não sejamos maiores nem menores do que somos, mas
do tamanho que somos! Vale a recomendação da Escritura: "Na medida em que
fores grande, humilha-te em tudo e assim encontrarás graça diante de Deus.
Muitos são altaneiros e ilustres, mas é aos humildes que ele revela seus
mistérios. Pois grande é o poder só de Deus, e pelos humildes ele é honrado.
Não procures o que é mais alto do que tu nem investigues o que é mais forte;
pensa sempre no que Deus te ordenou e não sejas curioso acerca de suas muitas
obras" (Eclo 3, 20-22). Só a prática cotidiana da escuta de Deus e o
discernimento de sua vontade nos conduzirá a tal equilíbrio! Para tanto, há que
suplicar: "Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança
e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que
prometeis".
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