quinta-feira, 20 de agosto de 2009


FICO DEVENDO

Em época de gripe H1N1, está assolando uma tremenda “epidemia” de conjuntivite. Um tipo estranho, rebelde ao tratamento convencional, que deve estar movimentando o comércio de colírios e enchendo de clientes os consultórios dos oftalmologistas. Na minha família não poupou ninguém (exceção a Bubú, minha sogra, que continua com uma saúde irritante – risos).
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Acredito que seja viral, mas não tenho certeza, tampouco competência para dar esse diagnóstico.
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Venho tratando a minha, pelas receitas de minha filha Annelise. O Nairo (oftalmologista familiar), já deve estar cansado da presença de membros da família em seu consultório. O pior ainda é que ando pegando carona nas suas receitas. Todas às vezes que minha filha vai para uma consulta, ligo em seguida para ela no intuito de saber a conduta para poder atualizar a minha prescrição. Depois, vou ter que comparecer ao consultório dele para passar o cartão da Unimed.
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Na segunda-feira não trabalhei. Como havia viajado na sexta-feira, a agenda que já estava confusa ficou pior ainda. Na terça-feira (um pouco melhor) resolvi voltar a atender minha clientela. Como estratégia, para evitar a disseminação do “vírus”, adotei uma conduta de não cumprimentar aos pacientes que chegavam.
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Foi um dia muito estranho. Um atendimento frio sem o contato de mãos. Embora repetisse para todos que chegavam que não estava estendendo as mãos para protegê-los, sempre sobrava (no final do atendimento) uma mão estendida. Mão estendida sem resposta configura uma frieza imperdoável. Um até me disse: “eu pensei que médico não adoecesse”.
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O pior mesmo foi um dos últimos atendimentos de ontem à noite. A cliente foi uma senhora, que morou na Rua do Sopapo onde nasci. Um filho dela, amigo de infância que também é meu cliente, a trouxe para uma consulta de rotina. Estava assintomática nos seus 90 anos.
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Mais do que para uma consulta, ela veio me ver. Desejava saber como eu estava e como andavam meus irmãos (os filhos de dona Anita). Não sabia da morte de meus pais. Foi uma verdadeira volta ao túnel do tempo. Ela com uma saúde invejável (melhor que minha sogra, coisa que imaginava impossível). A única coisa que não andava bem nela era a audição.
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Ao chegar, estendeu a mão, e, por mais que eu e seu filho tentássemos explicar que não iria corresponder àquela atitude, ficaram sobrando as “mãos estendidas”. Ao examiná-la, notei que seu coração batia apressadamente, sinalizando a emoção de rever um moleque de rua que se tornou médico.
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Na saída, outra tentativa de apertar a minha mão. Dessa vez, falei alto, explicando porque não corresponderia, e agora pareceu que ela (embora muito triste) tivesse entendido. Finalizei dizendo-lhe que no retorno, para apresentar os exames, eu lhe daria um forte abraço. Desta feita fiquei devendo o que ela mais queria (além da consulta), festejar um reencontro de mais de 50 anos pelo menos com um aperto de mão.

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