HOMENS E MULHERES GENETICAMENTE PROGRAMADOS PARA O ADULTÉRIO?
"O adultério é um imperativo genético. Trair está nos genes de homens e mulheres", afirma a pesquisadora Helen Fisher (Vip Exame, junho 95), depois de citar inúmeras pesquisas desenvolvidas em diferentes sociedades. Você concorda com ela? Não estarão fazendo essa confirmação aqueles que insistem em proclamar que os homens são todos iguais e, cedo ou tarde, vão trair suas mulheres? Ou - e aqui está a novidade - que a mulher de hoje também trairá seu marido?
A FIDELIDADE É HUMANAMENTE POSSÍVEL
Segundo nosso ponto de vista, e a de um sem número de pensadores, a fidelidade no casamento é humanamente possível e não se põe apenas como uma questão genética. Ela pode até não ser uma decorrência da natureza biológica, entretanto, já vão longe os tempos em que a filosofia tomava o acordo com a natureza como critério para definir o que era bom para a humanidade. A fidelidade é algo mais abrangente e depende de uma decisão, de uma promessa que se insere permanentemente na história de dois seres humanos. Cabe ao homem e à mulher decidir se vão, ou não, praticar a monogamia, e essa escolha não pode ser unilateral, ela precisa ser tomada pelos dois parceiros, antes e durante o casamento.
Entre os humanos, é a cabeça que decide o que os genitais vão fazer, e não o inverso. Os parceiros tomam a decisão de serem fiéis um ao outro e depois a põem em prática tomando uma série de outras decisões durante o caminho. Não como um jugo que lhes é imposto, privando-os da liberdade, mas como a suprema realização da liberdade responsável. A fidelidade fica difícil se você decidiu conceder-se exceções quando a atração por uma outra pessoa ou a raiva pelo cônjuge forem particularmente intensas.
A infidelidade, nesse sentido, é uma quebra de confiança, é a traição de um relacionamento. Pode-se dizer, também, que é o rompimento de uma promessa. Ou, ainda, que é uma falta de respeito ao outro. São estas diferentes perspectivas que permitem entender como a infidelidade pode estar presente dentro do próprio casamento, mesmo que nunca tenha acontecido uma relação sexual fora do casamento: por exemplo, uma mentira ou um segredo guardados com a tentativa de desorientar o parceiro significam uma traição, tornando-se assim uma infidelidade.
Toda quebra de confiança é uma quebra de fidelidade. Percebe-se, então, que a fidelidade abarca mais que a sexualidade genital: ela envolve a relação homem-mulher na sua globalidade. Grandes infidelidades podem decorrer de pequenas infidelidades.
POR QUE UNS TRAEM E OUTROS NÃO?
Biologia é uma parte importante de nós, como também é fundamental o que em nós chamamos de "livre escolha". Podemos escolher. Há culturas em que mais de 60 % das pessoas diz "não" ao adultério e a mesma percentagem diz "não" ao divórcio, hoje fácil de se obter. O ser humano é um animal que pode prometer, dizia um grande filósofo.
Os parceiros que não sucumbem à tentação da infidelidade têm, certamente, motivos para isso: A fidelidade vista em sua globalidade, permite a continuidade da relação. Sem continuidade não haveria a possibilidade do crescimento e amadurecimento do casal. As dedicações pessoais, o amor e a amizade só podem ser aperfeiçoados na continuidade. Quem troca de parceiro tem de recomeçar sempre, além da sensação de perda de vínculo.
O amor, por sua vez, nasce da relação e cresce na medida em que melhora a relação. A fidelidade seria uma exigência intrínseca ao amor. É nesta perspectiva que a fidelidade até a velhice encontra sentido. Com a idade, certamente, diminuem a paixão e o desempenho genital, mas não diminuirá o desejo de ser tocado, abraçado e acariciado.
Para um casal cristão, além de todos os motivos citados, há uma mensagem de Jesus lembrando que até pelo desejo se pode ser adúltero. Jesus, que nos queria humanos, sabia da importância da fidelidade para a realização pessoal dos parceiros de um casamento. Contudo, seria empobrecedor viver a fidelidade no casamento apenas por dever, pela necessidade de cumprir um mandamento: "Não separe o homem o que Deus uniu" (Mc 10,9). A fidelidade, pensada e vivida em suas diversas faces, permite ao homem e à mulher serem realizados e éticos, imagens e semelhanças de Deus-Trindade. A união definitiva na fidelidade traz em si, necessariamente, uma dimensão religiosa. Os seres humanos são capazes de aceitar-se mutuamente de um modo tão definitivo e incondicional, unicamente pelo fato de que já foram, por sua vez, definitiva e incondicionalmente aceitos por Deus. A fidelidade humana é como se fosse uma música com a qual continuamente lembramos ao mundo a fidelidade de Deus revelada definitivamente em Jesus Cristo.
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