Celebramos, hoje, o DIA DA BÍBLIA e, na Liturgia deste domingo, percebemos, através da Palavra de Deus, um alerta à sociedade de consumo que não se preocupa com a ruína do povo. Infelizmente, é a pura verdade, pois, a impressão que se tem, é que a grande maioria da população não se preocupa com a realidade em que vive. Nesse sentido, como profetas, devemos exortar a todos os cristãos a estar sempre atentos para não serem enganados pelas falsas seguranças. Como Igreja, devemos buscar fazer a nossa parte, porém, se não somos ouvidos, é porque ainda não somos melhores, Temos que procurar ser autênticos à medida que nos disponibilizamos como instrumentos nas mãos de Deus. A parábola do rico e Lázaro nos aponta o caminho. Qual é a nossa opção?
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Cor Litúrgica: Verde
1ª Leitura: Livro do Profeta Amós 6,1.4-7
Salmo: 145(146)
2ª Leitura: Primeira Carta de São Paulo a Timóteo 6,11-16
Evangelho: Lucas 16,19-31
EVANGELHO
Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: - Havia um homem rico que vestia roupas muito caras e todos os dias dava uma grande festa. Havia também um homem pobre, chamado Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas, e que costumavam largar perto da casa do rico. Lázaro ficava ali, procurando matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do homem rico. E até os cachorros vinham lamber as suas feridas. O pobre morreu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão, na festa do céu. O rico também morreu e foi sepultado. Ele sofria muito no mundo dos mortos. Quando olhou, viu lá longe Abraão e Lázaro ao lado dele. Então gritou: "Pai Abraão, tenha pena de mim! Mande que Lázaro molhe o dedo na água e venha refrescar a minha língua porque estou sofrendo muito neste fogo!"
- Mas Abraão respondeu: "Meu filho, lembre que você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só recebeu o que era mau. E agora ele está feliz aqui, enquanto você está sofrendo. Além disso, há um grande abismo entre nós, de modo que os que querem atravessar daqui até vocês não podem, como também os daí não podem passar para cá."
- O rico disse: "Nesse caso, Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento."
- Mas Abraão respondeu: "Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem!"
- "Só isso não basta, Pai Abraão!", respondeu o rico. "Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles, aí eles se arrependerão dos seus pecados."
- Mas Abraão respondeu: "Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite."
COMENTÁRIO
Esta parábola do Evangelho de Lucas é uma contundente denúncia da sociedade dividida entre ricos e pobres onde, de um lado, um homem rico (anônimo), com roupas finas e elegantes, banqueteando-se; do lado de fora, o pobre Lázaro, cheio de feridas e faminto.
Estas duas imagens nós as vemos diariamente, nos pobres que pervagam nas ruas e nos ricos em seus carros último modelo ou nas novelas da televisão. Com outro olhar, podemos ver Lázaro entre os vivos acolhidos por Deus, e o homem rico na região dos mortos, no meio dos tormentos. há um abismo entre ambos. De imediato, o texto dirige-se aos fariseus e às ricas elites do Judaísmo. Estes ricos não acreditaram nos profetas que anunciavam o projeto do Deus de amor, que é o resgate e a libertação dos pobres oprimidos e excluídos. E também não acreditaram no próprio Jesus, que, testemunhando o amor, venceu a morte imposta por eles.
Dentre os profetas, é Amós o mais contundente na denúncia da riqueza (primeira leitura). Ele associa Davi àqueles que levam a vida com todo o gozo que a riqueza lhes proporciona. Pela fé, fomos chamados ao seguimento de Jesus, em comunidade, na justiça, na piedade, na caridade, na constância, na mansidão (segunda leitura), que nos inserem na vida eterna.
Mas, não é só isso que podemos focar na reflexão deste vigésimo sexto domingo. Não. Há muito mais para ser dito. Infelizmente, não podemos mencionar tudo que queremos, mas, com certeza, cabe aqui centenas e centenas de casos semelhantes, pois nossas realidades não são as mesmas.
Percebemos que a primeira leitura é o seguimento da leitura do domingo anterior, onde Amós dá continuidade às denúncias decorrentes da prática das injustiças de seu tempo, marcadas pela mentira, enganos, falsidades e falcatruas dos administradores desonestos que acumularam riquezas à custa dos ignorantes, pobres e infelizes, dos analfabetos políticos que não conseguem enxergar as maldades implícitas nos corações de pessoas às quais podem ser denominadas de “lobos vestidos em pele de cordeiros”.
Hoje, muitos dos que se dizem cristãos, se entregam a esses tipos de facilidades. Todos, em sua maioria só pensam em levar vantagens e, para conseguir o que desejam, se vendem e se deixam corromper por propostas inescrupulosas, chegando ao ponto de trair a própria consciência e, até mesmo, o próprio Deus e seu Projeto de vida para todos.
Escrevendo a Timóteo, Paulo exorta-o a combater o bom combate da fé, frisando que a conquista da vida eterna passa pelo testemunho diante dos homens. Assim, somos convocados, como cristãos, a lutar contra as injustiças e todas práticas ilícitas de quem quer que seja. Somos exortados a construir um mundo mais humano onde não haja “ricos e Lázaros”, onde não haja mais riquezas que beneficiam uma minoria em detrimento da grande maioria de seres humanos que representam a classe dos infelizes que mendigam pelo pão da Justiça.
No evangelho, Lucas nos mostra que Lázaro era um homem cheio de feridas e que vivia no chão à porta dos ricos. Deste modo, podemos afirmar que, nos dias de hoje, a prática da injustiça é marcante, porque nossa realidade é caracterizada por aqueles que, feridos em suas dignidades de seres humanos filhos de Deus, vivem rastreando-se em busca de pão, de atendimento médico, de moradia, de educação, de emprego e de tantas outras coisas necessárias à vida plena determinada por Deus.
Enquanto isso, os que se dizem representantes do povo, utilizam os privilégios de seus cargos para promoveram ainda mais as situações de morte pelas vias das ações ilícitas, que provocam a morte dos filhos de Deus, enganados no que possuem de mais sagrado na essência de seu ser, ou seja, a dignidade de ser humano, porém, desumanizados., vítimas dos ricos de ontem e de hoje. A maioria do povo são os Lázaros de hoje, outrora referenciados pelo próprio Jesus, que nos afirmou que sempre teríamos pobres em nosso meio. Mas, por que ele afirmou isso? Porque ele conhecia profundamente os corações dos homens. Porque há uma grande tendência do homem em desviar-se do caminho proposto por Deus. Há uma grande tendência de o homem assassinar a si próprio e à sua consciência quando se entrega à riqueza e às luxúrias deste mundo.
A parábola de Lázaro e do rico epulão é um alerta para todos nós que somos cristãos. É um alerta para que estejamos atentos à realidade na qual estamos vivendo. É um alerta que nos diz que não devemos ser individualistas e, muito menos, ingênuos. É um alerta para que não venhamos a cair nas armadilhas do mundo e nem de pessoas inescrupulosas, que nos oferecem facilidades para acumularmos riquezas ilusórias e que, com certeza, nos levarão para o tormento e o suplício eterno.
Como filhos e filhas de Deus. Como cristãos que somos. Não permitamos que o mal da riqueza prevaleça sobre o bem da vida proposta pelo próprio Deus. Não podemos permitir a geração da pobreza, mas que possamos atender com fé, coragem e determinação, o chamado que recebemos em nosso Batismo: ao menos como profetas para anunciarmos a Justiça de Deus, bem como para denunciarmos todas as situações de morte geradoras da infelicidade, da indignidade e da miséria dos filhos e filhas de Deus.
Ao celebrarmos o DIA DA BÍBLIA, que possamos fazer com que a Palavra de Deus seja uma verdade em cada um de nós. Que suas verdades sejam como setas a perfurarem nossos corações para que possamos realmente colocá-las em prática. Que a Bíblia não seja apenas um objeto de decoração em nossas estantes e prateleiras, mas que seja uma realidade, um instrumento de transformação da realidade em prol do bem comum e do reino de Deus, cujo mandamento maior é a plenitude da vida para todos.
Paz e Bem a todos vós.
ORAÇÃOPai, não permitas que nada neste mundo me impeça de ver o sofrimento de meu próximo e fazer-me solidário com ele.